sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO na Caros Amigos

Vale uma olhada, sem necessidade de garimpar, folhar a Caros Amigos de janeiro de 2008 e ater-se à entrevista do Luis Fernando Veríssimo. Eis algumas pérolas:

Glauco Mattoso – Caro amigo Lufe: minha mãe, que é de Taubaté e morreu faz pouco, não acreditava em padres nem em políticos nenhum. E você?
Acho que esse é um sentimento comum, esse enfaro com políticos, depois de tantos escândalos e tanta hipocresia. E é perigoso porque acaba sendo um desencanto com a política e no fim com a própria democracia. Se fosse possível haver política sem políticos... Mas não dá, e o jeito é confiar nos políticos sérios e capazes que ainda existem. (...) Quanto aos padres, deixei de acreditar há muito tempo. Fui criado como católico, fiz primeira comunhão e tudo, mas o lado do meu pai, que era agnóstico, foi mais forte.

Vínicius Souto – O senhor disse certa oportunidade a célebre frase: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. Diante disso, como enxergar a atuação das mídias independentes frente à grande imprensa? Acredita na efetividade delas na descoberta nacional além da penetração nos vários setores da sociedade?
O fato de hoje haver liberdade formal de imprensa no país como não existia na ditadura complicou um pouco as coisas, pradoxalmente. Naquele tempo, imprensa alternativa era a que, mesmo disfarçadamente, criticava a situação, hoje imprensa alternativa é a que não faz coro com a implicância quase unânime da grande imprensa com a situação. E o fato de você, em tese, poder escrever o que quiser em qualquer jornal tira um pouco do atrativo da imprensa independente, que não tem o apelo da coisa meio clandestina como tinham o Pasquim e o Opinião, por exemplo. Mas, pelo que sei, publicações como a Caros Amigos e a Carta Capital estão com boa penetração, e destoam com competência do coro dos grandes.

Marcos Zibordi - Você compartilha da opinião quase unânime de que o presidente Lula é analfabeto e precisa ler?
Olha, com algumas exceções, com o Costa e Silva, que confundia latrocínio com laticínio, fomos sempre governados por homens letrados, muitos deles intelectuais de nome, que conseguiram construir o país mais desigual e injusto do mundo sem cometer um erro de concordância.

Ana Luiz Moulatlet – O senhor acha que as grandes utopias acabaram, que o messianismo chegou ao fim? Há uma causa pela qual o senhor lutaria hoje?
Gosto daquela frase do Chesterton segundo a qual quando as pessoas deixam de acreditar em Deus não passam a acreditar em nada, passam a acreditar em qualquer coisa. As grandes utopias sociais acabaram, ou estão em recesso, mas o mais preocupante no mundo de hoje é o que as pessoas estão dispostas a acreditar, por mais irracional ou primitivo que seja. Há uma retribalização da humanidade em curso e a guerra entre os monoteísmos é apenas uma das evidências disso. As utopias pleo menos pressupunham um desejo de organização social pela razão, ou pelo altruísmo, mas o desejo dominante hoje parece ser o de embotamento da razão por um sentimento tribal, qualquer sentimento tribal. A causa pela qual vale a pena lutar é uma idéia de sociedade, daquilo que a Margaret Thatcher dizia que não existe, uma idéia de comunidade e justiça compartilhadas, acima das ambições individuais e da moral do mercado. (Excertos Caros Amigos- Entrevista, janeiro/2008 pg.26/33 – Um solo delicioso.)

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