sexta-feira, 16 de maio de 2008

Por que vivemos, se temos de morrer?

Por que vivemos, se temos de morrer, isto não sei responder em definitivo. Só sei que em toda parte no mundo, a vida está ligada com a morte. Não há vida sem morte, nem entre os animais e nem entre as plantas. Também nós, seres humanos, participamos dessa realidade; nós também vivemos sob a lei da morte e do renascimento. Nossa vida é finita. Não podemos fugir disso, apesar de todas as tentativas da ciência de postergar a morte. A questão é como lidar com isso. Se aceitamos que nossa vida é finita, então isto dá ao tempo vital que nos está disponível um valor especial.
Nossa vida é única. Pos isso devemos vivê-la cuidadosamente. A arte da vida consiste em integrar a morte em nossa vida e, dessa forma, viver mais intensamente. A morte nos convida a sentir o mistério da vida e estamos agora, neste instante, totalmente presentes. Quando penso na minha morte, sou estimulado por este pensamento a viver conscientemente, a dizer as palavras que há muito queria ter dito, a escrever aquilo que corresponde de fato ao meu íntimo e de fazer aquilo que acho ser minha tarefa no mundo. E não viverei inadvertida e descuidadamente por aí, mas vou degustar cada momento com muito apreço. Sinto, na perspectiva da morte, o gosto pela vida. Quando todo dia pode ser o meu último, não vou desperdiçá-lo inutilmente.
Quando a morte é o limite da minha vida. Todo o limite tem dois lados, o aquém e o além, que se completam pela separação. A morte é o limite que me convida a viver consciente e intensamente dentro dos limites. Mas é também o limite que eu ultrapasso e que me conduz da limitação da minha existência condicionada por uma série de restrições históricas para uma nova amplidão. No ultrapassar desses limites, não morro para o nada, mas para a plenitude da vida, para dentro de Deus. Portanto, minha morte não é só fim, mas também um novo começo, uma transformação desta vida, a satisfação de meu desejo mais profundo... (GRÜN, Anselm. O livro das respostas. Ed. Vozes, RJ, p.63/64 - Grün é monge beneditino da Abadia de Münsterschwarzach (Alemanha). Tem seus livros poblicados em 28 línguas)

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