segunda-feira, 24 de novembro de 2008

FOFOCA, UMA ERVA DANINHA


IVO LIMA
Não receio as vozes alheias das gentes dissimuladas,
que lançam indignos rumores.
(...) Não me intimidocom os pensamentos perversos,
das mentes desocupadas...
Isabel Rosete (filósofa e poeta portuguesa)
Quem já não sofreu na própria pele os efeitos devastadores e, às vezes, quase irreparáveis da fofoca em sua vida?
A fofoca é como uma erva daninha, que se espalha rapidamente, percorre um longo espaço, feito um rastro de pólvora, e consegue atingir o seu alvo com precisão de mira dos atiradores de elite. Quando bate na pessoa com toda sua força e capacidade de destruição, costuma espalhar mal-entendidos, causar malquerença e jogar por terra amizade, reputação, confundindo todo mundo, porque visa criar somente sofrimento, embaraços e infelicidade.
Os ambientes das corporações que o digam. Quantos problemas são gerados por causa da fofoca, porque ela percorre a pista da má-fé, foge da sinceridade, como o diabo foge da cruz, vive de braços dados com a maldade, detesta a transparência e a honestidade, porque prefere criticar os semelhantes de forma apenas destrutiva.
Ao adotar o diz-que-diz-que, privilegiar o boato em vez do fato, a fofoca adora fazer intrigas, ver o circo pegar fogo e sua vítima sofrer com a descrença e a desconfiança. Ela pouco liga se seu veneno aleija, mata ou causa um outro dano, uma vez que não tem nenhum compromisso com a felicidade de ninguém. O que ela mais gosta é de se regozijar com a desgraça alheia, soltando gargalhada com cinismo e dando uma de desentendida quando é procurada para dar explicações de suas ações malignas.
Muitas vezes, no seio da própria família, a fofoca consegue proezas, colocando o esposo contra a esposa, gerando desconfiança; os pais contra os filhos; os filhos contra os pais e parentes se transformam em inimigos ferozes. Até se conseguir reparar o mal com gosto de fel, reconstruir os fatos, encontrar o fio da meada para esclarecer o que realmente se passou, ter a posse da verdade, a fofoca já saboreou o banquete da desavença pela maldade e pela dor que provocou em suas vítimas.
Diante desse monstro disfarçado, de sorriso falso, tapas nas costas para esconder as garras felinas, qualquer proteção está sujeita a virar pó de traque e não impedir que os tiros da maldade façam grandes estragos e provoquem muito aborrecimento, quando não causam algo mais grave ainda.
Portanto, já que essa erva daninha está solta dentro da própria casa, nos ambientes de trabalho, nos espaços de lazer, nas escolas, nos partidos, nos sindicatos, nas igrejas e até no recôndito do inferno, é preciso redobrar os cuidado com as conversas soltas de qualquer jeito, com atitudes e ações assentadas na ingenuidade e na falsa crença de que todo mundo é bom e quer o nosso bem. Se não devemos alimentar a idéia de que todo mundo é mau, caindo na total descrença sobre o ser humano, também não convém posar de ingênuos perante a realidade e as pessoas. Essas legiões de fofoqueiros formam suas “igrejinhas” em cada esquina, para compartilharem das derrotas que conseguirem impor aos seus semelhantes e ainda contam vantagens por embarcarem nessa carruagem dos maldosos, já que lhes falta algo mais interessante a ser feito na vida. Se comprazem com o descontentamento dos outros, fruto de suas palavras cortantes, insinuações maldosas e ações arquitetadas na calada da noite ou à luz do dia com requintados disfarces.
Por isso, fiquemos muito atentos e de olhos bem abertos diante dessa corja de mexeriqueiros e causadores de discórdia entre as pessoas.
Mas é necessário, também, termos a capacidade de fazer a própria autocrítica, todas as vezes que cairmos na ciranda dos fofoqueiros e provocarmos estragos na vida alheia, porque só assim aprenderemos a agir com sinceridade, honestidade com nós mesmos e com aquelas pessoas que tomam parte de nossa vida na esfera privada e pública.
Ninguém está livre de ser arrastado por esse dragão que ronda a todo instante nossas vidas, com a intenção de aumentar o clube dos fofoqueiros em todo tempo e lugar.
Vigiemos, sempre!
Ivo Lima é professor de Filosofia e escritor.

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