quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Vamos discutir diferenças sociais


João Batista de Medeiros
GERONTÓLOGO SOCIAL


Participando de um bom papo com amigos, ouvi um relato interessante, que passo aos leitores: Um jovem e sua esposa, junto de outro casal, compareceram a uma festa na mansão do dono da empresa onde os dois trabalhavam.


Os dois casais cometeram tantas gafes, pagaram tantos micos, que a certa altura do evento, resolveu ficar bem longe do grupo de diretores e dos parentes do milionário aniversariante.


Finquei penalizado, pois foram situações hilárias, mas ao mesmo tempo tristes, mostraram a enorme diferença intelectual e financeira entre os dois casais de humildes servidores e os poderosos da festa.


Lembrei daquela história em que um penetra sofreu vexame em uma festa de ricos.


Contei para os amigos o caso de um cara que vivia sonhando em participar de uma festa de ricos.


Teria acontecido mais ou menos assim:


– O Ponciano, com seus 35 anos, sem nenhum polimento intelectual e poucos recursos financeiros, conseguiu ser convidado, através da compra de um convite adquirido por um bom preço de um dos empregado da casa.


Na noite da festa, chegou à mansão, estacionou o seu Fusca em uma vaga longe dos carrões dos outros convidados. Todo empertigado apresentou-se ao porteiro, para quem entregou o convite, que foi examinado minuciosamente assim como as indumentárias do convidado.


Depois de alguns minutos, chamou um empregado e determinou que o acompanhasse até o salão de convidados, um ambiente decorado com belas obras de arte, e móveis condizentes com a fortuna dos anfitriões.


Mais de uma hora se passou e o Ponciano encontrava-se absolutamente solitário, apesar do local estar repleto de gente.


Até os garçons passavam rápidos por ele, o que impedia de servir-se dos finos canapés conduzidos em bandejas de prata.


Após várias tentativas, finalmente conseguiu apoderar-se de uma generosa dose do que ele chama de Uísqui.


Com o copo na mão, aproximou-se das obras de arte expostas na parede muito iluminada. Admirado e surpreso, imaginando o porquê dos ricos gastarem tanta "grana" comprando obras de difícil entendimento, e de, na opinião dele, muito mau gosto.


Após algum tempo ali, absorto em pensamentos consumistas, uma senhora de meia idade aproximou-se e perguntou:


– É a primeira vez que o senhor comparece a uma festa aqui?


– Sim. Recebi o convite através de um amigo desta família.


– Como o senhor está se sentindo? Está gostando?


– Bem – pigarreou, meio sem jeito – para ser franco com a senhora, depois que fui recebido na porta pelo mordomo, a primeira pessoa que se aproximou de mim foi à senhora...


Como a mulher não continuou o assunto, já aflito tentou conversar:


– Lindos quadros estes! Verdadeiras obras de arte - sentenciou procurando demonstrar erudicidade quanto às artes expostas.


– Concordo plenamente com o senhor – falou baixinho após ingerir um belo gole de Campari.


Desesperado para manter a rica senhora ao seu lado, exterioriza a sua cultura:


– Aliás, nem todos os quadros daqui podem ser classificados como de grande valor artístico. Por exemplo, aquele ali, que retrata uma velha com cara de poucos amigos, e que mais parece uma bruxa da idade média...


– Cidadão! – quase gritando e olhando com fisionomia alterada - aquela senhora é minha mãe quando tinha 60 anos!


Percebendo a gafe, procurou remediar:


– Perdão, senhora. Deixe-me olhar mais de perto – e como se fosse completamente míope, admira o retrato, e com voz fraca balbucia:


– Engraçado! Olhando bem de pertinho percebe-se que é uma pessoa simpática, até bonita!
Quando olhou para trás, procurando a interlocutora, ela havia sumido.


Percebendo o enorme erro que cometera ao tentar participar de uma festa de gente muito rica, onde claramente lhe foi mostrado que não era bem-vindo, pálido de vergonha, moveu-se nos calcanhares e caminhou apressado em direção à porta de saída.


O mordomo, que guardava a porta de entrada e saída, fez de conta que não o havia notado, afasta-se para uma distância suficiente a fim de que o intruso possa sair.


O penetra estava com tanta pressa em fugir do vexame, que só se deu conta de que ainda estava com o copo de uísque na mão, quando tentou abrir a porta do carro.


Tomou o último gole da bebida, jogou o gelo fora, colocou o copo em cima do meio fio da calçada, olhou para o palacete iluminado feéricamente, balançou a cabeça e entrou no carro. Com gestos bruscos, fechou os vidros e gritou a plenos pulmões:


– Ricos egoístas! Vou voltar a estudar, me formar, ganhar muito dinheiro, e farei tudo para provar que não é o dinheiro que torna o possuidor dele uma pessoa que respeita os seres humanos, ricos, pobres, cultos ou ignorantes! Se não ficar rico igual a esses aí, pelo menos uma coisa garanto:

Nunca mais vou a festas dos ricos.


Acelerou tanto que o carro saiu cantando pneus.


Do alto dos meus 75 anos de idade, bem vividos, diga-se de passagem, só vou a festas para as quais sou convidado e que eu esteja à altura dos demais convidados.


E você, leitor, faz o mesmo?

http://ee.jornaldobrasil.com.br/reader/clipatexto.asp?pg=jornaldobrasil_117599/99692 27/11/2008

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