segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para que servem os amigos? Para uma vida mais saudável

TARA PARKER-POPE

Na busca por uma saúde melhor, muitas pessoas recorrem a médicos, livros de autoajuda ou suplementos herbáceos. Mas esquecem uma arma poderosa para combater a doença e a depressão, acelerar a recuperação, reduzir o envelhecimento e prolongar a vida: seus amigos.
Pesquisadores começam a dar atenção à importância da amizade e das redes sociais na saúde em geral. Um estudo australiano de dez anos descobriu que pessoas idosas com um grande círculo de amigos tinham 22% menos probabilidade de morrer durante o período do estudo do que as que tinham menos amigos. E no ano passado pesquisadores da Universidade Harvard relataram que fortes laços sociais poderiam reforçar a saúde do cérebro conforme envelhecemos.
"Em geral, o papel da amizade em nossas vidas não é muito bem avaliado", disse Rebecca G. Adams, professora de sociologia na Universidade da Carolina do Norte, em Greensboro. "Existem muitos estudos sobre famílias e casamento, mas muito poucos sobre a amizade. Isso me surpreende. A amizade tem um impacto maior em nosso bem-estar psicológico do que os relacionamentos familiares."
Em um novo livro, "The Girls From Ames: A Story of Women and a 40-Year Friendship" [As garotas de Ames: uma história de mulheres e uma amizade de 40 anos], Jeffrey Zaslow conta a história de 11 amigas de infância que se espalharam de Iowa para oito estados americanos diferentes. Apesar da distância, sua amizade sobreviveu à faculdade e ao casamento, ao divórcio e outras crises, incluindo a morte de uma das amigas com 20 e poucos anos. Duas delas souberam recentemente que têm câncer de mama. Kelly Zwagerman, professora colegial que vive em Minnesota, disse que quando recebeu o diagnóstico, em setembro de 2007, seu médico lhe orientou que se cercasse de pessoas queridas. Ela então procurou suas amigas de infância, apesar de morarem longe.
"As primeiras pessoas para quem eu contei foram as mulheres de Ames, por e-mail", ela disse. "Imediatamente recebi mensagens e telefonemas de apoio." Em 2006, um estudo com quase 3.000 enfermeiras com câncer de mama descobriu que as mulheres sem amigas íntimas tinham quatro vezes mais probabilidade de morrer dessa doença do que as mulheres com dez amigas ou mais. E, notavelmente, a proximidade e a quantidade de contato com uma amiga não eram associadas à sobrevivência. Apenas ter amigas era uma proteção.
Bella DePaulo, professora-visitante de psicologia na Universidade da Califórnia em Santa Barbara, cujo trabalho enfoca pessoas solteiras e amizade, nota que em muitos estudos a amizade tem um efeito ainda maior sobre a saúde do que um cônjuge ou parente. No estudo de enfermeiras com câncer de mama, ter um cônjuge não era associado a sobrevivência.
Exatamente por que a amizade tem um efeito tão grande não está totalmente claro. Amigos podem prestar serviços e buscar remédios para uma pessoa doente, mas os benefícios vão muito além da ajuda física.
Talvez as pessoas com fortes laços sociais também tenham mais acesso aos serviços e tratamentos de saúde. Além disso, a amizade claramente tem um profundo efeito psicológico. "As pessoas com redes de amizade mais fortes sentem como se houvesse algo a que elas podem recorrer", disse Karen A. Roberto, diretora do centro de gerontologia da Universidade Virginia Tech. "A amizade é um recurso subvalorizado. A mensagem constante desses estudos é que os amigos tornam sua vida melhor."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/ny0405200913.htm -Reportagem da Folha de São Paulo, 04/05/2009.

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