terça-feira, 11 de agosto de 2009

Do glamour à sarjeta

Manuel Carlos Cardoso*
Certa vez, quando o marechal de campo Montgomery disse a Winston Churchill, “não bebo, não fumo e durmo bastante. É por isso que estou 100 por cento em boas condições físicas e mentais”, o grande líder inglês respondeu: “bebo muito, quase não durmo e fumo um charuto atrás do outro. É por isso que estou 200 por cento em boas condições físicas e mentais”.
O ato de fumar já teve seu glamour, significando atração, charme pessoal, encanto e magnetismo.
Clark Gable, que dominou o mundo do cinema nos anos 30 e 40 como protagonista de filmes como E o vento levou, ao acender um cigarro levava as mulheres ao delírio.
James Dean, nos anos 50, fazia o mesmo sucesso e assim caminhava a humanidade.
Greta Garbo, certa vez, encontrou Churchill durante um cruzeiro pelas ilhas do Mar Egeu, a bordo de um luxuoso iate de um milionário e em determinada oportunidade pediu a ele que deixasse de fumar aqueles horríveis charutos. Elegantemente, o líder respondeu: sem problemas, é um grande prazer estar ao seu lado, mas este iate é muito grande, o mar e o céu são tão amplos, portanto peço permissão para ir com meu charuto para a outra ponta do barco. Naquela época, trocava-se Greta Garbo por um charuto, sem a menor cerimônia.
Entretanto, ao longo das últimas décadas, o glamour de fumar foi perdendo força e espaço e começaram as proibições.
Não se fará mais propaganda de cigarros e o homem e o cavalo de Marlboro perderam o emprego, mas ele já havia se tornado o cigarro mais vendido no mundo.Não se fumará mais em aviões, restaurantes, repartições públicas e assim por diante.
O fumante, dependente químico e psíquico do cigarro, foi aos poucos sendo segregado. Em nome da saúde pública, as proibições tinham o claro objetivo de isolar o fumante de qualquer ambiente coletivo.
Já faz alguns anos que a marcação sobre os fumantes tem sido mais dura, mais inflexível, mas agora o governador Serra resolveu radicalizar e isolar de uma vez por todas os fumantes da vida em sociedade.
Para eles não é mais permitido conviver com não fumantes e nem com os demais fumantes. Está proibido em São Paulo fumar em qualquer ambiente coletivo. Um ator, para acender um cigarro em cena, deve pedir autorização judicial, sob pena de multa.
O fumante foi literalmente jogado na sarjeta. O governador acha que o fumante é escória da sociedade, ser desprezível que incomoda e atinge as demais pessoas provocando-lhes doença de toda sorte e por isso deve ser banido da vida social.
Banido, no sentido mais literal possível. Expulso dos recintos, afastado, eliminado do convívio de quem quer que seja.
Assim pensa nosso governador. Desculpe-me, nosso não, porque sou fumante e estou segregado por ele.
A lei inventada pelo governador não dedica um só parágrafo para proteger o direito que o fumante tem de conviver socialmente. Não é permitida sequer a instalação de ambientes coletivos só para fumantes ou para fumantes e não fumantes sem traumas e neuroses.

*Manuel Carlos Cardoso é advogado e professor. Postado no CORREIO POPULAR/Campinas - 11/08/2009

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