segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A emoção em um toque

Nicholas Bakalar*


Pesquisadores encontraram indícios de que um toque pode valer mil palavras e que o contato físico fugaz é capaz de exprimir emoções específicas —de maneira silenciosa, sutil e inconfundível.
Cientistas liderados por Matthew J. Hertenstein, professor de psicologia na Universidade DePauw, em Indiana (EUA), recrutaram 240 estudantes para tocar ou serem tocados por um parceiro desconhecido, na tentativa de transmitir uma emoção específica: ira, medo, felicidade, tristeza, repulsa, amor, gratidão ou empatia.
A pessoa tocada estava vendada e desconhecia o sexo de quem a tocava. Esta era instruída a tentar transmitir 1 das 8 emoções, e os dois participantes se mantinham em silêncio. Quarenta e quatro mulheres e 31 homens tocaram uma parceira, enquanto 25 homens e 24 mulheres tocaram um parceiro. Em seguida, cada pessoa tocada recebeu uma lista com as emoções e foi instruída a identificar a transmitida.
A apreensão correta das emoções que se buscou transmitir variou de 50% a 78% —índice muito superior aos 11% previstos por acaso e comparável aos índices verificados em estudos de emoções verbais e faciais.
A maioria dos participantes escolheu determinados tipos de toque para transmitir emoções específicas. Em vários casos, as pessoas expressaram medo segurando e apertando a outra pessoa, sem movê-la. Para transmitir empatia era preciso segurar, esfregar e dar tapinhas.
Homens e mulheres se mostraram igualmente hábeis em interpretar os toques, mas empregaram ações diferentes para transmitir emoções. Os homens raramente tocaram os rostos das outras pessoas. Quando o fizeram, foi apenas para expressar raiva ou repulsa em relação a mulheres e empatia com outros homens. As mulheres, por outro lado, tocavam os rostos das outras pessoas com frequência para exprimir raiva, tristeza e repulsa para pessoas de ambos os sexos e para transmitir medo e felicidade aos homens.
As razões evolutivas desse sistema de comunicação são desconhecidas, mas os autores do estudo sugerem que ele pode ter as mesmas origens que os rituais de toques sociais de outros primatas.
“A maioria dos toques durou apenas cinco segundos. Mas, nesses momentos fugazes, somos capazes de transmitir emoções distintas, do mesmo modo como podemos fazer com nossos rostos. Trata-se de um sistema sofisticado de sinalização que desconhecíamos até agora”, declarou Hertenstein.
*Folha de São Paulo - The New York Times - 31/08/2009

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