segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mulheres da Revolução

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL*
Comemoram-se em 2009
os 220 anos do início formal da
Revolução Francesa.

Não pensemos apenas nos célebres casos de Charlotte Corday, a autodenominada patriota que matou Marat, ou nos de operárias de Les Halles que marcharam a Versalhes e trouxeram o rei e a rainha para Paris; sabemos agora, mais do antes, que a Revolução Francesa foi pontuada pela atuação de milhares de mulheres anônimas – ou nem tanto. Promoviam comícios, distribuíam panfletos, rebelavam-se nas filas do pão escasso, ajudavam a erguer barricadas. Do lado monarquista não eram menos atuantes, promovendo alianças, servindo de mensageiras entre os prisioneiros da Tulherias e, depois, prisioneiros do Templo, cozinhando para os detidos da Conciergerie, consolando os condenados à morte.
O livro O Terror, de David Andress, saído em tradução brasileira, evidencia a presença de ainda outras mulheres. Há o caso de Manon, esposa de Jean-Marie Roland, Ministro do Interior, a qual foi a verdadeira autora de uma carta-aberta que seu marido assinou e enviou ao rei, exortando-o a agir num momento em que Luís 16 mostrava-se particularmente vacilante. O documento impressiona pela firmeza: “se houver mais demora, uma população sofrida verá em seu rei um amigo [mas] cúmplice dos conspiradores”. Como diz Andress, tratava-se de uma repreensão pública e de uma ameaça. Sim, uma mulher sentir-se-ia livre para dizer essas coisas, posto que, mais do que os homens, exasperam-se com a passividade e a indecisão. Por não tomar providências, Luís pagou com sua cabeça.
Casos mais extraordinários: cerca de 40 mulheres alistaram-se como soldados – às vezes omitindo seu sexo – e participaram de batalhas. Uma delas, a Femme Favre, tornou-se capitã; Ursule Aby foi promovida a tenente, e várias eram subtenentes. Temos ainda o caso de Rose Bouillon que, deixando os filhos ao cuidados da avó e alistando-se junto ao marido, declarou que desejava “também contribuir para o fortalecimento da República”.
Muitas estavam equivocadas, mas bem menos que os homens, que levaram a Revolução ao banho de sangue do Terror. Hoje podemos pensar que se alguns desses homens tentaram impedir a participação feminina foi por vergonha de serem vistos em atividades tão deploráveis.Assim, este 2009, em tempos pós-feministas, vem-nos com belas e estimulantes descobertas num campo até agora dominado pela presença masculina. Bom para todos.
*Escritor.

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