segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teste não dá certeza, aponta tendências

Roberto Recinella*

No último século, surgiu mais um dilema shakespeariano para o ser humano solucionar e que vem se agravando com o passar dos anos, bem ao estilo de Hamlet: ser ou não ser, eis a questão.
Atualmente, milhões de jovens às vésperas de ingressarem no nível superior tentam responder a essa simples, mas enigmática, pergunta.

A verdade é que mesmo aqueles que já se decidiram profissionalmente mudam de opinião largam a faculdade e até o trabalho após formados e se aventuram em outro curso para iniciar outra carreira, às vezes totalmente diferente da anterior. Não há vergonha nenhuma em fazer isso.

São engenheiros que desejam ser psicólogos, advogados que querem ser dentistas, veterinários que pretendem ser atores e até médicos que abandonam seus consultórios para se tornarem músicos.

Na minha opinião, não existe uma regra ou receita para escolher uma carreira, do mesmo modo que não há receita para a vida ou para o casamento. Existem possibilidades e todas elas motivadas pelo coração, pela paixão de fazer o que se gosta. Mas somente essa paixão não garante sucesso – é preciso muito esforço e dedicação também!

Se compararmos a carreira com o casamento, percebemos que existem algumas semelhanças.
A primeira são dogmas sociais, as pessoas preferem ficar infelizes a trocar de casamento ou de carreira.
Segundo: somente a paixão não basta, ela termina e passamos vivenciar o dia-a-dia. Então, lembre-se de que tudo na vida tem um lado chato e na sua carreira não será diferente; nem tudo serão flores.
Terceiro: você nunca deve parar de evoluir, senão acabará tanto com a sua carreira como com seu casamento.
Como não existem fórmulas mágicas, seguem dicas daquilo que não devemos fazer:
Não ceda a pressão de seus pais e parentes, seja para dar continuidade à geração de médicos da família ou porque o sonho da sua mãe é ter um filho doutor. A carreira é sua, então a decisão também.

Competência não tem profissão, nem idade, por isso não pense em dinheiro quando for escolher sua carreira. Ele é consequência.

Não gere expectativas errôneas sobre as carreiras. Se você, por exemplo, quer ser um designer de games, procure alguém que faça isso e acompanhe seu trabalho por um período para conhecê-lo. Pesquise.

Também é fundamental saber quais são suas vocações. Todos possuem aptidões distintas que podem e devem ajudar na escolha da carreira. Procure saber quais são as suas. Para isso, procure um profissional competente para orientá-lo, pois ele é essencial nessa fase do processo. Isso facilitará a sua escolha, ajudará a descobrir as suas motivações e habilidades e, com certeza, lhe dará mais segurança, diminuindo assim as chances de uma escolha equivocada.

Testes vocacionais são válidos, mas eles apenas indicam tendências e não certezas. Além disso, em alguns casos, podem agravar ainda mais a nossa angústia se não tivermos antes feito a nossa “lição de casa”.

O que eu chamo de “lição de casa” é pegar um papel e dividi-lo em quatro partes iguais. Faça uma linha na horizontal e outra na vertical; depois, em cada quadrado, responda nesta ordem:
o que adoro,
odeio,
gosto e
não gosto.
É uma lição de autoconhecimento.

Pegue a folha e anote em cada um dos quadrantes as respostas. Por exemplo, se você odeia matemática, dificilmente será um engenheiro; por outro lado, se odeia sangue, com certeza não será um bom médico, dentista ou veterinário. Mas o simples fato de você amar música ou teatro não significa também que você tem vocação para ser um artista. O objetivo do exercício é descobrir quais são as suas motivações básicas.

Você deve ter um nível de autoconhecimento bom o suficiente que o permita responder sobre o que gosta de fazer, quais suas habilidades, o que espera do futuro, além de estar a par da situação do mercado atual.

Ao terminar de fazer isso, realize uma viagem mental, imagine-se exercendo a sua profissão pelas próximas décadas e depois, com 100 anos, sentado em uma poltrona, contando aos seus bisnetos como foi feliz na escolha de sua carreira.
* Roberto Recinella é consultor em Gestão de RH.
Jornal do Brasil - 23:39 - 27/09/2009
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/27/e27098964.asp

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