sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A geração dos nativos digitais


O que muda e o que verdadeiramente irá mudar em nível cultural com o advento da televisão digital terrestre? "Quase tudo", responde Carlo Freccero, diretor do canal italiano Rai 4. "O digital reúne todas mídias, da TV ao celular e à Internet, faz com que eles dialoguem entre si, integra-os em um 'unicum'. A primeira consequência é que, em nível de conteúdos, é possível finalmente fugir do imperativo da audiência indiferenciada, típica da televisão generalista, e voltar-nos a uma audiência mirada. Será reproposto na televisão o fenômeno da "cauda longa", que, até aqui, era característico da Rede, para o qual os produtos considerados de nichos específicos acabam ocupando uma posição muito mais consistentes do que aqueles considerados predominantes. Enfim, mudará o modo de se fazer televisão".

A reportagem é de Loredana Lipperini, publicada no jornal La Repubblica, 19-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

O que irá mudar também no modo de assisti-la? Será necessária uma maior consciência por parte do telespectador?
Certamente: ser informado sobre as mídias e ter familiaridade com eles serão fundamentais. Quem vai se aproximar imediatamente da nova televisão é o público dos nativos digitais, já imersos na multimídia, não mais contemplativos, sempre capazes de interagir. É o público dos reality shows, que joga e vota. É o público que tornou possível um fenômeno como o YouTube. O público dos fãs que discutem na Internet sobre seus programas preferidos. Um público, enfim, que se desloca de uma plataforma para a outra sem problemas.

Um público que já está presente na Itália? Em que medida?
De fato, o domínio da televisão generalista ainda é predominante por motivos geracionais. Mas há um elemento significativo. Na crise que estamos atravessando, os consumos materiais sofreram uma forte contração. Mas as famílias continuam investindo na televisão paga, na telefonia, na aquisição de novas tecnologias. Significa que comunicar, manter contatos e conexões hoje é mais importantes do que exibir riqueza e status. É bom esperar.

Então, como os produtos televisivos irão mudar?
Há a necessidade de produtos definidos, não voltados a um público indiferenciado. As redes temáticas já nos acostumaram à possibilidade de acessar conteúdos específicos. O consumo dos produtos internacionais já libertou a televisão da dimensão local e histórica: quando a TV paga propõe os filmes norte-americanos, ela se dirige não a uma audiência local, mas a um público universal culturalmente diferenciado. Isso significa que se torna possível trazer à luz produtos minoritários que a televisão generalista havia eliminado. Não só isso: podemos nos voltar aos fãs que seguem séries norte-americanas ou japonesas na Internet e recorrer ao culto para fidelizá-los. Sem a memória da televisão generalista, estamos livres.

E quem está acostumado aos canais generalistas?
Aqueles que nasceram depois de 1975 conservam na memória só a televisão comercial. Quem nasceu depois de 1990, olha a televisão só no computador. São, justamente, os nativos digitais, os verdadeiros cidadãos do mundo. Nós somos os migrantes que devem adaptar-se à sua cultura.

Em perspectiva ou imediatamente?
Esse é o horizonte em que nos movemos, que, na Itália, está muito devagar. A brecha digital é muito forte no nosso país. O poder da televisão generalista (e, portanto, do modelo berlusconiano clássico) ainda é evidente. Mas não representa o novo. E, principalmente, é preciso lembrar que a televisão generalista foi e é matriz de consumos materiais, daqueles sofisticados como a moda, àqueles de longo consumo, como os tomates descascados. Enquanto isso, as novas mídias exaltam os consumos imateriais. E, portanto, culturais.

FONTE: IHU/Unisinos - 20/11/2009

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