quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desejos (rabugentos) de fim de ano

PASQUALE CIPRO NETO*


Se muita gente não consegue absorver o significado de signos corriqueiros,
que mundo da informação é esse?

JÁ DEVO TER dito neste espaço (mais de uma vez) que, não fosse pelo aniversário de minha mãe, o 31 de dezembro seria apenas mais um dia, como qualquer outro. Não acredito -nem um pouco, um pouquinho que seja- nessa coisa de virada de ano, show da virada, arroz com lentilhas, roupa branca etc.

Bem, se alguém me dissesse que a virada de ano poderia trazer a concretização de alguns pedidos, eu até me atreveria a fazer os meus. Rabugento que sou, ousaria pedir aos céus que o novo ano trouxesse, por exemplo, o fim das perguntas inúteis e da distorção do que se diz. Quer um belo exemplo de pergunta inútil? Você está dentro do elevador, que para antes de chegar ao destino que você lhe determinou.

A(s) porta(s) se abre(m), e a criatura que está do lado de fora faz uma das seguintes perguntas (irritantes e inúteis): "Tá subindo?"; "Tá descendo?" Detalhe: do lado de fora, há setas luminosas indicativas do sentido do elevador. Bastaria ver o que indica a seta acesa para evitar a pergunta.


É bom dizer que essa seta é um signo (não verbal, no caso), ou seja, um elemento que carrega um significado, assim como a imagem de um cigarro aceso cortado por uma linha oblíqua (que significa "Proibido fumar") ou a cor do semáforo (signo cujo significado muitos motoristas brasileiros não entendem...).

Bem, voltando ao caso do elevador, o pior é que, muitas vezes, antes de fazer a tola pergunta ("Tá subindo?"), o cidadão dá outra demonstração de dificuldade para lidar com esses signos. Traduzo: em muitos painéis externos, ao lado da(s) porta(s) dos elevadores, há dois botões: um para "chamar" para subir; outro, para descer. A maioria aperta os dois, independentemente do sentido desejado. O resultado, é claro, é perda de tempo, de dinheiro, de energia elétrica, desgaste das peças do elevador etc. Resumindo: não saber ler (sim, ler; ler a mensagem desses signos não verbais) faz mal ao bolso, à saúde, ao ambiente etc.

Temos aí apenas um dos exemplos das dificuldades que muitas pessoas têm para captar a mensagem de signos não verbais. Quer mais um? Vamos para o mais do que subdesenvolvido trânsito brasileiro e seus incríveis motoristas, incapazes de decifrar o significado de uma rotatória. Em todos os países que conheço (e não são poucos), os motoristas sabem que tem preferência quem já está na rotatória (e dão essa preferência). Por aqui... Haja analfabetismo e subdesenvolvimento!

No Brasil, a rotatória é apenas mais um dos tantos signos desconhecidos, incompreendidos, inexplicados. Aí, as pessoas não cumprem a regra e alegam desconhecimento. Mas como é que obtiveram a CNH? Não leram o código de trânsito? Não aprenderam o significado dos signos (sinais) de trânsito?


Quer outra pergunta inútil? Fui fazer exame de sangue, e a atendente me fez a irritante pergunta: "Está em jejum?". A pergunta dela me faz supor que ou há mentecaptos que, sem estarem em jejum, vão a um laboratório para fazer certos exames de sangue que requerem jejum ou há médicos incompetentes que não informam aos pacientes que determinados exames requerem jejum. É por essas e outras que dou de ombros quando ouço ou leio coisas relativas ao mundo de hoje, em que a informação é isto ou aquilo. Se muita gente não consegue nem traduzir um signo corriqueiro ou não consegue absorver informações básicas, que mundo da informação é esse? Feliz ano novo, caro leitor. É isso.



inculta@uol.com.br

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