quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Holocausto

Medo da volta do horror

Dia mundial que marca sofrimento judaico
 na Segunda Guerra é marcado
por críticas ao Irã e ao antissemitismo

“É preciso lembrar sempre o que aconteceu. Até porque quem assistiu e sentiu o cheiro dos cadáveres, passou fome e fugiu dos bombardeiros, não consegue esquecer jamais”, assegura a polonesa Rita Braun, 80 anos, que viu seu pai e seu irmão mais novo morrerem pelo simples fato de serem judeus. Ontem, enquanto o mundo celebrava o Dia Internacional de Recordação do Holocausto, a sobrevivente do massacre promovido pelos nazistas, que vive no Brasil há 52 anos, revelou ao Correio que teme que algo parecido ocorra novamente. “Pode não acontecer nessas medidas, mas a história se repete, e nós já temos pessoas que negam o Holocausto, como o presidente do Irã, que foi abraçado pelo (presidente) Lulinha com um tapete vermelho.”

O medo demonstrado por Rita é o mesmo reforçado pelos líderes israelenses. No dia em que se comemoraram os 65 anos do fechamento do campo de concentração de Auschwitz, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, falou, direto do emblemático local no sul da Polônia, que é preciso ficar atento ao “novo monstro” que quer “exterminar” os judeus. “O Holocausto não foi apenas um crime contra os judeus, mas sim um crime contra a humanidade. Atualmente, há ódio pelos judeus em nosso meio. Há novas convocações para exterminar o Estado judaico”, alertou, em hebraico. Ele, no entanto, garantiu que não vai permitir que “mãos perversas” acabem novamente com o seu povo e seu país. “Um Estado e um Exército fortes são os únicos meios eficazes para a defesa do povo judeu.”

Em discurso histórico no Bundestag (Parlamento alemão), o presidente israelense(1), Shimon Peres, pediu que o mundo nunca mais ignore “ditadores sanguinários, que se escondem atrás de máscaras demagógicas e proferem palavras de ordem assassinas”. Peres comparou a falta de ação das potências ocidentais para impedir a chegada de Adolf Hitler ao poder à polêmica sobre o programa nuclear iraniano, e pediu que a comunidade internacional se esforce para impedir que Teerã possua uma bomba nuclear.

Horas antes das declarações das duas autoridades israelenses, o aitaolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, declarou que as nações do Oriente Médio “assistirão um dia à destruição” de Israel. “Quando e como acontecerá essa destruição, dependerá da maneira como as nações islâmicas abordarem a questão”, afirmou Khamenei, durante um encontro com o presidente da Mauritânia, Mohamed Uld Abdel Aziz, cujo governo rompeu relações com Israel em janeiro de 2009.

Recado aos jovens

Outros líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o papa Bento XVI, também aproveitaram a data para relembrar os horrores do Holocausto e enviar mensagens de repúdio a qualquer tipo de discriminação. “As atuais gerações devem resistir frente ao antissemitismo e a ignorância sob todas as suas formas e se negar a ser testemunha do mal cada vez que este mostrar seu rosto ignominioso, onde quer que seja”, disse Obama, por meio de um vídeo exibido em uma conferência ontem, em Cracóvia.

O papa, por sua vez, demonstrou sua solidariedade com o povo judeu e prestou homenagem a “quem, colocando em perigo sua própria vida, protegeu os que e-ram perseguidos”. “Com emoção, pensamos nas inúmeras vítimas de um ódio racial e religioso cego, que sofreram com a deportação, a prisão e a morte nesses lugares aberrantes e desumanos.”

1 - Pressa para julgar

Diante dos parlamentares e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o presidente de Israel, Shimon Peres, pediu que os responsáveis pelo Holocausto sejam julgados com urgência. “Homens e mulheres que participaram da pior das ações sobre a Terra continuam vivendo na Alemanha e na Europa, assim como em outras partes do mundo. Eu lhes peço que façam todo o possível para levá-los à Justiça.” Dois suspeitos são atualmente julgados na Alemanha: John Demjanjuk, que nega ter sido guarda de um campo de concentração, e Heinrich Boere, que admitiu ter matado civis holandeses.

O Holocausto não foi apenas um crime contra os judeus,
 mas sim um crime contra a humanidade”
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel

Retorno a Auschwitz

A sobrevivente do Holocausto Eva Mozes, que ficou conhecida em todo o mundo como uma das gêmeas que sofreu com os terríveis experimentos do médico nazista Josef Mengele, retornou ontem ao campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Com um bracelete gravado com as palavras “Nunca desista. Perdoe” no braço tatuado pelos nazistas, Eva lembrou que ela e sua irmã Miriam, que morreu em 2003, só foram salvas porque eram gêmeas. “Meus pais e nossa irmã mais velha foram mortos 30 minutos depois de chegarem ao campo. Nunca mais os vi. Eles desapareceram sem deixar rastros”, lembrou a judia, que nasceu na Hungria. Hoje, aos 75 anos, Eva mora em Indiana, nos Estados Unidos. “Perdoei os nazistas em 1995 e foi como uma segunda libertação. Fui libertada por soldados em 1945, e libertada de novo quando perdoei os nazistas”, revelou.
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Reportagem de Isabel Fleck
Fonte: Correio Braziliense online, 28/01/2009

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