sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Planeta Terra e reciclagem

Reciclagem segura

Grupo de alunos do Senai de Santa Catarina cria máquina que separa o lixo sólido — como papel, metal e vidro — sem a necessidade de contato manual, diminuindo os riscos para quem trabalha em empresas de reaproveitamento de materiais


Apesar de o fluxo de informações sobre a importância de separar e reciclar o lixo ser intenso hoje em dia, o efeito ainda é pequeno. Em Brasília, por exemplo, dados do Sistema de Limpeza Urbana, divulgados pelo Correio no último dia 8, mostram que somente 8% do total de resíduos produzidos no Distrito Federal recebem o tratamento adequado. Na tentativa de amenizar o problema no Brasil, uma equipe de alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Santa Catarina (Senai-SC), orientada pelo professor Claudemir Rogério Oldoni, desenvolveu um separador inteligente de lixo. A máquina evita desperdícios e diminui a possibilidade de acidentes, além de promover uma separação higiênica de materiais inorgânicos.

A ideia surgiu na cidade catarinense de Concórdia, durante oficinas preparatórias para um evento de solução para gargalos cotidianos. Depois de cinco meses de estudos e testes, a ferramenta ficou pronta. Com ela, o usuário não precisa ter o cuidado de saber os tipos de materiais presentes em cada saco de lixo. A mistura entra no separador inteligente por meio de uma esteira e, logo na primeira etapa, recebe um jato de ar que separa papéis e plástico do processo.

Em seguida, um sistema de ímãs é acionado e os metais permanecem no compartimento, enquanto o restante dos resíduos prossegue na máquina. Uma bobina eletromagnética transporta os objetos metálicos para um outro compartimento depois que esses estão totalmente separados dos outros materiais. A operação é completada em uma cuba cheia de água, onde objetos de baixa densidade flutuam. Os mais pesados afundam e são retidos depois que o líquido é escoado em peneiras.

As fases do separador de lixo lembram aparelhos dignos dos cientistas malucos de desenhos animados. No entanto, o protótipo, com cerca de 3m de largura, é fruto de muita pesquisa e resultados tecnológicos que prometem revolucionar a separação de materiais inorgânicos. “A ideia foi dos alunos e não foi algo tão simples. Eles tiveram de apresentar um pré-projeto, que foi analisado minuciosamente até que se confirmasse a viabilidade da máquina, mesmo com os ajustes necessários e algumas lacunas nas pesquisas em um primeiro momento”, afirma o professor Oldoni.

O orientador lembra que os estudantes decidiram pela pesquisa com o intuito de ajudar a região, que abriga diversas fábricas de reciclagem. Segundo o professor, o uso do separador inteligente de lixo é mais seguro que o processo manual realizado atualmente na cidade. “A máquina vai ajudar a amenizar um problema extremamente grave do planeta que é o destino dado ao lixo. Estou muito orgulhoso pelo resultado e me sinto bastante útil por envolver os alunos em uma questão tão importante como essa”, ressalta.

Sem ferimentos

O estudante Gilian Dal Poso, 17 anos, é integrante do grupo que desenvolveu o separador inteligente. Ele conta que o projeto surgiu da preocupação com o meio ambiente e dos constantes problemas de saúde ocupacional na região. Pesquisas dos alunos revelaram que muitas das pessoas que separam o lixo acabam se machucando com pedaços de vidro e objetos pontiagudos. “Isso sem falar na quantidade absurda de lixo que deixa de ser reciclada no Brasil. A máquina é uma oportunidade de expor os problemas e mostrar que há soluções. No início, nós pensamos que não fôssemos conseguir, mas está pronta e funciona muito bem”, diz, orgulhoso, o jovem.

Dal Poso e o restante da equipe estão trabalhando agora em uma segunda versão do separador de lixo. A ideia é corrigir falhas observadas no primeiro protótipo e apresentar um novo modelo para possíveis investidores que viabilizem a produção do separador em escala industrial. De acordo com o estudante, os donos de algumas empresas têm gostado do resultado e as perspectivas das negociações são muito boas. “A nova versão deve custar pouco mais de R$ 2 mil. O preço deve cair quando uma quantidade maior de aparelhos for produzida”, acredita Dal Poso.
A máquina vai ajudar a
 amenizar um problema extremamente grave
do planeta
 que é o destino dado ao lixo”
Rogério Oldoni, orientador do projeto

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Reportagem: Igor Silveira
Fonte: Correio Braziliense online, 19/02/2010

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