segunda-feira, 8 de março de 2010

Disney quer ensinar a nova geração a pensar no ambiente

The Wall Street Journal


Se há uma empresa que parece em boas condições de influenciar e lucrar com uma geração de jovens conscientes dos problemas ambientais, é a Walt Disney Co. E Robert Iger, presidente da Disney, insiste que isso é exatamente o que a empresa tem feito.
Na semana passada, Iger participou, junto com outros empresários e empreendedores, da terceira conferência ECO:nomics do Wall Street Journal. Numa conversa com Alan Murray, do WSJ, ele falou sobre as novas estratégias "verdes" que a empresa aplica, sejam nos parques temáticos ou nos estúdios de cinema, e também sobre as mudanças que a Disney tem percebido nos hábitos de consumo. A conversa começou abordando a campanha de conservação da empresa - "Friends for Change", ou Amigos pela Mudança -, que já atraiu mais de 1 milhão de crianças, diz ele. Trechos editados da conversa:

WSJ: Tenho duas filhas adolescentes, então entendo disso. Elas são como massa de modelar em suas mãos. Qualquer coisa que Hannah Montana e os Jonas Brothers mandem fazer, elas fazem.
Robert Iger: Deus o abençoe.

WSJ: Mas estamos falando de problemas econômicos sérios, de problemas ambientais. O que meninas de 14 anos podem realmente fazer para ajudar? Quer dizer, qual é o sentido disso?
Iger: Quando você tem a oportunidade única que nossa empresa tem [de atingir milhões de crianças], e pode ensiná-las a importância de se comportar de maneira mais responsável sob uma perspectiva ambiental - tudo ajuda.
A Friends for Change atraiu 1,5 milhão de membros. O impacto é enorme. São 200.000 toneladas de lixo eliminadas todo mês. É uma grande economia em consumo de água, uma grande economia de eletricidade. Tome banhos mais curtos. Desligue as luzes do quarto, e por aí vai. E não só [nos EUA]. É mundial.

WSJ: O sr. consegue convencer meninas de 14 a tomar banhos mais curtos?
Iger: Um de 14 minutos em vez de um de 15, mas sim. Mas cada minuto conta.

WSJ: Qual é o ganho disso para a empresa? O sr. faz isso porque considera a coisa certa? Ou faz porque o ajuda a conquistar todas essas meninas de 14 anos?
Iger: A Disney tem um histórico de décadas de responsabilidade e conhecimento sobre questões ambientais. Quando consegui este cargo, há quase cinco anos, estava claro que nossa reputação é um fator que impulsiona os negócios.
Começamos a ver mais interesse em responsabilidade social nas empresas da parte de três segmentos: os clientes, que começaram a ficar mais conscientes da qualidade do produto, não apenas do que é feito mas também como é feito; começamos a ouvir isso também dos acionistas; e ouvíamos isso dos empregados e das futuras contratações.
Então criei uma mensagem ao redor disso que, basicamente, é que queremos ser a empresa mais admirada no mundo, admirada pela qualidade de nosso produto, a integridade de nossa equipe e nosso comportamento como cidadãos do mundo. Quando você pensa eticamente, é a coisa certa a se fazer. Mas também é a coisa certa para se fazer do ponto de vista do valor para os acionistas.

WSJ: E em relação às suas práticas?
Iger: Criamos um conselho ambiental feito de representantes de todas as nossas divisões e os encarregamos de fazer duas coisas: diminuir o impacto da empresa no mundo e criar projetos que eduquem e inspirem.
Fizemos um inventário básico de nosso impacto ambiental de 2006 a 2009 - quanto lixo estávamos gerando, por exemplo. Aí criamos metas específicas que agora são divulgadas ao público, principalmente sobre a redução. E então criamos uma maneira de monitorarmos isso.
Cada requerimento de capital basicamente passou a ter um componente ligado ao impacto ambiental. Se você quiser construir um prédio, uma atração de parque temático, comprar uma nova frota de ônibus e carros, nesse requerimento de capital há uma página que o obriga a detalhar e se conscientizar do impacto que esse projeto terá no meio ambiente.
Criamos um tributo em que basicamente prevemos qual será o impacto [ambiental] de cada negócio, e cobramos por esse impacto. Usamos esse dinheiro para criar um fundo que vai principalmente para projetos de conservação no mundo, principalmente reflorestamento. Então na verdade estamos comprando nossos créditos de carbono com isso. Mas as divisões recebem incentivos para reduzir. E eu acho que isso é bastante único.

WSJ: Os empresários realmente vão fazer o que precisa ser feito?
Iger: As empresas podem fazer a diferença. Temos milhares de veículos em nossos parques temáticos no mundo inteiro. Cem milhões de visitantes anuais. O que eles consomem, como os transportarmos, o quão frio fica o ar-condicionado no quarto de hotel deles quando apagam as luzes - há muito que pode ser feito. E estamos descobrindo mais e mais que nossos hóspedes querem saber essas coisas.
Antigamente éramos relativamente discretos sobre nossas práticas. As pessoas simplesmente não estavam interessadas. Elas queriam vir para cá e se divertir. Agora elas realmente estão interessadas em como estão se divertindo.
Elas entram numa das locomotivas a vapor clássicas que Walt colocou na Disneylândia nos anos 50 e informamos que os trens agora são movidos a biodiesel, e eles adoram ouvir isso.

WSJ: Elas sentem-se bem com isso. Mas será que estão dispostas a pagar mais pelos produtos, pelas experiências que consideram ecologicamente corretas?
Iger: Essa pergunta ainda não foi respondida. Mas estamos descobrindo novas maneiras de reduzir o custo de ser ecologicamente correto.
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Fonte:  ValorEconômico online, 08/03/2010

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