segunda-feira, 8 de março de 2010

Mudança de hábito

Auri Marçon*
A discussão sobre a destinação e o aproveitamento corretos dos resíduos sólidos urbanos sempre ocorre de forma mais acalorada em períodos de chuva intensa. O lixo jogado displicentemente nas ruas – ou simplesmente não recolhido – causa forte impacto visual ao ser levado pelas enxurradas até o leito dos rios.
O problema dos resíduos sólidos nas cidades é complexo e a solução passa por três grupos que precisam cumprir corretamente o seu papel: o cidadão, o poder público e a indústria. Nenhuma política nessa área atingirá os objetivos propostos se essa união de esforços não for contemplada.
No caso do cidadão, um aspecto importante é a educação ambiental. Ao consumir, a sociedade reproduz uma cultura adquirida ao longo de anos, com forte influência de princípios baseados na economia e na conveniência.
A embalagem tem papel fundamental ao preservar e garantir higiene, segurança alimentar, conservação e transporte dos alimentos e bebidas. O desenvolvimento da indústria permite que, hoje, o consumidor adquira determinado produto na quantidade exata da qual precisa, evitando desperdícios. Também oferece comodidade, ao dispensar o retorno do vasilhame, bastando sua correta destinação pós-consumo.
Mas o desenvolvimento na área do consumo, praticamente homogêneo em toda a sociedade, não foi acompanhado do mesmo empenho quando falamos da criação dos hábitos de descarte adequados. Isso faz que o nível de conscientização sobre a destinação correta dos materiais pós-consumo varie muito entre a população.
A educação ambiental, no entanto, quando implantada, não pode caminhar sozinha. O cidadão que faz o descarte adequado do seu resíduo sólido precisa encontrar um sistema público de coleta seletiva que funcione corretamente, o que existe em apenas 7% das cidades brasileiras. Esse papel, de acordo com a Constituição Federal, deve ser exercido pelos municípios.
Exemplo positivo nesse caso é o de Londrina. O município alterou a forma de remuneração das empresas de coleta – que agora recebem um preço global pelo serviço, antes pago por tonelagem – e instituiu a coleta seletiva, com a inclusão de catadores. Com isso, reduziu os custos anuais per capta com o serviço e gerou benefícios sociais importantes, principalmente em relação à condição de cidadania. Os catadores ainda ficaram responsáveis pela difusão de hábitos de consumo, higiene e descarte adequados, por meio de ação realizada de casa em casa.
Quando descartado adequadamente pelo cidadão e coletado corretamente pelo poder público, o resíduo pode ser encaminhado para a indústria recicladora, que deve trabalhar para dar a destinação ao material recolhido. Voltando ao caso das embalagens, existem exemplos positivos de alguns setores, como latas de alumínio e PET.
Em razão do trabalho realizado há mais de 15 anos pela indústria no desenvolvimento de destinações importantes e inovadoras para as embalagens recolhidas, o Brasil é um dos líderes mundiais em aplicações para o PET reciclado. Conta com inúmeros usos não encontrados em outras partes do mundo, o que gera demanda forte que incentiva a reciclagem.
Atualmente, o PET reciclado é utilizado principalmente pela indústria têxtil. Outro grande destaque é a produção de resinas líquidas utilizadas para a fabricação de itens diversos, como tintas, piscinas, caixas d’água, pias e bancadas de mármore sintético ou peças para carroceria de caminhões, por exemplo. A lista de produtos ainda se estende para cordas, vassouras, tubos e até novas embalagens, entre vários outros.
Com a geração de demanda, o Brasil consolidou a sua posição entre os líderes da reciclagem do PET, com índice de 54,8%, ficando à frente de Estados Unidos e União Européia, com mais de 500 empresas que geram faturamento de R$ 1,09 bilhão. Por incrível que possa parecer, apesar da evolução obtida pela indústria – e das garrafas que ainda são vistas boiando nos rios –, existe grande carência de PET para ser reciclado, o que deixa a indústria recicladora com nível de ociosidade da ordem de 30%. Isso ocorre por absoluta falta de coleta seletiva, fator de desestímulo para qualquer cidadão bem-intencionado.
É por essa razão que educação ambiental é tema urgente e importante, que requer mudanças de hábitos por parte dos consumidores e de postura no caso do poder público. A indústria vem atuando fortemente e saberá dar a sua resposta para que o ciclo se feche em benefício do meio ambiente.
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*Presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet)
Fonte: Correio Braziliense online, 08/03/2010

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