quinta-feira, 11 de março de 2010

O comercial

L. F. VERISSIMO*
Na primeira vez que vi o comercial na TV, pensei: vai dar galho. Vão surgir os protestos, vão lembrar sua má influência nas crianças, vão pedir para que seja retirado do ar. Mas não. O comercial em que o jogador de futebol Ronaldo se declarava brahmeiro e só faltava dizer que devia sua recuperação à cerveja não causou nenhuma reação. O escândalo que eu esperava aconteceu com outro comercial, de outra cerveja, em que – se entendi bem – a questão era o que a Paris Hilton faria com uma lata de “Devassa”, além de beber seu conteúdo. Não havia nem a sugestão de que a ingestão de “Devassa” melhoraria o, assim, desempenho da moça. Estranho país este nosso.

AMAZING
“Amazing” é a palavra que mais se ouve na entrega dos Oscars. Quer dizer espantoso, assombroso, maravilhoso. É como os vencedores descrevem todos os que contribuíram para seu momento de glória: os “amazing” técnicos, o “amazing” diretor, o “amazing” produtor, o “amazing” elenco. “Amazing” também serve para agentes, pais, mães, filhos. E, invariavelmente, mulher ou marido.
A verdade é que não se pode esperar muita originalidade dos vencedores em suas falas. A necessidade de agradecer ao máximo de gente possível num curto espaço de tempo forçou uma padronização do vocabulário, todos dizem a mesma coisa. E “amazing” é um termo genérico que cobre todas as qualidades: mais enfático do que “great”, mas menos exuberante do que “fantastic”.
Mesmo assim, permanece a curiosidade. São raros os vencedores de Oscars que não são casados com alguém espantoso.

BRIGA
Não foi a vitória de um filme contestador sobre um convencional. É difícil imaginar um filme mais anticonvencional do que Avatar. The Hurt Locker não é exatamente pró-guerra nem exalta os soldados americanos, mas nesta briga quem defendia valores patrióticos e missionários era ele, em contraste com a crítica ao capitalismo predatório do outro. Mas este tipo de interpretação – do que a premiação “quis dizer” – sempre pressupõe um consenso dos votantes, uma vontade coletiva da “academia” de acordo com um clima dominante, impossível de existir. Foi um resultado “amazing”, mas só isso.

BRIGA 2
De agora até a convocação definitiva da Seleção acompanharemos uma briga boa: a da resolução do Dunga, que parece decidido a não chamar o Ronaldinho para a Copa, contra as atuações do Ronaldinho. Hoje se pode ver o Ronaldinho em ação no Milan quase que semanalmente. Até a hora da convocação, cada vez que ele for espetacular aumentará a pressão sobre o Dunga. Cada vez que ele for menos que convincente, ponto para a resolução do Dunga. A última partida do Ronaldinho que vi foi contra o Roma. Contabilizando suas boas jogadas com as vezes em que se omitiu do jogo, minha opinião é que esta briga começou empatada.
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*Escritor. Cronista.
Fonte: ZH online, 11/03/2010

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