domingo, 21 de março de 2010

Por que investir em pessoas dá lucro


Fenômeno editorial no Brasil com o livro “O Monge e o Executivo”, James C. Hunter diz que empregados satisfeitos são mais criativos e produtivos, ajudam a manter na empresa o investimento feito em treinamento e se relacionam melhor com clientesQuando recebeu o primeiro convite para vir ao Brasil, há cinco anos, James C. Hunter não entendeu. Do outro lado da linha, um representante da editora Sextante dizia que seu livro O Monge e o Executivo era um sucesso no país.
Hunter telefonou para seu agente e perguntou que loucura era aquela. Nunca escrevera nenhuma obra com aquele título. A explicação veio em seguida: seu livro The Servant (O Servidor, em tradução literal) recebera outro nome no Brasil. E era um fenômeno de vendas. Hunter considerou o título melhor que o original.
Desde então, nunca mais deixou de vir ao Brasil. Já foram 20 visitas, e ele ainda se confessa surpreso com as vendas. Dos cerca de 3,5 milhões de exemplares de O Monge e o Executivo vendidos no mundo, mais de 2 milhões saíram de prateleiras brasileiras.
– Nunca entendi por que tanto sucesso aqui, mas tenho uma suposição. O Brasil tem inúmeras qualidades e potenciais mas, assim como nos Estados Unidos, ainda é carente de líderes. Conheço muitos executivos aqui. Sei o que estou dizendo – reforça o religioso escritor e consultor de empresas, que tem a Bíblia como obra de cabeceira, Jesus Cristo como referência e dezenas de provérbios e pensamentos sempre na ponta da língua.
A falta de líderes parece estar ficando para trás. Se não fosse isso, por que dezenas de companhias teriam enviado cerca de 700 funcionários para assistir à palestra que Hunter fez em Porto Alegre na terça-feira passada, a R$ 400 a inscrição individual? Porque esse é o caminho natural dos negócios nos dias de hoje e, principalmente, porque investir na gestão de pessoas resulta em lucro.
O Great Place to Work, que organiza mundialmente o ranking As Melhores Empresas para se Trabalhar, apresenta exemplos disso. Partindo de pesquisas em 44 países, o CEO do instituto no Brasil, Ruy Shiozawa, usa três casos para mostrar que os ganhos de um grupo bem liderado são mensuráveis.
1- Em uma rede de supermercados do Chile bem classificada no estudo, o índice de satisfação dos clientes em três diferentes lojas, com três diferentes graus de contentamento por parte dos empregados, mudava bastante. No loja apontada com o pior local de trabalho, a satisfação dos clientes era de 78%. Onde os empregados estavam mais satisfeitos, chegou a 86%.
Por que isso traz lucro? Funcionários mais felizes garantem fidelidade dos clientes, o valor médio de compra tende a ser maior e é sempre mais barato manter clientes antigos do que conquistar novos.
2 - A rotatividade média do setor de varejo na área de alimentação nos Estados Unidos gira em torno de 53%. Ou seja, de cada dois funcionários treinados por uma empresa do setor, um se desliga após um ano de trabalho. Nas melhores empresas para se trabalhar nessa atividade o índice ficou em 14%.
Por que isso traz lucro? É prejuízo treinar e investir em um funcionário que pouco depois vai embora levando consigo o conhecimento sobre a operação e o valor gasto na sua qualificação.
3 - O terceiro exemplo de como investir em gente dá lucro vem do Brasil. O instituto contabilizou quanto um investidor ganharia aplicando R$ 100 mil em ações a partir do índice Bovespa entre 2000 e 2009. O capital se transformaria em R$ 409 mil. Um ganho e tanto. Mas sabe em quanto esse investidor transformaria os mesmos R$ 100 mil se aplicasse, no mesmo período, apenas nas melhores empresas para se trabalhar listadas na Bovespa? Em R$ 1,2 milhão.
Por que isso traz lucro? É um indicador de que a empresa cresceu, suas ações se valorizaram mais do que a média e só conquista mais investidores quem tem os melhores indicadores do mercado, inclusive lucro.
Também leitor de Hunter, o CEO do Great Place to Work poderia tranquilamente estar na plateia do Teatro do Sesi, palco da palestra. O público reunia de estudantes de Ensino Médio a empresários. Minutos antes, os organizadores não tinham certeza de que o auditório lotaria. Agora, já pensam em trazer Hunter novamente ao Estado, talvez em 2011. As pessoas, até lá, certamente continuarão sendo importantes para as empresas.

DEPOIMENTOS


Por que investir em pessoas dá lucro, na opinião de alguns participantes da palestra de James C. Hunter:
“Porque pessoas são a origem, como colaboradores, e o final de tudo, de qualquer negócio, como clientes.”  - MARCELO SUSSERMANN, 41 anos, consultor da Nextel

“É preciso saber lidar com as pessoas para conhecê-las melhor, identificar suas qualidades e obter todo o seu potencial. Só assim um empregado dará à empresa tudo o que pode render.”
ESTER VARGAS, 29 anos, estudante de Administração

“São pessoas que dão resultados para a empresa. É investindo em pessoas que se extrai delas motivação e iniciativa para agir. Sem pessoas que pensem o negócio, serão apenas máquinas trabalhando.” PEDRO HOYER, 44 anos, empresário

“Satisfação tem influência direta no que uma pessoa produz e o retorno disso, claro, traz lucros para a empresa de diferentes formas, inclusive a financeira.” FÁBIO DUTRA, 36 anos, gerente comercial  da Racon Consórcios em Porto Alegre

“O maior capital de uma organização são as pessoas, não a estrutura ou os equipamentos. Por isso, o maior investimento precisa ser nos colaboradores. São eles que estão na ponta final, com o cliente, que é que dá retorno ao investimento.”  MAURÍCIO MELLO PALLUDO, 25 anos, operador de negócios do Banrisul
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Reportagem: THIAGO COPETTI
thiago.copetti@zerohora.com.br
Fonte: ZH online, 21/03/2010

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