domingo, 9 de maio de 2010

"Conselhos" de mãe

Escritores gaúchos revelam os "conselhos" que recebiam das mães


O fundo da piscina

* Por Leandro Sarmatz
Quando eu tinha apenas nove anos, o otorrino - primo da minha mãe - diagnosticou-me labirintite. Eu tinha enjoos, tontura, à noite o quarto parecia estar dentro de uma centrífuga, tudo girava. Consta que meu caso mereceu longa e científica exposição em um congresso, afinal labirintite é coisa de gente idosa. Que seja. Porém, coincidiu que nesta mesma época estivéssemos nos mudando para um condomínio com piscina, um daqueles prédios enormes da Nilo Peçanha. Pronto: o pesadelo estava armado! Não sei se havia alguma base científica nesse temor, mas minha mãe jurava que eu deveria evitar a piscina "dos adultos" - profundidade de cerca de 1m50cm -, pois um dos sintomas da minha doença (hoje de resto superada) era a perda da noção espacial. O norte virava sul, a esquerda se tornava direita, e assim sucessivamente. Então, um belo dia eu poderia saltar para um mergulho bem gostoso mas, em vez de voltar à superfície, eu iria dar angustiantes braçadas até o fundo de azulejos azuis, e ficar nessa função (digna de uma mosca varejeira diante da janela fechada) até perder o fôlego, desmaiar - e finalmente morrer afogado. Confesso que isso me assombrou durante um bocado de tempo.

(*) Leandro Sarmatz, jornalista e dramaturgo, mestre em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul



Come, minha filha!

* Por Cíntia Moscovich

Eu ouvi da mãe todos os conselhos de praxe: não lavar a cabeça durante a menstruação, não tomar ar frio depois do banho, coisas assim. Mais do que conselhos, minha mãe me fazia pedidos. Que eu comesse, por exemplo. É inacreditável, mas eu era uma criança inapetente. Para bem de eu almoçar, ela reunia todas as crianças e cachorros da vizinhança e me colocava sentada na escadaria do prédio. Só assim, distraída, é que eu comia. Acho essa história uma ironia. Por que, claro, o problema hoje em dia é justamente parar de comer. Saudades da colher-aviãozinho.
(*) Escritora, autora do livro Por que Sou Gorda, Mamãe? (Editora Record)
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Fonte: A reportagem de capa deste domingo (09/05/2010) no caderno Donna ZH traz os principais "conselhos de mãe" ditos há várias gerações e repetidos ao longo dos anos
ZH online, 09/05/2010

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