sábado, 26 de junho de 2010

Presidente do Yahoo defende site e estratégia para celular


A diretora-presidente do Yahoo Inc., Carol Bartz, enfrentou acionistas na assembleia geral da empresa, ontem - 18 meses após ela começar a tentar recuperar um gigante da internet que perdeu o foco, tem sido ofuscado pelo Google Inc. e está combalido pela tentativa fracassada da Microsoft de comprá-lo.
As ações do Yahoo subiram cerca de 20% desde que ela assumiu, mas alguns investidores aida questionam se Bartz pode pôr sua visão em prática.
Uma das principais decisões dela até agora foi um acordo de dez anos para compartilhar o faturamento dos anúncios de busca com a Microsoft, cujo serviço Bing vai alimentar as buscas no Yahoo, permitindo que a empresa se concentre em melhorar seu principal negócio, de distribuição de propaganda na internet, e o conteúdo dos sites mais importantes.
Analistas temem que o Yahoo não tenha uma estratégia viável de longo prazo no conteúdo para celular, um mercado ascendente em que os gigantes da tecnologia Apple Inc. e Google estão conquistando território rapidamente, com as plataformas do iPhone e do Android. Pesquisas de mercado mostram que as pessoas estão visitando cada vez menos os sites do Yahoo e passando para sites de relacionamento social como o Facebook Inc
Conhecida pela linguagem descontraída, Bartz não falou um único palavrão durante uma recente entrevista.

Trechos:
WSJ: Seus concorrentes estão se expandindo agressivamente. Será que o Yahoo tem pouco tempo para se recuperar?
Carol Bartz: Quando você fala em concorrentes, os três grandes da internet são Facebook, Google e Yahoo. As pessoas nos procuram por três coisas diferentes.
Nós não vamos desaparecer. Este não é um ativo em decomposição. O Yahoo atende a mais de 600 milhões de pessoas por mês na internet. Somos o site número um ou dois no mundo [com base no tempo total gasto pelo usuário].

WSJ: Os analistas estão preocupados com a estratégia do Yahoo para celular.
Bartz: A estratégia do Yahoo é disponibilizar seu conteúdo amplamente no maior número possível de aparelhos, e então podemos fazer publicidade.

WSJ: Mas os críticos dizem que o Yahoo não está sendo suficientemente agressivo em levar seu conteúdo a celulares inteligentes como o iPhone, da Apple, e o Android, do Google.
Bartz: Acho que é verdade. Deveríamos fazer mais. Nossos [aplicativos para o] Android serão lançados [nos próximos meses]. Fomos os primeiros a lançar um aplicativo para o iPad e vamos lançar um fantástico de e-mail para o iPhone e o iPad. Sabe o que me preocupa? Os aplicativos para o iPad. Estou preocupada em colocar nosso conteúdo nele, porque esse conteúdo atrairá propaganda.
Eu não descartaria a Nokia [software do Yahoo será usado para alimentar os serviços de e-mail e bate-papo na maioria dos celulares da Nokia]. A Nokia tem [uma fatia grande do] mercado de celular fora dos Estados Unidos. Nem todo mundo na Índia tem um iPhone.

WSJ: Com esse acordo da Nokia, vocês não estariam buscando uma base de usuários que vocês não têm conseguido transformar em receita?
Bartz: Estamos tentando aumentar o número de usuários na Ásia. A prioridade na Ásia não é ganhar dinheiro, é ganhar usuários. O que o Facebook está fazendo? Conquistando usuários. O lucro deles virá depois.

WSJ: O Google teme que os novos termos da Apple para a plataforma de propaganda no iPhone e no iPad possa impedir que grandes concorrentes distribuam anúncios nesses aparelhos. A sra. teme que Steve Jobs esteja tentando coibir a concorrência?
Bartz: No momento, não. Ele está tentando garantir a alta qualidade dos anúncios em seus produtos. A última coisa que você precisa naquele belo iPad é ver uma propaganda de noivas russas ou de branqueamento dental.

WSJ: A sra. deu uma declaração célebre ano passado, de que estaria aberta a um acordo de busca com a Microsoft se eles oferecessem um "caminhão de dinheiro", reforçando a expectativa de Wall Street de que haveria um pagamento inicial da Microsoft.
Bartz: Foi um grande erro. Minha intenção era dizer que o aspecto financeiro tinha de fazer sentido para o Yahoo, que o Yahoo não estava sob pressão para aceitar algo. Houve muitos investidores que disseram: "Aceite os US$ 5 bilhões". O que vou fazer com US$ 5 bilhões? Eu [já] tenho US$ 4 bilhões em caixa. Preciso é de uma fonte de receita.

WSJ: A sra. tem visto sinais de recuperação?
Bartz: Os sinais são totalmente ambíguos. Uma semana você acha que está melhorando, aí recebe os dados do consumo e recua um pouco. Nossos anunciantes estão voltando a se exibir para os consumidores. Um ano atrás, estavam congelados.
É certo que temos visto uma movimentação na economia, mas simplesmente não seria apropriado dizer que será uma ascensão ininterrupta quando você tem a situação na Europa e a incerteza sobre o desemprego.

WSJ: Que tipos de conteúdo os usuários do Yahoo gostariam de ver mais?
Bartz: Eles querem mais conteúdo local - as pessoas querem saber o que está acontecendo numa faixa de 8 a 16 quilômetros de distância, como descontos e restaurantes. As pessoas adoram saber as opiniões dos outros, toda essa ideia de comunidade, comentários e avaliações [de produtos e serviços]. E isso é parte de como operamos on-line atualmente.

WSJ: Parece que a sra. adoraria ter sites de recomendações de usuários, como o Yelp, um aplicativo para compartilhar sua localização, como o Foursquare, e um site de descontos locais, como o Groupon. Será que eles se encaixariam no Yahoo?
Bartz: Sim, com certeza o conceito do que eles fazem, sim. Eles são locais, (...) recebem votos de internautas. Muitas dessas coisas não necessariamente são alta tecnologia, são mais o processo que criam e às vezes você quer comprar empresas como essa porque elas já criaram o processo e têm uma marca. E às vezes você diz: "Podemos fazer isso."

WSJ: Será que as marcas já estabelecidas de empresas como a Groupon e a Yelp dificultariam uma aquisição?
Bartz: Para ser um obstáculo à aquisição, você tem que ter uma marca mais como a do Facebook. Após a crise de 2000, as empresas compraram muita tecnologia, mas descobriram que não havia escala suficiente. A empresa tal era muito boa, mas quando você a integrava a uma operação grande, dava errado. Aí você se pergunta: "Estou comprando bons engenheiros que podem modificar as coisas para a nossa escala, ou estamos comprando apenas uma marca e trabalhando muito nos bastidores para fazer a coisa funcionar?" Quando você é grande, sempre tem que levar em conta se realmente pode comprar uma empresa e fazê-la funcionar
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Reportagem: Scott Morrison, The Wall Street Journal
Fonte: Valor Econômico online, 26/06/2010

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