segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O virtuosismo acadêmico e suas grifes internacionais



Carlos Henrique Machado Freitas
Como andam os nossos filósofos de sentido contrário ao país?
Parece que há mesmo um verdadeiro temor em não mais nos purificarmos
 com a água sagrada européia.

A BANCA DO DISTINTO

(Billy Blanco**)

Não fala com pobre, não dá mão a preto

Não carrega embrulho

Pra que tanta pose, doutor

Pra que esse orgulho

A bruxa que é cega esbarra na gente

E a vida estanca

O enfarte lhe pega, doutor

E acaba essa banca

A vaidade é assim, põe o bobo no alto

E retira a escada

Mas fica por perto esperando sentada

Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão

Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal

Todo mundo é igual quando a vida termina

Com terra em cima e na horizontal

Essa espécie de comércio da sociedade que quer nos empurrar certo brasileiro isento de impurezas anda contaminando excessivamente certo corpo docente. Originais? Não. Ao contrário, a moléstia acadêmica é pura, aliás, eles não se intimidam com a razão, enfrentam a morte de suas análises com uma coragem indescritível. Mas por que seriam prudentes? Suas imortalidades nos assentos divinos nos mosteiros acadêmicos têm como verdade cultural a mesma dos magistrados peregrinos. A felicidade divina lhes é garantida com o diploma, mesmo que este venha acompanhado de um pensamento doente, mas jamais forasteiro. A fisionomia de piedade não cai bem aos que têm a sagrada missão de produzir a sobrevivência das almas através da mais alta elevação do gênero da raça. Essa gente escolhida a dedo por Deus é de fato o denominador comum do contrário. Ela é ímpar no fogo frio. Supomos que empilhar palavras seja o exercício que substitui o raciocínio em determinados homens capazes das maiores estripulias acadêmicas.

Certamente eles não andam nas ruas do Brasil, pois o sol é muito quente. Levam consigo a soberba de um lorde, na grife de sua casaca ou na fachada do seu prédio. Não há nada pior neste país do que a cólera culta. Essa gente que se aproxima da vida somente após o por do sol. Imaginem isso num país extraordinariamente alegre! Mas para eles, essa alegria, essa riqueza vem do baixo ventre, vem dos pedaços de pau ou da pedra lascada. Esses análogos tentam, por distração talvez, esquecer que aqui dentro existe um país, não como gênero, mas um país que tem narrativa própria, mesmo que seus ouvidos mocos e fugitivos não queiram ouvir o exame dos nossos argumentos.

Sempre prontos a nos desencorajar, essa demonstração de força contrária que vem dos castelos diplomados, jamais ergueu os olhos em direção ao país. São cheios de pudores, de destinos traçados, preferem beber o veneno do suicídio acadêmico do que ouvir o conselho que vem das ruas. A incorreção de suas linguagens sobre o Brasil não se recomenda ao pior inimigo. A moralidade de plantão que vive de palavra em palavra sugerindo a morte do nacional em nome do universal, é escrito no Brasil por ensaístas provincianos há quinhentos anos. E hoje, mantendo a tradição e a ordem cronológica, os guardiões da causa intelectual, universal julgam legislar em causa própria. Aristocratas e primitivistas suas associações pitagóricas são de um beque de fazenda que dão um bicudo acadêmico para onde o nariz aponta, tentando assim criar a república das leis culturais. Uma república que por definição é enigmática e sem ação. Mas julgam eles que foi anunciada por Deus.

O grande problema é a sobrevivência das almas, assim suponho. No caso do Brasil jamais dependeu desse raciocínio, ao contrário, as nossas numerosas formas de nos relacionarmos com as expressões artísticas sempre se apresentaram a partir do calor das nossas próprias opiniões. Como se vê na prática os exemplos citados por conseqüências morais da mais sábia corte não conseguem persuasão possível para condenar ou destruir nossos órfãos. O que esperam de nós? Seguiremos seu conselho, doutor? A natureza de nossas almas carece do raciocínio superior do seu diploma? Sim. Quer que eu seja suficientemente fraco para compreender as suas recomendações? Mas quais são elas? Sabe mesmo o que diz? Tem uma lógica objetiva do que fala? Creio que não. Parece-me mais um possuidor de inteligência artificial de empilhadeira de papéis desencontrados entre a antiga tradição e o virtuosismo técnico. Atordoados, perturbados, incapazes de distinguir suas próprias pernas, por isso tantos tropeços.

Precisamos falar mais do primitivismo global que afasta as pessoas do sentido real. A unidade fracionada nas citações, mas unidas na incapacidade de compreender as realidades, já ultrapassou, sobretudo no Brasil, o limite da estupidez. Está na hora de bater as panelas debaixo das janelas dos monges pra ver se tiramos os ácaros e as naftalinas que impedem a progressão da nossa soberania cuja dominação depende da presença massiva, geração após geração, dos proprietários da cultura de opinião comprada e contrária ao Brasil, mas que infelizmente carregam com eles ainda, em pleno 2010, a cera e o anel dos diplomas das academias brasileiras de arte.
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**William Blanco Abrunhosa Trindade (Belém do Pará, 8 de maio de 1924) é um arquiteto, músico, compositor e escritor brasileiro.
Atraído pela música desde criança, quando começou a compor tinha o cuidado ao escrever seus sambas, com letras elaboradas, assuntos e composições das canções.
Nos anos de 1940, quando cursava o segundo ano de engenharia, foi para São Paulo, para fazer o curso de arquitetura, ingressou no Mackenzie College em 1946. Foi para o Rio de Janeiro, e estudou na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes, em 1948. Graduando-se em 1950, em arquitetura.
Fonte: http://www.culturaemercado.com.br 28/08/2010

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