quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tony Blair - Entrevista

''Tornar-me católico foi como voltar para casa''


O ex-primeiro-ministro britânico (na foto, ao lado de Bento XVI)
fala da sua conversão: "Se eu tivesse anunciado
a minha adesão à Igreja de Roma
quando era primeiro-ministro, a mídia pularia em cima de mim.
Por isso, esperei".


A visita de Bento XVI dá a ocasião para que Tony Blair fale pela primeira vez sobre a sua decisão de se converter ao catolicismo. O ex-primeiro-ministro trabalhista falou sobre isso na manhã do último domingo em uma entrevista ao segundo canal de rádio da BBC.

Entrevista.

O senhor se encontrou com o Papa. Que efeito isso lhe produziu?
É uma pessoa muito gentil e inteligente. A qualidade da sua mente às vezes faz com que ele seja descrito como distante e frio, mas eu senti que ele é imensamente cordial e caloroso. É um grande intelectual, mas também uma pessoa simples, dotada de grande humanidade. Acho que isso ficou evidente ao longo da visita.

A sua conversão ao catolicismo, há dois anos, gerou muita discussão. Por que o senhor se converteu?
Foi como voltar para casa. Fui atraído pelo fato de que o catolicismo é uma religião universal, presente em todos os países. E é a religião da minha mulher e dos meus filhos. Para mim, abraçar o catolicismo não quer dizer faltar com respeito à religião anglicana, mas apenas encontrar a casa mais adequada para mim. Além disso, sou um defensor da comunhão entre todas as fés cristãs, assim como do diálogo com as outras fés, o que é o objetivo da minha fundação.

Por que o senhor esperou deixar de ser primeiro-ministro para se converter?
A decisão já estava tomada, mas, se eu tivesse feito isso durante o período em que era primeiro-ministro, a mídia pularia em cima de mim. Eu já tinha bastantes problemas.

O senhor recebeu uma educação religiosa?
Sim e não. Minha mãe era anglicana, mas não muito praticante. Meu pai é ateu. Depois, em Oxford, durante a universidade, um professor extraordinário fez com que eu me aproximasse da fé, permitindo-me entender que religião e razão podem conviver. Eu tinha um desejo de religiosidade, e o encontro com aquele professor me permitiu satisfazê-lo.

Ser católico não lhe coloca em contradição com as leis promulgadas pelo senhor, sobre o aborto, a contracepção, sobre a pesquisa científica?
Eu tenho as minhas ideias e as mantenho também agora que sou católico. Estou certo de que muitos católicos têm ideias diferentes de algumas doutrinas da fé, mas isso não lhes impede de se definirem como tais.
Uma vez, o seu porta-voz Alastair Campbell disse que, em Downing Street, "não nos ocupamos de Deus". E o senhor mesmo, mais tarde, revelou que lhe teriam tomado por louco se se ficasse sabendo que o senhor rezava e pedia o conforto do Criador.
É um problema da nossa cultura europeia. Quando Obama termina um discurso com as palavras "Deus abençoe a América", ninguém se admira. Eu também tive vontade dizer às vezes "Deus abençoe a Grã-Bretanha", mas aqui entre nós não se pode fazer isso, senão somos acusados de ser uma teocracia ou algo do gênero.

A fé mudou o seu modo de fazer política?
Deu-me mais coragem ao tomar certas decisões. Não é que eu vá para um canto e peça a Deus: devo aumentar o salário mínimo? A fé não te ajuda a decidir o que é certo, mas te dá a força para decidir.

Até quando a decisão é uma guerra que provoca milhares de mortos?
É uma decisão muito difícil. Mas decidir por não intervir, como na Bósnia ou na Rússia, também pode provocar milhares de mortos.

O senhor reza frequentemente?
Rezo. E leio a Bíblia. E também o Alcorão. Também o li ontem à noite. Ele me ajuda a entender como as nossas religiões são semelhantes. O século XX foi o século dos conflitos teológicos. O século XXI corre o risco de ser o dos conflitos religiosos. Mas podemos impedir isso com o diálogo, conhecendo-nos melhor. Como essa viagem do Papa também ajuda a fazer.
_________________________________
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 20-09-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU online, 22/09/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário