quinta-feira, 28 de outubro de 2010

As casas

Imagem da Internet

José Tolentino Mendonça*
As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se tênues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio

Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa
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*Poeta português, natural da Madeira. Iniciou a sua licenciatura em Teologia em 1982, depois de ingressar no Seminário. Depois de ordenado Padre em 1990, deslocou a Roma, onde terminou o seu mestrado em Ciências Bíblicas.
É professor de Teologia e Hebraico na Universidade Católica de Lisboa.
Exerceu, até 1999, o cargo de professor na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, onde leccionou Cristianismo e Cultura e Hebraico, desempenhando também as funções de Capelão da mesma universidade. Actualmente, frequenta um Doutoramento na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
A sua poesia é considerada, unanimemente, como uma das mais rigorosas e originais da moderna poesia portuguesa.
Da sua obra destaca-se Os Dias Contados, Longe Não Sabia, A Que Distância Deixaste o coração, Baldios e De Igual para Igual.

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