quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Por que o Twitter é tão popular no Brasil?





Uma recente visita à lista mundial de tópicos mais comentados do Twitter mostraria uma mulher chamada Senhora Aparecida listada abaixo do nome David Arquette e da palavra midterm. O fato de a padroeira do Brasil, na véspera do dia da sua festa nacional, estar situada perto da separação mais recente entre as celebridades norte-americana (Arquette e Courteney Cox) e o chavão político dominante dos EUA não deveria provocar nenhuma surpresa entre os usuários do Twitter, dada a regular aparição de frases em português na tabela de popularidade da rede social.

Um novo estudo publicado neste mês pela comScore, empresa de marketing digital, constatou que 23% dos usuários de Internet no Brasil – em comparação com os 11,9% dos EUA – visitaram o Twitter em agosto passado, a mais alta taxa de participação de qualquer país do mundo. "Os brasileiros têm sido vorazes", diz Katie Stanton, vice-presidente de vendas e marketing internacionais do Twitter.
Os norte-americanos ainda são a nacionalidade mais bem representada entre as 160 milhões de pessoas que usam o Twitter, um site de compartilhamento de informações criado em 2006 por uma dupla de engenheiros de software de San Francisco. Mas o tráfego internacional do Twitter agora responde por 65% do conteúdo total do site, com seguidores crescentes na Europa e na Ásia.
No Brasil, o site tem esculpido um nicho verdadeiramente especial. Em um país conhecido pelo seu enorme abismo entre ricos e pobres, o Twitter conseguiu superar a divisão de classes. "Não é algo só para ricos brasileiros", diz Gabe Simas, que promove bandas adolescentes para a MTV Brasil por meio do Twitter. "A principal razão pela qual o Twitter é tão grande no Brasil é porque ele permite que pessoas normais entrem em contato com os seus ídolos." Na verdade, as estrelas de futebol do país estavam entre os primeiros fomentadores do Twitter. Para dar um exemplo, Ricardo Izecson dos Santos Leite, também conhecido como Kaká, tem 2 milhões de seguidores no Twitter, ou cerca de um milhão a mais que a estrela da NBA LeBron James.
O sucesso do Twitter no Brasil, diz James Green, professor de estudos brasileiros e portugueses da Brown University, está intimamente ligado à história da ascensão do país da sombra do autoritarismo ao seu recente status como uma potência global emergente. Depois de uma ditadura militar de 21 anos, que terminou em 1985, um conjunto restrito de conglomerados midiáticos ajudou a unir a emergente sociedade civil do país.
Apesar de sua imensidão geográfica – que vai dos confins da Amazônia até às suas metrópoles no Atlântico –, o país está acostumado com a falta de diversidade em sua mídia. Então, quando o Twitter chegou, os brasileiros estavam prontos para abraçar esse último fenômeno midiático. "Há uma forte consciência da importância e do poder do país, e o fato de que o Brasil está longe do resto do mundo motiva os brasileiros", diz Green. "Há uma sede imensa para descobrir qual é a última tendência".
Grande parte da transformação do Brasil pode ser vista por meio da disseminação das telecomunicações e do crescimento das mídias sociais. Com linhas de telefone uma vez reservadas às elites ricas, milhões de pessoas inverteram a defasagem desses anos por meio de telefones móveis como sua conexão primária. Essa mudança funcionou bem com o Twitter, que entrou no mercado brasileiro primeiro como um serviço de SMS.
Para enfrentar a brecha entre ricos e pobres, tanto o governo quanto ONGs privada procuraram introduzir a tecnologia do computador entre as classes mais pobres logo no início da década de 1990. "O Brasil foi pioneiro na criação do acesso democrático a computadores e à Internet para os pobres, bem à frente dos Estados Unidos", diz Green. E, embora muitas favelas ainda estejam excluídas da rede elétrica, o "Projeto Computador para Todos", que visa instalar computadores baratos em áreas mais pobres, tornou-se um modelo em todo o mundo.
A participação cívica de uma classe média antes inexistente também fomentou a ascensão do Twitter no Brasil. O próximo segundo turno no Brasil, que será realizado no dia 31 de outubro, foi o tópico mais comentado do Twitter na primeira semana do mês, de acordo com uma pesquisa publicada pelo site de mídias sociais Mashable.com. "Há um grande preconceito na mídia contra Lula", diz Green, referindo-se ao atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o paladino dos pobres do Brasil, que tem apenas a quarta série completa. "A Internet é uma forma de lutar contra isso". A sucessora escolhida a dedo por Lula, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira de esquerda, é a favorita para ganhar o segundo turno sobre o candidato de centro-direita, José Serra.
Os brasileiros têm acolhido bem outros sites de mídia social além do Twitter. A aventura em mídias sociais da empresa Google, o Orkut, teve pouco sucesso nos EUA, mas, no Brasil, o site foi o beneficiário de 36 milhões de visitas únicas em agosto, segundo a comScore. O Facebook também está decolando no Brasil. Em apenas um ano, o Facebook teve um crescimento de 479% no número de membros, saltando de um milhão para 9,5 milhões de membros brasileiros. É um fenômeno que está plantando raízes profundas. "Minha irmã tem 10 anos. Minha avó tem 82 anos", diz Simas, da MTV Brasil. "E ambas têm Twitter".
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* A reportagem é de Dan Fastenberg, publicada no portal da revista Time, 20-10-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto
Fonte: IHU online, 28/10/2010

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