domingo, 31 de outubro de 2010

STEFANO DOMENICALI - Entrevista

CHEFE DA EQUIPE ITALIANA DIZ
QUE PROBLEMA DE MASSA
 NÃO É SÓ PNEU E QUE EM 2011,
MESMO COM O PARCEIRO CAMPEÃO,
DISPUTA COMEÇA DO ZERO

A fala mansa e o jeito amistoso podem até enganar à primeira vista. Mas, após atravessar uma das maiores crises da Ferrari nos últimos anos ao inverter as posições de Felipe Massa e Fernando Alonso no GP da Alemanha, Stefano Domenicali, 45, mostrou estar preparado para lidar com situações difíceis.
Como Schumacher,
Alonso está deixando a Ferrari
do seu jeito


Bastante criticado, o italiano diz que não se preocupa com o que dizem. "Se fosse me incomodar com o que falam, não estaria neste cargo", disse Domenicali à Folha na Coreia do Sul, antes da vitória que deixou Alonso na liderança do Mundial de F-1 e perto de faturar o título em seu primeiro ano como piloto do time de Maranello.
"Fernando se parece muito com o Michael [Schumacher] em várias coisas. Em pouco tempo, já está deixando a equipe como ele gosta."

Folha - Mesmo que a Ferrari não ganhe nenhum título, considera este um bom ano?
Stefano Domenicali - Temos que ser realistas. Considerando a situação deste ano e o fato de a Red Bull ter feito um grande carro, para mim, é um milagre que estejamos aqui lutando pelo título. Na Ferrari, se tivéssemos um carro como o deles, o campeonato já teria terminado. Tivemos uma parte difícil no ano, com muitas críticas, muita pressão, mas o mais importante é reagir, manter as pessoas concentradas no trabalho, e esta recuperação rápida significa muito.

Isso tem alguma relação com a chegada do Alonso?
Quando falamos em equipe, todo mundo é importante para o sucesso. Dos engenheiros aos mecânicos, os pilotos, cada um tem que fazer sua parte para o time vencer. Já conhecíamos muito bem o Felipe, sabíamos de sua força e conhecíamos no papel a força do Fernando. Ele nos mostrou do que é capaz e estamos muito satisfeitos. Queríamos mostrar para ele como funcionamos como time e conseguimos. Temos muito o que melhorar ainda, mas ele já entendeu que a atmosfera aqui na Ferrari é única.

Você trabalhou com o Schumacher. Como compara o Alonso com ele?
Vejo duas coisas muito parecidas nos dois. Eles são muito focados na vitória, e o desejo de vencer é muito grande. Em pouco tempo, Fernando está deixando a equipe como ele gosta. Ele tem passado muito tempo em Maranello com os rapazes, está fazendo o possível para se integrar, não só profissionalmente mas também em um nível pessoal, o que também é importante.

Por outro lado, o Massa não teve um grande ano. Ele diz que o problema são os pneus. É isso ou há mais coisas?
Conheço o Felipe há muito tempo. Confio plenamente nele e quero deixar claro que ele é um grande jogador de equipe, um grande piloto. Quando fui criticado pela situação na Alemanha, disse que ninguém mais do que eu havia mostrado confiança nele, apesar de muitos me dizerem para me livrar dele, que ele não tinha capacidade para estar na Ferrari. Acho que em algum momento, quando não se tem uma temporada perfeita, você tem de olhar para você e reagir. Felipe sabe que o time está com ele. Sabe que estamos aqui para que ele seja o melhor piloto que ele pode ser. Mas não acho que [seu desempenho] esteja só relacionado aos pneus. É preciso colocar todos os elementos na sua frente e tentar entender quais os motivos para ter tido um ano que não é dos melhores.

Mesmo que o Alonso seja campeão, em 2011 ele e o Massa começam o ano zerados?
Sim, assim como neste ano. Os pilotos têm que saber qual é o interesse do time. Confirmo que o Felipe vai poder começar do zero em 2011, mas sempre sabendo que a Ferrari é o mais importante.

Espera algum tipo de reação no Brasil depois do que aconteceu no GP da Alemanha?
Não espero. Acredito muito nos brasileiros e espero que torçam pela Ferrari. Claro que mais pelo Felipe. Mas não espero nada negativo, porque, se isso acontecer, mostrará que as pessoas não são maduras o suficiente para entender o esporte. Mas não acho que será o caso.

Muita gente comparou o que aconteceu em Hockenheim com a Áustria, em 2002, com Schumacher e Barrichello...
São situações totalmente diferentes. Não quero entrar em detalhes, mas vou dar dois fatos. Daquela vez estávamos falando da última curva, da última volta. O terceiro carro estava quase uma volta atrás. Na Alemanha, ainda faltava 18 voltas para o fim da corrida, o terceiro carro [de Sebastian Vettel] estava se aproximando e o segundo [Alonso] era mais rápido que o primeiro. É uma situação completamente diferente.

Você foi duramente criticado neste período. Chegou a pensar em desistir?
Não, isso é parte da nossa mentalidade, nunca desistir. Em 2007, faltando duas corridas, o Kimi [Raikkonen] estava 17 pontos atrás. Tínhamos que torcer para um milagre para ficar com o título. Mas ganhamos. Você tem que fazer o máximo e acreditar. Se os outros forem melhores, paciência. Se alguém for melhor, é preciso aceitar, reagir e tentar melhorar no ano seguinte. Não somos maduros o suficiente no nosso esporte, no futebol também, e, para mim, temos a responsabilidade de desenvolver a mentalidade das pessoas.
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Reportagem por TATIANA CUNHA DE SÃO PAULO

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