sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Chega de pobreza

Célia Siqueira Farjallat*

A situação social do Brasil é um caso de polícia, declarou recentemente o professor de pediatria da Escola Paulista de Medicina Fábio Ancona Lopes, citando palavras pronunciadas há mais de meio século, pelo presidente da República, Washington Luís.
O professor Ancona compara o Nordeste às áreas mais carentes do continente africano e da Ásia e alerta para um fato muito preocupante: a redução da estatura média do brasileiro, verificação feita de 1950 até hoje, em decorrência da desnutrição. Aliás, a denúncia foi feita de 1950 até hoje, em decorrência da desnutrição. Depois, ela foi feita em palestra no último Congresso Brasileiro de Pediatria Comunitária, no Rio. E embora o Brasil ocupe lugar importante na escala mundial, está em sexagésimo lugar quanto à falta de assistência social e tem o maior índice de mortalidade infantil da América, superado apenas por Haiti e Paraguai. E no Nordeste, em cada grupo de mil crianças, cem morrem antes de completar um ano. Ainda assim, a mortalidade infantil já caiu bastante, cerca de 40% de 1974 a 1984, em função das vacinas e da medicina preventiva.

“os povos inteligentes aprendem
da experiência alheia;
os medíocres aprendem
 por sua própria experiência, e
os ineptos simplesmente
não aprendem.”
(Bismarck)

Socorrer toda esta gente não significa distribuir esmolas. O grande equívoco de “tudo pelo social” é exatamente este: o distributivismo suicida, a tal democracia da pobreza, pregação astuta ou ingênua de alguns figurões políticos. A criança precisa, de fato, de ajuda incondicional, mas é a sua família que precisa ser estimulada para o trabalho. Mas quantos políticos preferem o populismo da opção pelos pobre! E isso é um absurdo total.
Para Benjamin Franklin, o melhor meio de fazer o bem aos pobres é não lhes tornar cômoda a pobreza, e agir de modo tal que deixem de ser pobres. Em nome do que se chama de “proteção social”, estamos consolidando uma república de prerrogativas, em que todos querem seus direitos e sua regalias. Se isso funcionasse seria ótimo.
Quando se fala em ajuda social, arrepio-me. Lembro-me do pensamento do Bismarck de que “os povos inteligentes aprendem da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência, e os ineptos simplesmente não aprendem.” E deduzo que a crença de que o Estado tem o dever de dar uma vida cômoda e farta para todo mundo, mesmo para os ociosos e parasitas, é sinônimo de indigência intelectual e moral. Ele tem de dar, isso sim, condições para que o cidadão trabalhe. Isso lhe basta.
Dizia o escritor Gilberto Amado que o primeiro dever do Brasil é enriquecer. Riqueza é sobrevivência. País pobre é quase sempre culpado da própria pobreza. País pobre é País burro.
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* Célia Siqueira Farjallat, cronista do Correio.
Fonte: Correio Popular online, 26/11/2010
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