quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Wikileaks e a caixa preta do Poder Público

 Danillo Ferreira*
Imagem da Internet
Os noticiários dos últimos dias tem dado conta de um fenômeno chamado Wikileaks. “WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis”. Para além dos fatos já revelados pelos ativistas da Wikileaks, é fundamental compreender o surgimento deste fenômeno, que revela muito da época em que vivemos, nos trazendo questionamentos éticos e indagações acerca dos conceitos de comunicação e transparência do poder público.
Em uma entrevista reveladora, o australiano Julian Assenge, fundador da Wikileaks, respondeu à seguinte pergunta: “como é possível que a Wikileaks tenha revelado mais segredos e descoberto mais furos nos últimos anos que toda a imprensa mundial junta?” Ele refaz a pergunta e diz: “Pois é… Como o resto da mídia de todo o mundo pode ser tão ruim que um grupinho de ativistas consegue revelar mais segredos do que o resto da imprensa junta?”.
É fantástica e revolucionária a existência de uma iniciativa que, não obstante suas limitações financeiras e logísticas, consegue realizar um trabalho que as megaestruturas da imprensa mundial sequer chegaram perto de concretizar. É inevitável formular uma teoria em que a mídia esteja comprometida com os ocupantes do poder público e as grandes organizações (e não é a mídia também formada por grandes organizações?). No mínimo, a inércia e a indolência própria de quem esteve por muitos anos tendo lucros com um trabalho relativamente estático acometeu a mídia, agora sacudida pelo recente fenômeno da internet.
Claro: milhares de profissionais de imprensa e jornalistas se esforçam diariamente para noticiar e trazer a verdade à tona, mas os donos das estruturas e os patrões desses profissionais precisam explicar por que organizações bilionárias ficaram a reboque de iniciativas prosaicas como a Wikileaks.
Por outro lado, a idéia que temos de democracia precisa ser refletida, pois se alguns procedimentos, como o sufrágio universal, nos fazem entender que vivemos democraticamente, temos uma intensa sonegação de informações do poder público, mesmo em sociedades tidas como exemplos de democracia. O que, exatamente, deve ser tido como “segredo de estado”? O que uma grande organização pode esconder da sociedade? Se estamos tratando de democracia, quais os selos que justificam que determinada informação não poderá nem deverá ser tornada pública?
"É fantástica e revolucionária
a existência de uma iniciativa que,
 não obstante suas limitações financeiras e logísticas,
consegue realizar um trabalho
que as megaestruturas da imprensa mundial
sequer chegaram perto de concretizar."
Não são poucas as vezes em que escândalos de corrupção são escondidos sob a alegação da integridade institucional. A internet, e o fenômeno das redes sociais, em que qualquer um pode expor publicamente pensamentos, opiniões e informações vem trazendo cotidianamente tensões do tipo, não sendo raro que notícias constrangedoras sejam publicadas, ao tempo em que grandes organizações e ocupantes de cargos políticos berram contra a possibilidade de transparência de suas ações e posturas.
Acredito que o fenômeno Wikileaks é um ponto alto do que a internet vem proporcionando: uma metodologia dinâmica de propagação e transmissão de dados acessível a qualquer pessoa do mundo. Alguns blogueiros policiais, por exemplo, já passaram por situações similares, guardadas as proporções, à de Julian Assenge, perseguido por ter imposto transparência ao “sistema”. Como tenho dito, é melhor as organizações, públicas ou privadas, aderirem e abraçarem a nova era da comunicação, ou tomarão cada vez mais ridícula e constrangedora a postura hermética.
_____________________
* Danillo Ferreira é Tenente da PM-BA e acredita na construção duma polícia cada vez mais imbuída de valores democráticos e humanitários, utilizando o conhecimento e a educação como alicerces destes objetivos. É membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Fonte: Blogosfera Policial- 15/12/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário