segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Férias em crise

GUSTAVO CERBASI*
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Desconectar? Nem pensar!
O mundo depende de nossa atenção
para continuar girando,
certo?

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FÉRIAS SÃO UMA instituição em crise. Esqueça o ideal que nos leva a imaginar nelas um período de descanso, reflexão, diversão ou renovação de conhecimento. Esse tipo de desfrute das férias está em extinção.
Estou de férias, concorrendo com a maioria da população que também tem filhos na escola ou que estuda.
Essa simples concorrência já torna praticamente impossível conciliar o merecido descanso com viagens tranquilas e um sentimento de paz. São filas para todo lado, itens de consumo esgotados e preços nas alturas. Todos querem fazer tudo ao mesmo tempo.
Os que têm filhos não descansam e ficam superconectados, pois crianças pegam fogo nas férias, agravando nossa já encalorada realidade tropical.
Azar dos pais que não conseguem abarrotar seus filhos com atividades! Os que ainda não contam com herdeiros podiam, há alguns anos, se orgulhar de um grau maior de liberdade, mas é assustadora a atual dependência que os profissionais têm de seus smartphones e tablets.
Para todo lugar que ando, vejo pessoas de férias, mas apenas dando uma conferidinha nos e-mails e nas planilhas enviadas por seus assistentes.
Desconectar? Nem pensar! O mundo depende de nossa atenção para continuar girando, certo?
Há também os que continuam escrevendo artigos nas férias, como eu. Não reclamo, pois meu status de independência financeira permite-me ter férias que duram 25% do ano.
Férias são, para mim, apenas uma menor dedicação ao que chamo de trabalho, com prioridade para a família.
Porém, elas são longas e me permitem ficar em casa enquanto muitos estão batalhando por atenção em algum balcão de atendimento.
"Para alguns, o estresse é físico,
decorrente do vaivém com as crianças.
 Para outros, é um estresse psicológico,
tentando esconder de si que
estão trabalhando de fato."

Lamento o que observo na vida daqueles que tanto batalham para sair de férias e, quando conseguem, entram em um período de intenso estresse.
Para alguns, o estresse é físico, decorrente do vaivém com as crianças. Para outros, é um estresse psicológico, tentando esconder de si que estão trabalhando de fato.
Para a maioria, trata-se de um estresse financeiro, em razão dos preços de temporada que nos obrigam a receber muito menos pelo que pagamos.
Costumo ironizar com amigos, usando a frase ""não vejo a hora de voltar a trabalhar, para poder descansar". Alguns amigos meus passaram a usar a mesma frase, mas, para meu espanto, estão falando sério!
Algo precisa mudar, e o caminho para a mudança, como sempre prego, é o planejamento pessoal.
Em primeiro lugar, conscientize-se: programas de lazer e viagens costumam custar, na temporada, mais do que o dobro do preço praticado na baixa estação.
Para fugir do ""agora ou nunca" da temporada, aprenda a curtir passeios e viagens em feriados prolongados ao longo do ano. Estimule amigos a fazer o mesmo, para compartilhar suas boas escolhas.
Mesmo quem tem filhos na escola pode contar com as chamadas ""semanas do saco cheio" (o equivalente tropical do "spring break" do hemisfério Norte) para uma escapadinha prolongada.
Outro ponto importante: desconecte-se. Se quiser levar seu tablet na viagem, faça-se o favor de esquecer o carregador. A desculpa dos livros digitais tem feito muita gente ficar 24 horas respondendo a e-mails.
Reprograme-se, olhe a paisagem ao redor, adote um estilo de vida diferente.
Muito se tem falado na mídia sobre períodos sabáticos. Siga para suas férias as dicas de como se preparar para um sabático: são requisitos fundamentais contar com reservas financeiras adequadas, desconexão total da rotina do trabalho, jogo aberto de seus planos com a família e delegação de suas tarefas a alguém que seja competente para ficar em seu lugar caso não volte.
Você teme que esse alguém competente realmente assuma seu lugar na volta? Ótimo! Use o ócio criativo de cada um de seus períodos de férias para pensar em um plano B, um novo rumo a seguir caso sua estabilidade seja interrompida.
Uma mente bem descansada não terá problemas em se reinventar.
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*GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar Sua Vida Financeira" (Campus). Internet: www.maisdinheiro.com.br
@gcerbasi
Fonte: Folha online, 17/01/2011

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