sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ops! Minha mãe está no Facebook

María R. Sahuquillo

As redes sociais põem à prova a relação entre gerações. Os pais querem seguir os filhos para supervisionar suas vidas. Os especialistas se dividem diante da pressão à intimidade do menor.
Tens 30 anos, mas tua mãe não sabe que fumas. Até agora. Alguma fotografia marcada na internet te delatou. Jamais teu pai pôde te escutar, exceto de passagem e por acidente. As conversas picantes que tens com teus amigos, tens certeza que faz alguns meses que ela as lê. Tudo à mão no Facebook e outras redes sociais.
O que começou sendo um espaço para universitários, jovens e adolescentes se converteu em um lugar plural no qual convive gente de todos os perfis, onde interatuam pessoas de três gerações, com suas vantagens e desvantagens, como a mistura de contatos. E isso não agrada todas as idades. Muitos adolescentes se queixam que isso é uma invasão do que consideram seu espaço virtual, por parte de seus pais, a quem acusam de espiar seus perfis e ser indiscretos em seus comentários.
Cada vez são mais pais que solicitam entrar no círculo de amigos de seus filhos. Esse passo lhes outorga, como qualquer amigo virtual, exceto restrição específica, permissão para seguir suas conversas, publicações e ver suas fotografias. Assim, para alguns pais, as redes sociais são como adicionar-se à janela da vida social dos filhos, algo que, provavelmente, de outra forma nunca conseguiram.
Mas não só eles estão no Facebook, Twitter, Hi5... Chefes e companheiros de trabalho compartilham espaço na internet. Incluí-los nas redes sociais significa abrir uma fresta à vida e à personalidade fora do espaço do trabalho. E nem todos são conscientes do que isso significa. Para alguns especialistas, essa convivência virtual fortalece as relações familiares e de trabalho. Para outros, não faz se não prejudicá-las. Todos eles avisam: cuidado com os dados, os comentários e as fotos compartilhadas na rede.
Odeio que meus pais estejam no Facebook. Não à invasão de pais nas redes sociais. Zero pais no Facebook... Grupos como esses, contra a entrada de pais nas redes sociais proliferam. Têm uma explicação: cerca de 70% dos pais que têm Facebook – uma das redes sociais com mais usuários, 500 milhões em todo o mundo – enviou a seus filhos solicitação de amizade. E, em contrapartida, 39% dos filhos que aceitaram o pedido, recusaria se pudesse, segundo uma pesquisa realizada pela consultora Nielsen para a companhia de serviços digitais AOL. A investigação – realizada com uma amostra de 1024 pais e 500 adolescentes entre 13 a 17 anos – revela que, em 41% dos casos, aceitar a amizade é requisito indispensável para ter permissão para usá-la. E, mais além, segundo os autores do estudo, uma alta porcentagem dos pais utiliza as redes sociais para ver como se comportam seus filhos.
Artemio Baigorri, professor de Sociologia da Universidad de Extremadura e membro do Observatorio de Cibersociedad, sustenta que muitos pais que até agora viam com autêntico pânico a erupção das redes sociais e o usos que seus filhos faziam delas perderam o medo e passaram diretamente à ofensiva. “Começaram a utilizá-las, muitos deles simplesmente para ver o que são. Outros diretamente para controlar”, diz. Contudo, faz uma precisão: “Esse salto à rede se produziu, sobretudo, nas classes médias. Não esqueçamos que nem todo o mundo tem acesso à internet e que muitos pais seguem sendo analfabetos digitais.”
Pais curiosos, temerosos e controladores sempre existiram, diz, mas, para esse sociólogo especialista em tecnologias da informação, as redes sociais conseguiram que a porcentagem desses, que tentam averiguar o que seus filhos fazem através das redes sociais, seja muito maior que os que antes se davam por um passeio pelas zonas de bares ou pelas portas de discotecas para ver o que seus filhos faziam. “O Facebook e outras redes similares facilitam e modificam as relações sociais. Também entre pais e filhos, como já aconteceu com o telefone móvel, um instrumento que se converteu em cordão umbilical com a família, que gerou mais liberdade, mas também incrementou o controle para os filhos”, diz Baigorri, que sustenta que a exposição da vida nas redes sociais nos retrai às sociedades rurais de décadas atrás, nas que o olho do pai do grupo sobre o comportamento do indivíduo era total. “É como viver permanentemente em um pátio de vizinhos”, considera.
O uso e a necessidade de controle paterno, entretanto, dependem da idade. Não é o mesmo o uso que faz um adolescente de 13 anos que um jovem de 18. Também não os perigos aos que se enfrentam – e as armas para fazer-lhes frente – são os mesmos. Nem os medos dos pais.
Rosalía de Miguel permite que sua filha Ana, de 14 anos, esteja em uma rede social com uma condição. “Que me agregue como amiga para que eu também veja o que se faz nessas páginas”, conta. A menina cumpriu o trato, mas sua mãe reconhece que a adolescente não acha muita graça tê-la na sua lista de amigos. “Eu não faço comentários públicos, mas admito que talvez não seja muito legal que os amigos vejam que tem a mãe na página. Estão em um momento e em uma idade que não se dão conta dos riscos da internet e querem sua liberdade e privacidade acima de tudo. Eu busco não tirá-la, nem invadi-la, só compartilhar com ela um espaço que está sendo cada vez mais importante em sua vida”, diz De Miguel.
Guillermo Cánovas, presidente da Protégeles, uma organização de proteção à infância frente a novas tecnologias, não está de acordo com De Miguel. “Achamos bom que os pais entrem nas redes sociais para ver seu funcionamento e os riscos que elas provocam. Que as conheçam. Também é conveniente que o façam para que possam falar o mesmo idioma que seus filhos, para saber se é fácil ter um perfil, ou ver uma fotografia se não estás adicionado como amigo; mas existe um limite, tem que conjugar isso com a privacidade dos menores”, diz. “Permitir seu acesso ao círculo de amigos, que uns pais observem as conversas que estão tendo seus filhos em uma rede social é como se pusessem um microfone no banco do parque em que se reúnem para escutar o que falam com seus amigos. De fato, nenhum pai conceberia fazer isso no pátio do colégio”, acrescenta.
"Cánovas explica que o importante é
educar os menores para que aprendam
a utilizar as redes sociais,
se se faz assim, não tem
por que ter medo."
Aponta outro detalhe: “Aqueles pais que entram no perfil de seu filho têm que ter em conta que estão invadindo não só a privacidade desse, mas também a de outros menores cujos pais, além disso, podem não estar de acordo que um adulto, apesar de que seja pai de um amigo de seu filho, possa ver as conversas ou as fotografias de seus filhos”. Sustenta ainda que sua presença pode restringir a liberdade do menor: “Se tem seu pai agregado, terá em conta que pode ver todos os comentários que faça, por exemplo”.
Cánovas explica que o importante é educar os menores para que aprendam a utilizar as redes sociais, se se faz assim, não tem por que ter medo. “Se trata de que os perfis dos menores de 18 anos sejam, por padrão, privados. Assim, solicitei à Comissão Europeia e as empresas já se comprometeram a isso. Também se deve conscientizar os próprios menores que só aceitem como amigos nas redes sociais pessoas que conheçam fisicamente. Se aceitam e cumprem essas normas não é possível que estranhos entrem em seus perfis”, diz o presidente da Protégeles.
Os membros dessa organização, que ministra oficinas para pais e menores, dão um exemplo do que reflete os riscos da rede: “antes de compartilhar uma foto na internet tens que pensar se tu gostarias que a tua família ou o teu chefe a veja dentro de 10 anos... Uma vez que a imagem está na rede, mesmo que tenhas subido de forma restrita a certos usuários, poder acontecer que se difunda em âmbitos que não havias pensando. Um amigo pode copiá-la, por exemplo, e distribuí-la...”, explica Cánovas. Teoricamente os menores de 14 anos não podem ter um perfil nas redes sociais, mas, na prática, esse dado é difícil de comprovar e os perfis de adolescentes de 13 anos ou menos existem. De fato, o perfil de 77% dos menores que usam as redes sociais não está protegido e é visível ao resto dos usuários, segundo dados do Observatório Nacional das Telecomunicações e da Sociedade da Informação.
Alonso Hurtado, advogado especializado em novas tecnologias, sustenta, contudo, que o contato entre os menores e seus pais na rede pode ser positivo. “Na medida em que seja o menor quem aceite livremente ao pai como contato, está bem. Tudo depende da finalidade para que o pai busque ser contato do menor; não tem por que ser para lhe espiar. Mas para ter também uma vínculo nas redes sociais que são cada vez mais parte da vida”, diz.
Compreende a incerteza e a curiosidade dos pais para ver a que dedicam o tempo seus filhos na rede. Também por conhecer com que falam nela. “Um pai pergunta a seu filho com quem vai ao parque e fazer o quê. Na internet é o mesmo”, diz.
Um estudo realizado por pesquisadores da London School of Economics, e publicado no Journal of Youth Studies, entre universitários de 21 a 26 anos, revela que os jovens constroem seu perfil da rede social e seu círculo de amigos virtuais como seu mundo privado. E dentro dessa privacidade os pais não são bem-vindos, afirmam. As razões são várias, desde a vergonha de que os pais possa ver as fotografias ou comentários comprometedores, até a preocupação de que a mãe se veja exposta e se veja vulnerável na rede. Por essa razão, são muitos os que prefeririam não agregar seus pais como amigos. Mesmo os entrevistados também reconhecem que o fariam para não ferir seus sentimentos.
Assim fez Héctor Freire. Há um ano foi viver em Londres e sua mãe lhe enviou uma solicitação de amizade no Facebook. “Homem, muita graça não me fazia, sobretudo porque não me agradava que visse minhas fotos ou alguns comentários... Mas me dava uma coisa dizer-lhe que não”, conta o jovem de 22 anos. Então, aceitou, e depois se inteirou que podia restringir seu perfil para que alguns usuários não vissem toda suas informação: os comentários em seu mural, suas fotos ou vídeos... Assim o fez. “Criei grupos e assim decido o que quero compartilhar com cada um. Na verdade, não me agrade que minha mãe ou alguns amigos vejam determinadas fotos ou comentários”, conta. Uma vez feito isso, fica muito prático o contato através da rede social: “Minha família sabe que eu estou bem, veem o que eu faço e me livro do eterno e típico correio eletrônico em que, por anos, tive que contar, tim-tim por tim-tim, até o que tinha comido.”

Educar em privacidade

- As páginas das redes sociais como Facebook ou Tuenti já têm mais de 900 milhões de usuários em todo o mundo.
- Os especialistas recomendam educar os menores sobre a privacidade das redes sociais. Um bom método para alguns consiste em começar a utilizá-las com eles. Assim, os pais conhecem um pouco mais essas páginas e ajudam o menor a configurar a privacidade de seu perfil.
- Os menores de 18 anos devem ter um perfil privado, em que só possam acessar os amigos adicionados. Além disso, recomenda-se aceitar unicamente pessoas a quem se conheça fisicamente.
- A maioria das redes sociais permitem configurar os perfis de tal forma que se podem criar grupos aos que se outorgam certos direitos: ver fotos ou não, poder comentá-las, ler os comentários que os outros amigos fazem em seu perfil...
- Antes de subir um vídeo ou uma fotografia, ou permitir que se marque, os especialistas recomendam fazer essa pergunta: Gostaria que sua família visse a imagem? E seu chefe dentro de dez anos?
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Autor: María R. Sahuquillo
Fonte: Unisinos e http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/

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