segunda-feira, 28 de março de 2011

A atualidade da cristologia fílmica

Imagem da Internet: Willen Dafoe foi Jesus em 
'A última tentação de Cristo', de Martin Scorsese

O historiador Luiz Vadico* examina a importância dos filmes sobre Jesus Cristo no debate acerca de sua figura histórica e por que essas produções continuam a despertar tanto interesse

A vida de Cristo inspirou e continua inspirando um sem-número de produções cinematográficas. De acordo com Luiz Vadico, “dados relativos à qualidade da produção, a junção com o calendário religioso, e agora a facilidade de obtenção destes filmes que se tornaram clássicos do imaginário popular, são dados que permitem que essas produções sejam continuamente vistas e revisitadas”. Analisando a apreensão “pop” da imagem de Jesus Cristo, Vadico acentua: “acredito que ser ‘pop’ é muito pouco para Ele. Ele é considerado Deus, está para além do humano sem deixar de sê-lo. Então, não pode entrar de qualquer forma num panteão organizado pela mídia. Dizer que ele é um ícone pop significa exatamente isso, remetê-lo à geleia geral”. E arremata: “É necessário encontrar uma expressão digna, justa e santa daquilo que é sagrado para todo o Ocidente. Deus precisa ser propagado, mas ele não é mercadoria”. As afirmações fazem parte da entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

IHU On-Line - Qual é a importância da cristologia fílmica no debate acerca do Jesus histórico?
Luiz Vadico - A sua questão é bastante interessante. Ela pode ser observada sob diversos ângulos e aspectos. O mais direto seria inicialmente: “o que a pesquisa relativa ao Jesus histórico afeta a produção fílmica”. O século XIX é conhecido como um momento em que se manifestou um profundo gosto pelo realismo, e aí o realismo considerado sob todos os aspectos, imagens naturalistas, locações autênticas, cenários adequados, vestimentas das personagens o mais autênticas possíveis. Enfim, o gosto pelo realismo, que já fazia parte do cotidiano do século XIX, estende-se para as primeiras produções cinematográficas e nelas finca fortes raízes.
Neste sentido é importante notar que três filmes importantes do início do cinema possuíam uma forte influência do orientalista francês James Tissot , que havia, imbuído do espírito de pesquisa, viajado à Terra Santa para realizar aquarelas que tivessem o espírito do local, para criar personagens para seus quadros que tivessem a expressão facial e racial da população local. Uma busca pelo verdadeiro “rosto” de Jesus Cristo, realizada através da visita aos locais sagrados, recolhendo traços, paisagens, edificações, detalhes estes que comporiam as importantes aquarelas que realizou e publicou sob o título de Vida de Cristo, estas, por sua vez, fariam imenso sucesso e seriam utilizadas como referência nos filmes La Vie et la Passion de Jesus Christ (Zecca/Nonguet/1902-3), La Vie du Christ (Alice Guy/1906), e Da Manjedoura à Cruz (Sidney Ollcott/1912). Este último filme também apontava para o gosto do real acima de tudo, uma vez que ele foi apropriadamente realizado na Terra Santa. Como vemos, neste caso temos uma relação direta entre “pesquisa sobre o Jesus histórico” e o cinema também considero Tissot entre aqueles que se dedicaram a estes estudos.

Dois Messias
Em outro momento importante da história dos filmes de Cristo, observamos que o diretor Nicholas Ray propõe em seu filme Rei dos Reis (1961) a possibilidade de dois messias: um da paz (Jesus) e outro da guerra (Barrabás), e não é coincidência que também existia referência a dois messias em textos dos antigos essênios, descobertos recentemente àquela época, em 1947, nas cavernas do mar Morto, em Qunram.
Observaremos esta relação de Jesus com os essênios uma vez mais em A Última Tentação de Cristo (1988), de Martin Scorsese, mesmo que ela tenha vindo de segunda mão, pois deriva do romance do qual o filme foi adaptado. Podemos notar a profunda pesquisa histórica relativa ao judaísmo antigo, realizada por Franco Zeffirelli, para o seu Jesus de Nazaré (1977) e que afeta a imagem final de Jesus deixando-o mais próximo ao judaísmo, em conformidade com a afirmação de judeidade do Cristo encontrada na obra de diversos autores como Jeremias.
Poderíamos ficar dias e dias perscrutando pequenos detalhes sobre como a pesquisa do Jesus histórico, em termos arqueológicos e acadêmicos, afetou as produções cinematográficas. No entanto, é fundamental que se perceba que a produção sobre o Jesus histórico chega mais rapidamente às telas do que as igrejas. Jesus está mais essênio em Rei dos Reis, ao mesmo tempo em que em A Última Tentação... A sua suposta ligação com os essênios é amadurecida e discutida.

IHU On-Line - Por que filmes que retratam Jesus continuam sendo tão atuais e assistidos?
Luiz Vadico – Várias razões cooperam para que estes filmes continuem sendo vistos, revistos, revisitados e sirvam ainda como modelos para os futuros filmes de Cristo. A vida de Jesus Cristo é para o Ocidente um assunto muito especial. Desde o início da história do cinema já se tinha isso muito claro em mente: quem irá fazer o filme deve ser um diretor bastante experiente, o cenário o melhor possível, os figurinos, os atores, tudo do bom e do melhor. Neste investimento também iam as novas tecnologias agregadas. No Primeiro Cinema a Paixão da Pathé já era vendida em cores em 1903 (pintada à mão); em 1927, Em O Rei dos Reis de Cecil B. DeMille, realizava-se a cena da ressurreição de Cristo em cores, utilizando processos ainda experimentais. No Brasil, colocavam-se atores atrás da tela para fazerem as “falas” dos atores do filme, durante a Semana Santa, para dar ainda maior realidade ao filme. É interessante lembrar que o mesmo se fazia com as imagens de Jesus e da Virgem na procissão da sexta-feira da Paixão. Dada essa condição de “coisa especial” do assunto, o filme também se tornava veículo de inovações e expectativas populares.
Também havia algo importante relativamente a estes filmes. Graças à sua existência, os cinemas podiam funcionar em feriados de dias santos; isso é curioso, pois funcionou igualmente para o Brasil e para os Estados Unidos. Então, projetar estes filmes era uma opção para burlar a proibição de manter as portas abertas. Aliado a este fato vem o calendário litúrgico. Muito cedo se associou a projeção de imagens da vida de Cristo, ou de produções com assunto religioso, a dias específicos do calendário religioso, Natal, Páscoa, Corpus Christi, etc. Isso possibilitou que todos os anos as pessoas esperassem ver este tipo de produção nos cinemas (atualmente este processo continua na TV). Não chega a ser “espantoso” pois também há a programação relativa às férias escolares, e às datas comerciais. Mas estes dados relativos à qualidade da produção, a junção com o calendário religioso, e agora a facilidade de obtenção destes filmes que se tornaram clássicos do imaginário popular, são dados que permitem que estes mesmos filmes sejam continuamente vistos e revisitados.
Claro, para além de tudo isso, existe também a questão afetiva. Aqueles que viram estes filmes na infância desejam revê-los ou mostrá-los para seus filhos, estes por sua vez são influenciados pelas novas atualizações da imagem de Jesus Cristo. Esperemos que seja um ciclo sem fim.

IHU On-Line - Jesus pode ser considerado um ícone pop? Por quê? 
Luiz Vadico - Madona é um ícone pop, Queen é um ícone pop, Michael Jackson é um ícone pop, Bhritney Speers, Rihana, Rick Martin, Bono Vox, Abba, Marilyn Monroe e Mickey Mouse são ícones pops. Todos eles. E podemos pensar em muitos outros. Você consegue encaixar Jesus Cristo aí?! Acredito que no sentido geral da palavra “pop” que só quer dizer “popular” ou de “massa” alguém poderia considerar Jesus Cristo como um ícone pop. O pop, porém, é um fenômeno cultural bem localizado no século XX (e adentrando o XXI). Podemos atualizar, e reatualizar, a imagem e até os ensinamentos de Jesus Cristo. Mas ele fez parte de um outro tempo, uma outra civilização.

Sem detrimento de qualquer uma das pessoas citadas, acredito que ser “pop” é muito pouco para ele. Ele é considerado Deus, está para além do humano sem deixar de sê-lo. Então, não pode entrar de qualquer forma num panteão organizado pela mídia. Dizer que ele é um ícone pop significa exatamente isso, remetê-lo à geleia geral. Ainda que a sua imagem possa ser explorada pelas mídias dessa forma, que ele possa ser propagandeado, etc., trata-se, sobretudo, de um profundo equívoco de quem quer que seja que deseje fazer Jesus Cristo ombrear com qualquer outra expressão humana que remeta ao banal, ao fútil, ou ao mercado de consumo.

Deus não é mercadoria
Não discordo das diversas formas que se utilizam para levar Jesus Cristo às multidões. Não discordo de padres e freiras que cantam e dançam e nem de reformas litúrgicas. No entanto, assim como os primeiros padres e pastores que se colocaram em uma posição de cuidado relativamente à produção de imagens, eu também assim me situo. É necessário encontrar uma expressão digna, justa e santa daquilo que é sagrado para todo o Ocidente. Deus precisa ser propagado, mas ele não é mercadoria. E é essa a distinção que podemos fazer: os ícones pops são mercadorias.
Você poderia ainda argumentar: “mas a imagem de Jesus Cristo já não vem sendo mercadejada no cinema e na TV?” Sim e não. Para cada uma das produções cinematográficas sempre houve discussão dos produtores com os interessados das diversas religiões envolvidas. E quando assim não aconteceram, alguns problemas e protestos ocorreram. Essa imagem pop de Jesus Cristo nasceu destas lutas entre o interesse de mercado e o interesse das religiões. Então, mesmo ela não pode ser tão pop quanto se imagina. Mas que fique claro – isto não significa impedir a criatividade artística, a expressão de fé de quem quer que seja ao fazer de Jesus Cristo uma leitura pessoal, muitas vezes projetada para uma coletividade. As novas leituras e imagens de Jesus que se criam a partir do audiovisual são um reflexo de nossa própria época, de nossa própria maneira de refletir sobre quem é Jesus. E isto sempre será algo bom e interessante.

IHU On-Line - Como surgiu o interesse em analisar produções cinematográficas cujo personagem principal é Jesus Cristo?
Luiz Vadico - O interesse surgiu por acaso. Eu havia apenas terminado meu mestrado em Multimeios na Unicamp (2000), que versava sobre o tema da viagem no Tempo em produções Hollywoodianas (e que acabou intitulado O 13º Macaco ou a Estratégia Social de Evasão do Tempo: um panorama sobre o tema da viagem no tempo em filmes de produção hollywoodiana), quando em visita a uma livraria, em Jaú, onde meus pais moram, um livro me chamou particularmente a atenção: A imagem de Jesus ao longo dos séculos (São Paulo: Cosac & Naify, 2000), livro de Jaroslav Pelikan , um respeitado historiador das religiões radicado nos Estados Unidos. Nessa obra Pelikan partia da ideia encontrada nos Evangelhos de que Jesus “é o mesmo, ontem e hoje” para indagar-se sobre o que havia mudado em nossa percepção sobre Jesus ao longo dos séculos, sobre se ele, para nós, era realmente imutável. O autor fez um grande percurso ao longo da história da arte. Após folhearmos atenta e avidamente o livro, notamos que ele não tratava das imagens de Jesus elaboradas no cinema e nem na TV. 
Ora, desde minha graduação em História, eu era um apreciador de tudo o que dizia respeito ao século I (século I A.C. e D.C.); já havia lido muito sobre as pesquisas relativas ao Jesus histórico e sobre a Roma Antiga; estava até mesmo ensaiando um romance que se passaria naquela época. De repente, a ideia encontrou terreno fértil: eu iria juntar dois assuntos que me fascinavam – Jesus Cristo (séc. I) e as transformações sociais causadas pelo Cinema. A isso se juntou um terceiro item: a minha formação com ênfase em História da Religião. Até então eu havia estudado o espiritismo no Brasil. Naquele momento eu não sabia dimensionar o tamanho do “problema” no qual estava adentrando. Eu nem imaginava que, ao dizer “imagem”, Jaroslav Pelikan também queria dizer “títulos cristológicos”, e que estes mesmos títulos cristológicos eram o próprio fundamento de uma área da Teologia chamada de Cristologia, coisas que fui aprendendo ao longo da pesquisa.
Aqui cabe citar uma curiosa coincidência. Barnes Tatum, outro teórico do assunto, na introdução de seu livro Jesus at the Movies: A Guide to the First Hundred Years (Santa Rosa: Polebridge Press, 1998), também se diz inspirado pelo livro de Jaroslav Pelikan. Penso que o tempo estava maduro para o florescimento do tema, pois vários livros foram publicados nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Escócia, acerca da representação de Jesus cristo no cinema. Vários ainda titubeando relativamente aos caminhos a serem seguidos. Mas, hoje, já contamos com bibliografia interessante e até mesmo farta.

IHU On-Line - Como é realizada essa análise?
Luiz Vadico - Em termos gerais, trata-se de uma análise fílmica. No entanto, ela é realizada por meio da verificação de alguns quesitos específicos do produto midiático “filme de Cristo”. Quando se trata de verificar a questão cristológica existe um a priori importante da análise: o filme deve tratar da vida de Jesus Cristo como um todo. Porque um título cristológico deve ser verificado no todo da vida de Jesus; por exemplo: ao se afirmar que Jesus é um profeta, devem-se observar na trajetória da sua vida, nos testemunhos que ele deu e que deram sobre ele, no que ele pregou e ensinou, as características que perfazem a figura do “profeta”, conforme esta é pensada no mundo bíblico. Assim, ele não é apenas chamado de profeta, mas possuímos elementos para afirmar que ele realmente é um profeta. Isso quando falamos em títulos cristológicos nos evangelhos canônicos.
Nos filmes realizados para cinema e para TV, apesar do seu conteúdo não possuir a qualidade sacral dos evangelhos, o mesmo processo deve ser realizado. Leva-se em consideração o todo da vida de Jesus como nos é mostrada na narrativa fílmica.
A partir dessa premissa, os outros elementos a serem considerados, são: a seleção do (s) filme (s); o texto de base; o texto fictício; o conteúdo imagético das cenas versus o conteúdo literal dos evangelhos; as afirmações verbais encontradas na diégese; a escolha dos atores (corpo de Cristo); a psicologia da personagem (plana, normal ou complexa); verificar as afirmações do cineasta; comparar o filme analisado e aqueles que o antecederam; o sentido do filme como um todo; o contexto histórico e social da produção; e, por fim, a recepção do filme por seus contemporâneos. Após a verificação de cada um destes itens temos condições de afirmar qual é a imagem cristológica que prevalece naquele determinado filme verificado. No entanto, cada um destes itens citados necessitam ser melhor explicitados. Neste caso, sinto que seria interessante remeter o leitor para um artigo nosso publicado pela Revista Alceu, da PUC-Rio, Cristologia fílmica: subsídios teórico-metodológicos para a análise da produção de imagens cristológicas geradas no cinema e na TV (Disponível em: http://acessa.me/b545).

IHU On-Line - O diálogo existente entre os diversos filmes sobre Cristo configura que tipo de alteração significativa na sua história?
Luiz Vadico - O fator comparativo possibilita contrastar inovações, sejam tecnológicas, narratológicas ou estéticas. Em diversos momentos da história do cinema a imagem de Jesus passou por elaborações fictícias, e a exibição pública - e repetição - ao longo da passagem do tempo, permitiu a sua consolidação cultural. Nesta questão colocada por você, o importante não é tanto as alterações na “história” quanto na interpretação da história. Um item marcante neste diálogo entre diversos filmes é o problema da “desculpabilização dos judeus” da morte de Jesus. Desde o início da história do cinema este problema surgiu. E é interessante notar como as diversas produções lidaram com esta situação. Algumas, como, por exemplo, o filme Rei dos Reis (1961), do diretor Nicholas Ray, traz um julgamento de Jesus por Pôncio Pilatos, no qual a multidão e os sacerdotes judeus não estão presentes e não são nem sequer mencionados; o roteirista e o diretor criaram ainda uma personagem – Centurião Lucius – que funciona como uma espécie de advogado de Jesus. Claro, este é um exemplo extremo.
Ao longo da história do cinema ocorrem muitas sutilezas que são vistas como adequação da história como material fílmico, e que terminam por significar alterações sensíveis. Nos filmes de maior aproximação com o catolicismo encontramos uma participação muito mais efetiva da Virgem Maria; ela se encontra costumeiramente como figurante ou participante ativa em situações evangélicas nas quais ela jamais foi mencionada textualmente. Há personagens que são brevemente citadas nos evangelhos, como José de Arimateia, e Nicodemos, que recebem papéis de relevo e destaque na trama fílmica, coisa, que, de fato, parecem não ter tido. Neste caso são exemplos O Cristo Vivo, de 1952, Eu vi sua Glória!, de 1953, ambos da produtora americana Cathedral, e Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli, lançado em 1977. Essas adequações normalmente têm consequências; por exemplo, Julien Duvivier, conhecido cineasta francês, fez a primeira ampliação do papel de Pôncio Pilatos e sua esposa Cláudia; ele nos mostrou o casal como simpáticos romanos tentando salvar a vida de Jesus, em Gólgota, de 1936. O efeito disso foi mostrar os judeus com a sua pretensa culpa extremamente agravada. Se nos lembrarmos que aquele era um período de forte sentimento antissemita e que poucos anos depois Hitler enviou milhões de judeus para a morte, poderemos ter uma pálida ideia do peso que ligeiras alterações podem significar em determinados contextos sociais.

IHU On-Line - De que maneira esta nova área de estudos se faz importante para os religiosos e para o público em geral? Que compreensões são possíveis a partir desse estudo?
Luiz Vadico - Vou responder à sua pergunta com uma provocação: que importância a cristologia tem? Como ela se faz importante? A cristologia fílmica não é em nada diferente da cristologia que, de certa forma, fundamenta a Teologia; como comentei anteriormente, a diferença é da “qualidade do conteúdo”: uma é proveniente dos textos dos evangelhos canônicos a outra é proveniente do conteúdo dos filmes. O grande público já vem recebendo preferencialmente as suas informações históricas, imagéticas, e até mesmo religiosas, dos produtos midiáticos, e isso já se conta por pelo menos quatro décadas. É importante notar que uma teologia voltada para os produtos audiovisuais tem a vantagem de conseguir saber qual é a imagem de Jesus Cristo que os seguidores de suas religiões estão recebendo, e como trabalhar com esta imagem, ou imagens. Pois não deve ser incomum o fato de que o fiel possui na cabeça um Jesus midiático, diverso daquele que está sendo ensinado dos púlpitos e altares.

Praticar a cristologia fílmica pode ajudar a lidar com este descompasso que a modernidade nos colocou. Provavelmente os fiéis nunca tiveram tanto acesso a informação sobre Jesus Cristo e sua vida. Todavia, é uma necessidade moderna também que os teólogos se voltem para estes novos “textos sagrados” e traduzam deles para os fiéis a face de Cristo elaborada pelos diversos meios de comunicação.
Neste sentido gostaria de sugerir outro artigo nosso, que se encontra no livro novo Filmes de Cristo. Oito aproximações (São Paulo: Editora à Lápis, 2009). É o capítulo “The King of Kings – Uma Teologia da Luz” se trata de um primeiro esforço nosso de verificar uma cristologia específica num filme; acredito que ele pode servir como um esboço de trabalhos que poderão vir a serem feitos posteriormente. Isto porque eu mesmo não me dedico à Teologia e nem à Cristologia, pois meu trabalho neste caso é só apontar a sua existência, pensar nos métodos e ferramentas. O trabalho de teólogo propriamente dito deixo para os profissionais da área. E, posso estar errado, mas este trabalho começa propriamente dito a partir do momento em que uma nova “imagem de Jesus” é apontada. Aí, descobrir seus significados, desenvolvimentos e repercussões, penso ser vinculado ao campo do teólogo.
A importância da cristologia fílmica está na sua necessária aplicação. O que dizer de documentários televisivos como A Tumba Perdida de Jesus? Ou A Verdadeira História de Maria Madalena? Isto sem falar de Desconstruindo o Código Da Vinci ou o próprio filme O Código Da Vinci. Enfim, conhecer as “imagens de Jesus” mesmo quando são elaboradas de forma fragmentária – como nos caso destes filmes e documentários citados – é de extrema importância para se compreender os rumos que deve tomar uma teologia moderna, preocupada com este conhecimento que está sendo construído no audiovisual, e quem sabe até utilizando-o de forma interessante para novos construtos teológicos. Existe uma questão no ar, e sinto que cedo ou tarde ela cobrará uma resposta: Seria o imaginário relativo ao sagrado - elaborado e acolhido pelo audiovisual - tão importante quanto o próprio sagrado? Em que medida eles se afetam? Quando uma pessoa assiste a um filme de Cristo e não acredita naquele Jesus apresentado, o quanto esta resposta negativa não afeta a sua percepção de quem seja o Cristo? E quando ela acredita, que Cristo é aquele? Como podemos perceber, o que não faltam são questões importantes a serem respondidas. Esperamos ajudar um pouco neste processo de estudo destas construções imagéticas.
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*Licenciado e bacharelado em História pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, Luiz Vadico possui mestrado e doutorado em Multimeios pela mesma instituição. Atualmente, é professor titular da Universidade Anhembi Morumbi, supervisor do Centro de Estudos do Audiovisual - UAM, e professor de Comunicação, Estética e Cultura de Massa no curso de Extensão em TV para a Televisão Pública de Angola - TPA, em Luanda, Angola. É também membro do Conselho Editorial da revista Interatividade e membro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual - Socine. Além disso, Vadico é também escritor e poeta. Escreveu Filmes de Cristo. Oito aproximações (São Paulo: Editora à Lápis, 2009). Ele estará na Unisinos em 31-03-2011, apresentando dois eventos da programação Páscoa IHU 2011 – Debates sobre o cuidado da vida na cultura contemporânea. O primeiro evento está marcado para as 17h30min, quando proferirá a conferência Cristologia fílmica. O segundo inicia às 19h30min e é intitulado Ficção e imagens de Jesus no Cinema.
Fonte: IHU, 28/03/2011 -  http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3732&secao=355   
Reportagem Por: Márcia Junges e Stefanie Dal Forno

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