terça-feira, 12 de abril de 2011

O QUE A ESCOLA PODE FAZER?

Ainda existem muitos Wellingtons que precisam de atenção

Professor Ileno Izídio(foto) alerta para a falta de uma política
 que cuide da saúde mental das pessoas, antes que elas desenvolvam distúrbios
Quantos Wellingtons existem hoje por aí? Muitos, segundo o professor Ileno Izídio, do Instituto de Psicologia. "Tem um monte de gente em crise. Esse sofrimento está na sociedade". E como lidar com eles? "Precisamos intervir o mais cedo possível". A solução, segundo Ileno, seria uma política pública que olhasse para a saúde mental das pessoas, e não só para as doenças. "Os profissionais de educação e de saúde precisam ser capacitados para fazer essa detecção, enxergar os sinais de distúrbios psíquicos e separar os casos, ver quem está só triste e quem pode desenvolver um quadro específico".
Um dos principais pensadores da Reforma Psiquiátrica no Brasil, Ileno aplica esse modelo na universidade, por meio do Grupo de Intervenção Precoce nas Primeiras Crises do Tipo Psicótica. O grupo já tratou de mais de 70 casos de surto psicótico em dois anos de atuação. No próprio dia da tragédia, ele atendia um aluno da universidade que atravessava uma crise. "Não é questão de simplesmente levar ao psicólogo, mas de como acolher, na família e no meio social. A maioria das pessoas não está preparada para isso", diz o professor.
Ele defende o acompanhamento antes do caso se tornar crônico. "Aí é muito difícil tratar. Precisamos intervir antes para que não aconteça o que aconteceu na escola de Realengo", afirma. "Esse rapaz, Wellington, não foi construído por uma doença, mas por uma existência de sofrimentos que a estavam estruturando. Uma situação dessas é multideterminada, uma coisa ajuda a outra".
Os principais sinais de um possível distúrbio são angústia, apatia, culpa, falta de energia, distúrbio do sono, transtorno obsessivo (fazer algo repetidamente) e agressividade repentina.
"Esse rapaz, Wellington, não foi construído
por uma doença, mas por uma existência
de sofrimentos que a estavam estruturando.
Uma situação dessas é multideterminada,
 uma coisa ajuda a outra".
ORIENTAÇÃO – Porém, para se caracterizar um caso problemático, esses sinais devem estar associados a sintomas como dificuldades de relacionamento, discurso organizado, delírios, alucinações, alterações de percepção e empobrecimento do pensamento. "Mas os profissionais em geral não estão preparados para isso. Os próprios médicos não estão acostumados a ouvir muito seus pacientes", diz Ileno.
A política de saúde mental em vigor no Brasil baseia-se na estruturação de centros de atenção psicossocial, os CAPs. São locais de atendimento, e não de internação, onde o paciente é tratado sem ser isolado do convívio social. "O CAP deve estar na comunidade para ouvir essas coisas. Mas infelizmente não temos isso", diz o professor. "A lei de 2001 determina que haja um centro para cada 100 mil habitantes. Mas hoje temos pouco mais de mil num país de 190 milhões de pessoas. Na Ceilândia, são 300 mil habitantes, mas não existe nenhuma estrutura dessas".
No caso de Wellington, Ileno acredita que, entre outros fatores, faltou uma orientação melhor sobre como lidar com a sexualidade. Isso explicaria porque ele falou de "pureza" e "virgindade" e porque ele matou mais meninas (dez) do que meninos (dois). "Aos 23 anos, ele tinha hormônios em todo o lugar. Cadê a orientação que ele teve sobre isso, quem ensinou a ele lidar com sexo? O instinto sexual é uma pulsão de vida, mas que pode resultar em pulsão de morte. Não é vingança. É como eu lido com o que eu não dou conta de entender. Aquilo com o qual eu não consigo lidar dentro de mim, eu resolvo fora", explica o professor.
Isolado, sem apoio, Wellington construiu um mundo particular, fechado em suas auto-reflexões. "É uma construção delirante? Pode até ser, mas plenamente calcada na realidade e derivada dela".
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Reportagem por: Leonardo Echeverria - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Fonte: http://www.unb.br/noticias 12/04/2011

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