quinta-feira, 28 de abril de 2011

Os adolescentes e o amor na casa dos pais

Imagem da Internet
Ocorre dia após dia, ou melhor, noite após noite.
 Dormem juntos, ela com ele, ele com ela.
Fazem amor, justamente ali, na casa dos pais,
nos seus quartos de adolescentes,
entre os livros da escola,
os velhos bichinhos de pelúcia jamais jogados fora,
os sinais da infância ainda por perto,
 mamãe e papai sabem disso, talvez sim, não,
fingem não saber.


No fundo, é o pensamento não confessado de muitos adultos: "Melhor aqui, seguros, do que em outro lugar, talvez no carro, no parque, na discoteca...". Não só baby-amantes, mas já baby-conviventes. Têm 17, 18, 20 anos, namoram e fixamente, e, de repente, encontram-se "fundindo" suas vidas. Como se fossem adultos, casados e, ao contrário, são muito jovens, pouco mais do que crianças. Em uma casa, na outra, em turnos, mas sempre juntos, adolescentes e já "cônjuges", de manhã, à noite, na janta, no almoço, nos dias de festa. Na França, são chamados de “bébé couples”. Às suas costas, existem famílias divorciadas, monoparentais, e, portanto, quartos frequentemente vazios todo o dia, silenciosos, onde parece natural fazer o ninho a dois...
O fenômeno ocorre há tempos, em toda a Europa, mas agora uma pesquisa francesa, publicada nos últimos dias pelo jornal Libération, “Couples ados dans le nid des parents”, o codificou, circunscreveu seus limites, relatou também suas implicações problemáticas. Descrevendo um mundo de jovenzinhos que buscam reagir ao seu próprio extraviamento familiar experimentando, desde muito jovens, a convivência.
Naturalmente, na casa dos pais, com a geladeira cheia e a lavadora à disposição, coabitando em quartos que se transformam em minialcovas matrimoniais. E um mundo de pais, mais tolerantes ou talvez mais assustados do que nunca, que não se opõem a essa estranha confusão de relações, nem ao fato de os filhos fazerem sexo com os seus parceiros do outro lado da parede. Porque – e este é o dado emblemático – 57% dos adolescentes declaram, com simplicidade, que fazem amor em sua própria casa.
"Mas esse estranho re-englobamento
não é a solução.
É apenas o espelho doentio
dos nossos tempos".

Portanto, a casa é o lugar de escolha, confirma o psiquiatra Gustavo Pietropolli Charmet, "e frequentemente são as mães, aterrorizadas com uma possível promiscuidade ou com os lugares perigosos, que encorajam os filhos a viver a sexualidade entre os muros domésticos, favorecendo todo tipo de familiarização com namorados e namoradas, na ideia de que quanto mais a situação é estável, menos se correm riscos de doenças ou outros".
Assim, ocorre que, fortalecidos com esse consenso, diz Charmet, "esses jovenzinhos começam convivências em idade precoce. Além disso, fazem parte de uma geração que tende a redescobrir a relação de casal, justamente porque vêm de famílias caracterizadas por divórcios e separações. Estamos diante de um fenômeno em evolução, que tem impulsos regressivos, mas, ao mesmo tempo, é índice de tolerância e de liberdade".
Mas, ao lado da vontade de fazer "ninho" desde muito jovens, soma-se a dificuldade, muitas vezes insuperável, de encontrar um "lugar totalmente para si". Basta olhar os desconfortáveis números do Istat [Instituto Nacional de Estatística italiano]: 59% jovens italianos entre 18 e 30 anos é obrigado a viver em casa com os pais por motivos econômicos.
Pais perdidos. Conta Marina Bonetti, mãe de Barbara, 19 anos, estudante de medicina: "Barbara está namorando com Paolo desde que tinha 16 anos, e isso me impressiona, pensando em como eu era na sua idade. Eu queria liberdade, experiências. Nem pensar em uma relação séria... Ao contrário, eles não: sempre juntos, na escola e fora dela. Eu sabia que, quando eu estava no trabalho, Paolo e Barbara estavam em casa, imaginava que fizessem amor. Era tudo um dito e não dito. Mas, no meu coração, preferia que fosse ali e não em outro lugar. Depois, uma noite chovia, Paolo ficou entre nós: Barbara e eu vivemos sozinhas, sou divorciada. Pouco a pouco, tornou-se um hábito: eles são discretos, e eu também. Não sei se é certo, se vai durar, mas não quero me opôr. São rapazes sérios, comprometidos. Certamente, não poderiam se permitir um aluguel: o que mais poderiam fazer?".
Fortemente crítica, ao contrário, é a posição de Massimo Ammaniti, grande especialista em infância e em adolescência: "São situações prejudiciais, porque não ajudam a separação e o crescimento dos jovens. Os pais não podem ser cúmplices da sexualidade dos filhos, que devem conquistar os espaços onde viver o amor. O sexo é uma área privada, secreta. Essas situações confusas são arriscadas: melhor até o conflito e a oposição, que são, porém, estímulos a sair do ninho. É difícil, eu sei. No exterior, pelo menos, os jovens vão para os câmpus, nas universidades, são livres. Mas esse estranho re-englobamento não é a solução. É apenas o espelho doentio dos nossos tempos".
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A reportagem é de Maria Novella De Luca, publicada no jornal La Repubblica, 27-04-2011.
 A tradução é de Moisés Sbardelotto.Fonte: IHU online, 28/04/2011



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