sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Esquerda francesa ficou desamparada"

Para o analista Pascal Perrineau, escândalo abre espaço
para recuperação de Sarkozy

O socialista Dominique Strauss-Kahn era favorito à eleição presidencial francesa de 2012, mas as acusações de abuso minaram suas pretensões políticas. A avaliação foi feita à Folha, por telefone, por Pascal Perrineau, diretor do Centro de Pesquisa Política da Sciences Po.

Folha - É o fim da carreira política de Strauss-Kahn?
Pascal Perrineau - Sim, a não ser que ele seja totalmente inocentado e que, de repente, passe a ser visto como vítima, o que é improvável.
A esquerda passou os últimos quatro anos construindo uma identidade baseada no rechaço aos excessos que [o presidente Nicolas] Sarkozy representa. O socialismo tinha recuperado a voz e encontrado um líder. Só que agora veio o efeito bumerangue e, com ele, o nocaute.

Mas os socialistas não sabiam da sua fama de mulherengo?
A fama de mulherengo pode ser valorizada numa cultura latina como a francesa. Mas o caso de Strauss-Kahn é de um comportamento delinquente e violento.

Por que muitos franceses acreditam na tese do complô?
Acreditar no complô é um modo de tapar os olhos ao que aconteceu. É a crença de que Strauss-Kahn foi manipulado, não é o responsável.
Além disso, na cultura francesa ainda existe um certo antiamericanismo. Historicamente, França e EUA são potências universalistas que disputam influência global.
Esse antiamericanismo já havia ficado claro no 11 de Setembro, quando muita gente disse que os ataques foram manipulados. No caso de Strauss-Kahn, a teoria do complô deve desaparecer à medida em que as acusações se consolidarem na Justiça.

A esquerda tem chances de se recuperar até 2012?
A esquerda parecia caminhar para vitória certa. Mas novo espaço se abre para Sarkozy, que era mal visto e agora desfruta de uma situação na qual percebe-se que o líder da esquerda é muito pior.
O próprio Sarkozy dizia: "comparado a Strauss-Kahn, eu sou um pastor metodista". A agenda judiciária vai prevalecer sobre a agenda política da esquerda, e ninguém prestará atenção ao que os socialistas têm a dizer.

A extrema direita sai fortalecida do escândalo?
A posição da candidata Marine Le Pen ainda não mudou. Ela tem um concorrente terrível: abstenção. Esses escândalos enojam as pessoas, que dão as costas à política. Alta abstenção a prejudica.
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Reportagem por:SAMY ADGHIRNI DE SÃO PAULO
Fonte: Folha on line, 27/05/2011

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