sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pedofilia: uma forma narcisista sádica de comportamento

"É uma forma narcisista sádica de pedofilia, um homem
que usou sua túnica como uma cobertura.
Não é nem um verdadeiro fiel". O professor Tonino Cantelmi,
psiquiatra e psicoterapeuta italiano, especialista – entre outros cargos –
do Conselho Nacional para a Família da Conferência Episcopal Italiana, n
ão tem dúvidas sobre o padre Richard Seppia (foto),
o pároco de Gênova que está na prisão devido à hipótese
de ter abusado de menores e
de vender drogas.

Uma investigação que poderá em breve ser enriquecida com uma nova acusação: indução e exploração da prostituição infantil. A Procuradoria de Gênova está tentando verificar se as frases que surgiram durante as escutas telefônicas e ambientais, proferidas durante as conversas com o traficante norte-africano que lhe conseguia a cocaína, podem estar relacionadas a uma verdadeira relação de oferta e demanda.
Nos interrogatórios e nas análises de três computadores apreendidos do pároco, os investigadores teriam encontrado a primeira confirmação tanto da violência sexual de um dos meninos, um coroinha de 16 anos, de Gênova, quanto do uso de drogas. O Pe. Seppia permanece em isolamento, longe dos outros detentos, enquanto está sendo avaliada a possibilidade de transferi-lo a um centro do Serviço de Toxicodependência - SerT, por causa do seu vício em cocaína.

Eis a entrevista.

Professor Cantelmi, é possível que ninguém da hierarquia eclesiástica jamais tenha percebido alguma coisa? No entanto, não teriam faltado indicações no passado sobre o comportamento do Pe. Riccardo.
Tenho certeza de que, nesse caso, não se trata de conivência, de ocultação ou de inércia por parte da hierarquia, que não teve nenhuma dúvida em dar seguimento imediato à operação dos investigadores. Mas eu me faço outra pergunta: é possível que, na formação desse seu padres, no seu tempo, os formadores tenham se deixado enganar assim?
O senhor nos diga: é possível?
Os sinais certamente já estavam todos lá. Mas não é fácil localizar uma pessoa assim. É preciso ser muito bom. E é por isso que, nos seminários diocesanos hoje, foram inseridos psicólogos e psiquiatras, que ensinam os formadores a não se deixarem enganar.
E o senhor acha que isso é suficiente?
Não houve até agora uma atitude cúmplice por parte da Igreja?
Não existe nenhuma outra instituição no mundo que tenha feito tanta limpeza em seu interior. Desde o ano 2000, o mundo católico fez uma opção profética com relação aos tempos. Foi feito um esforço imenso. Agora, o problema é tornar as casas de formação para os padres capazes de encontrar a tempo as pessoas assim.
Mas o que um homem como o Pe. Seppia tem de particular?
Os pedófilos narcisistas sádicos são muito hábeis. São pessoas muito inteligentes, brilhantes e capazes, que conseguem enganar facilmente. Eles sabem manipular a realidade, utilizar sua estrutura de referência para ficarem cômodos. Pessoas assim obviamente não são encontradas apenas na Igreja: podem ser pediatras, treinadores, educadores, professores. Neste caso, não se trata nem de um verdadeiro fiel, mas sim de alguém que zombava da fé, que até invocava Satanás. É só uma pessoa que utilizou o ser padre para dar seguimento às suas perversões.
Como esses pedófilos escolhem as suas vítimas?
Eles se ocupam de pessoas em dificuldade, recobrem de bondade aquilo que fazem. Usam sistemas de dependência monstruosos. Muitas vezes, abusam de dois irmãos ou de suas mães. Famílias inteiras ficam presas em um sistema de dependência que as impede de fazer um exame crítico da realidade.
E é por isso que as famílias são muitas vezes relutantes para denunciar?
Certamente. Pense-se que há casos de mulheres que, depois de ter um parceiro que abusava do seu filho, buscam outro semelhante. São sistemas patológicos em que o abusador vai se insinuando.
E o que pode ser feito nesses casos?
Nada. O pedófilo narcisista sádico é incurável, porque é uma pessoa que não tem egodistonia: ele acha que o seu comportamento está certo. A única possibilidade é a contenção social.
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A reportagem é de Silvia D'Onghia, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 19-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Fonte: IHU online, 20/05/2011

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