quinta-feira, 28 de julho de 2011

As emoções sempre estão presentes no dia a dia dos profissionais

Patrícia Bispo*


Quando uma empresa contrata um profissional é perfeitamente compreensível que durante o processo os selecionadores deem a devida atenção ao lado intelectual, técnico e acadêmico de cada candidato que concorre à vaga. No entanto, também é fundamental que as empresas fiquem atentas às competências comportamentais dos profissionais, uma vez que hoje se observa que muitas demissões ocorrem em virtude de lacunas ou desvios de comportamento. Quando isso acontece é sinal de que as pessoas não conseguem lidar bem com as emoções no dia a dia de trabalho, o que pode gerar queda no desempenho ou conflitos que impactam negativamente no clima corporativo.
De acordo com Orlando Pavani Júnior, consultor organizacional e especialista em Recursos Humanos, hoje se observa que o conhecimento em si não basta. "O que precisa ser feito é sua operacionalização obstinada e isto é muito mais uma questão emocional do que intelectual", sinaliza. Em entrevista concedida ao RH.com.br, ele destaca que uma das principais barreiras para as pessoas melhorarem - sob o ponto de vista emocional-comportamental - é que a maioria precisa mudar suas atitudes. Contudo, grande parte dos indivíduos sequer admite essa possibilidade, porque o sistema de diagnóstico pessoal está modelado conforme um pressuposto acomodado e temeroso de grandes constatações. Confira, na íntegra, a entrevista com Orlando Pavani Júnior e aproveite a leitura!

RH.com.br - Um dos diferenciais das empresas que atraem os talentos está justamenta na forma como essas veem o capital humano. Ou seja, não apenas consideram seus colaboradores como um número na folha de pagamento, mas sim possuem uma visão holística do ser humano. Esse posicionamento abriu espaço para que as emoções entrassem no dia a dia das empresas?
Orlando Pavani Júnior - Atrair e reter o talento - conhecimento puro - é bem diferente do que atrair e reter o talentoso - conhecimento purista dentro de um invólucro que o carrega, a pessoa ou o profissional. A excelência da gestão seria muito mais a processualização do conhecimento purista do que o seu invólucro, ou seja, tangibilizar o conhecimento de forma que fosse aprendido pela organização e não somente pela pessoa. Está muito claro, hoje em dia, que o conhecimento em si não basta, o que precisa ser feito é sua operacionalização obstinada e isto é muito mais uma questão emocional do que intelectual. É muito pouco diferente uma pessoa que não lê daquela que não sabe ler, pois ambas não operacionalizam nada. A cabeça pode e deve pensar, as pernas podem e devem agir, mas o restante do corpo - sistema límbico - precisa sentir e alinhar ambos.

RH - É possível imaginar uma empresa desprovida da presença das emoções?
Orlando Pavani Júnior - Não é possível, mas ainda se encontra empresas apenas investindo em temas absolutamente técnicos e cognitivos para sua força de trabalho, sem sequer querer entender o que as emoções poderiam maximizar nas relações intra e interpessoais e a performance de uma forma global.

RH - Em sua opinião, as empresas têm adotado uma postura madura em relação às emoções na rotina dos seus profissionais?
Orlando Pavani Júnior - A situação está mudando muito, mas ainda as iniciativas são embrionárias e restritas a algumas poucas organizações diferenciadas, dotadas de pessoas em seu quadro de líderes que já se transformaram em algum grau por alguma iniciativa desta natureza, ou seja, de algum treinamento comportamental.
"Minha experiência tem dito
que os gestores das emoções são aqueles
que se permitiram mudar primeiro,
sejam eles quem forem."

RH - Quais os reflexos positivos e negativos que as emoções trazem às organizações?
Orlando Pavani Júnior - Os reflexos positivos são muitos, principalmente na vida pessoal que acaba tendo efeito significativo na vida profissional e no ambiente corporativo. Medir pragmaticamente o efeito de uma evolução comportamental é tão difícil quanto mensurar a eficácia de qualquer treinamento técnico. Entretanto, um fato recorrente é que as pessoas tem sido muito mais demitidas por motivos comportamentais do que técnicos ou por debilidades de competência intelectual, ou seja, a inanição do desenvolvimento comportamental da força de trabalho - em especial da liderança de médio porte - atrapalha muito mais do que se imagina.

RH - Por que a motivação dos profissionais está diretamente relacionada aos indicadores emocionais?
Orlando Pavani Júnior - A motivação não está relacionada a indicadores emocionais até porque não existem muitos indicadores emocionais propriamennte ditos. A motivação precisa ser entendida que é um conceito de dentro para fora e não de fora para dentro, ou seja, ninguém motiva absolutamente ninguém. O que existe é automotivação e não motivação e, para tanto, requer investigação do eu profundo.

RH - Trabalhar a Inteligência Emocional é uma boa alternativa para que as emoções no ambiente corporativo sejam bem administradas?
Orlando Pavani Júnior - Trabalhar as inteligências emocionais será fundamental para que as empresas consigam reter seus melhores talentosos. Caso contrário, teremos que continuar convivendo com pessoas competentes, arrogantes, insensíveis, incompreensíveis, que escutam pouco, egoístas, intransigentes, pouco consensuais. Parece até que quanto melhor intelectualmente a pessoa fica, pior comportamentalmente transforma-se.

RH - Como a Inteligência Emocional pode e precisa ser trabalhada no dia a dia das empresas?
Orlando Pavani Júnior - Existem diversos mecanismos, um deles são os treinamentos de alto impacto que oportunizam experiências emotizadas bastante fortes, que podem recognizar sinapses neuronais, que alteram comportamentos de forma relevante. Outra forma utilizada são os conhecimentos sobre ciência do comportamento que, se conhecidos pelas pessoas, podem também alterar a forma de enxergar o mundo e a si próprio, aterando seu comportamento.
"Acho que é uma característica natural
do ser humano, baixar a guarda
quando entende que tudo parece estar bem.
É aí que a coisa
decai rapidamente."
RH - Quem deve conduzir esse trabalho é sempre a área de RH em conjunto com os gestores?
Orlando Pavani Júnior - Quem deve conduzir este processo é quem descobri-lo primeiro. Ou seja, depende muito de empresa para empresa. Há organizações em que a área de RH é a última a entender este processo, pois estão muito focados em trabalhos burocráticos que sequer preocupam-se em desenvolvimento humano. Há outras empresas que a área de RH até está antenada neste tema, mas ainda dotado de pessoas altamente alinhadas à psicologia clássica tradicional que ainda não entendem - nem desejam entender - as novas formas de reprogramação comportamental mais alinhadas à neurologia do que à psicologia. Minha experiência tem dito que os gestores das emoções são aqueles que se permitiram mudar primeiro, sejam eles quem forem.

RH - Que consequências a falta de um trabalho focado nas emoções no ambiente corporativo pode gerar?
Orlando Pavani Júnior - Tudo que já temos visto atualmente, pessoas sendo contratadas pelo que sabem - sob o ponto de vista intelectual, técnico, acadêmico -, mas sendo demitidas pelas lacunas e desvios comportamentais. Isto comprova que estamos contratando errado ou nos acomodando sem desenvolver as pessoas sob o ponto de vista comportamental.

RH - Quais os erros mais comuns que as empresa cometem, quando tentam trabalhar as emoções dos seus funcionários?
Orlando Pavani Júnior - Em minha opinião, o erro mais comum é considerar que uma palestra - por melhor que seja o palestrante - ou um curso clássico - sala de aula, professor falando e slides de power-point - podem transformar uma pessoa. Estas coisas informam as pessoas, mas infelizmente não basta pois não produzem ação transformacional pragmática. O que não for capaz de gerar emoção, que faça com que o pelinho dos póros fiquem em pé, não será capaz de gerar mudança. Outra falha que venho assistindo é que, as vezes, até esforços de impacto e significativos sob o ponto de vista da emotização são consuzidos, mas carecem de serem cuidados posteriormente, ou seja, o jardim pode até ficar lindo, mas se não for regado diariamente, em breve ele voltará a ser um jardim esquecido e feioso. Manter a chama acesa é fundamental, mas é comum que a empresa deixe isto de lado acreditando demais nos eventos e não no trabalho de dia a dia.

RH - Por que esses erros se evidenciam com mais frequência?
Orlando Pavani Júnior - Acho que é uma característica natural do ser humano, baixar a guarda quando entende que tudo parece estar bem. É aí que a coisa decai rapidamente.

RH - Que orientações o senhor daria a uma empresa que constata que há um desequilíbrio no fator emocional dos seus profissionais?
Orlando Pavani Júnior - O desequilíbrio emocional é um fato, não precisa de diagnósticos exuberantes para confirmá-lo, portanto não há mais o que constatar. Um dos principais impedidores das pessoas melhorarem como pessoas sob o ponto de vista emocional-comportamental é que a maioria das pessoas que precisaria mudar em alguma atitude sequer admite isto, porque seu sistema de diagnóstico pessoal está modelado conforme um pressuposto acomodado e temeroso de grandes constatações. É melhor deixar as coisas emocionais como estão do que mexer no vespeiro do comportamento humano. Esperar um método que seja capaz de constatar tal desequilíbrio é fadá-lo a poder considerar que não há desequilíbrio algum e, por conta disto, continuar sem fazer nada sobre o assunto. O processo deveria ser inverso, ou seja, as inicitivas devem ser iniciadas para se descobrir as emoções que sequer sabíamos que existiam. Você não se prepara para viver emoções, as emoções vivenciadas - com abertura e entrega - é que lhe preparam para as surpresas da vida. Quem somente substitui informação pela emoção, é definitivamente um analfabeto de si próprio.
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*Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap. Atuou durante dez anos em Assessoria Política, especificamente na Câmara Municipal do Recife e na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Atualmente, trabalha na Atodigital.com, sendo jornalista responsável pelos sites: www.rh.com.br, www.portodegalinhas.com.br e www.guiatamandare.com.br.

Fonte: RH.com.br - Acesso 28/07/2011
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