quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Adeus amizade

Maria Regina Canhos Vicentin*
Nem tudo o que termina tem um gosto amargo, mas algumas coisas têm. Uma amizade, por exemplo. Às vezes, a gente se engana quando pensa que tem um amigo, e as circunstâncias da vida mostram o contrário. Amigo é uma coisa, colega é outra; mas, a gente fica em dúvida quando gosta muito de um colega. A gente passa a considerar que é um amigo, ainda que, no fundo, não seja. A gente acha que é; engana-se, “quebra a cara”. A gente se magoa e fica triste, mas tem de aceitar que cada pessoa possui o direito de escolher seus amigos, e entender que nem sempre somos escolhidos.
Pior que perder um amigo pela distância imposta, é perdê-lo repentinamente por um descuido qualquer, uma desatenção ou no calor de uma discussão. Talvez não exista nada tão triste quanto constatar anos de engano através de um simples olhar. Olhar irado, tormentoso, colérico. Olhar que não existiria se houvesse mútua afeição. Isso corta o coração da gente como a descoberta de uma traição. Chega a doer fisicamente quando a gente percebe que estava gostando da pessoa errada, simplesmente porque ela não estava gostando da gente. Machuca muito na hora e depois, quando a gente começa a se lembrar de tantos momentos que, considerava, haviam sido verdadeiros e bons.
"Precisamos nos aproximar das pessoas
que possuem valores semelhantes aos nossos
se não quisermos experimentar
a decepção."
Gandhi dizia que as pessoas gritam quando seus corações estão distantes. Penso que ele estava certo. Percebemos, por vezes de forma grosseira e ensurdecedora, como estávamos longe de quem julgávamos estar próximos. Levamos um susto. Acordamos para a realidade. Porque a gente se engana dessa forma eu não sei. Acho que gostamos de pensar que a maioria das pessoas nos quer bem. Isso nos faz sentir confortáveis e acolhidos num mundo que costuma ser frio e cheio de desafios. Quando constatamos o engano, primeiramente ficamos surpresos; depois, talvez até envergonhados, pelo fato de não termos percebido que aquilo não era amizade. Experimentamos raiva e, posteriormente, mágoa, já que guardamos a raiva que poderia ter se expressado de forma inadequada. Depois, resta uma tristeza, um vazio grande no lugar que era ocupado por um sentimento que já não tem mais razão de ser, não pode mais existir porque não tem correspondente. A amizade acabou.
Bom, mas não devemos nos demorar nessa tristeza. Afinal, outras pessoas existem, e certamente entre elas, novas oportunidades de amizade e bem querer. A vida é uma escola e nos ensina valiosas lições. É desse modo que vamos aprendendo em quem podemos depositar a nossa afeição. Isso não faz das pessoas melhores ou piores, apenas diferentes conforme aquilo a que atribuem valor. Precisamos nos aproximar das pessoas que possuem valores semelhantes aos nossos se não quisermos experimentar a decepção. Nada como um dia após o outro para assimilar os contratempos da vida. Uma coisa é certa: tudo passa.
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*Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
Fonte: Site da autora:www.mariaregina.com.br. 
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