terça-feira, 16 de agosto de 2011

Idades Eróticas

Joaquim Zailton B. Motta*


A nossa tradição cultural contempla um padrão etário de relacionamento bastante convencional – tendemos a repetir a fórmula do homem maduro com a mulher jovem. Felizmente, há exceções, nas quais observamos mulheres com homens mais novos, mas a diferença raramente passa de 5 a 10 anos. Excepcionalmente, esse número pode chegar a 50! Os envolvimentos que acontecem entre mulheres maduras e homens jovens têm sido mais frequentes. Algumas pessoas já venceram o preconceito, mas outras ainda seguem prisioneiras dele. Há muitas que vivem relações de dependência, em que o rapaz acomoda-se no colo da companheira e esta o adota, no sentido ruim da palavra. Algumas estrelas da mídia (atrizes, certas mulheres apresentadas como “celebridades”) servem de referências excepcionais, representando os ícones de mulheres eternamente desejáveis que podem namorar ou casar com moços sarados. Quando a mulher é 20 a 25 anos mais velha que o homem, temos uma diferença etária que corresponde a uma nova geração, ou seja, ela tem realmente idade de sobra para ser mãe do companheiro. O mesmo problema ocorre com o par encontradiço em nosso meio – o homem que tem idade para ser pai da companheira – mas esse modelo está mais protegido pela sociedade, amparado por uma conveniência cínica. A grande maioria da população prestigia o modelo de base machista e patriarcal. Esse patriarcalismo chega a ser negado quando se percebe que o velho escorregou para o papel paternal. Depois de uma separação conjugal, muitos homens que se casaram pela primeira vez com mulheres de idades próximas tendem a procurar as mais novas. Se também se separarem da segunda e da terceira, continuarão à busca de outras ainda mais jovens.
"O amadurecimento etário não implica
obrigatoriamente uma linguagem evoluída
para os casais. Muitos vão esquecendo-se
de passar as mensagens eróticas e afetivas.
Mesmo se amando, na sua intimidade,
não trocam o “eu te amo”; continuam se desejando,
mas não se dignam dizer:
“desejo-te”.

 Essas inclinações masculinas que têm vigorosas dileções machistas e são pouco inspiradas pela imanência afetiva implicam, no fundo, mais uma conquista de objeto de consumo do que uma escolha amorosa. Aqueles que estão se desapegando dos valores do machismo vão percebendo que isso não os deixa menos viris, que podem até reforçar sua condição de machos. Na proporção direta das expectativas dos homens que se inspiram primordialmente no amor e não renunciam ao aproveitamento do sexo, surgem as mulheres que são mais bem escolhidas, independentemente das faixas de idade. Portanto, as que mais atraem e impressionam os machos amorosos trazem consigo uma índole erótica importante, uma graça sensual que se sustenta em todas as séries etárias. Contestando os paradigmas da ditadura da beleza juvenil, há mulheres maduras que se revelam esplendidamente sensuais, mais erotizadas do que as de vinte anos, criando um fascínio exuberante que recheia de charme o tempo da menopausa. Elas transcendem o contexto da fêmea fecunda (jovem, com mamas nítidas e bacia ginecóide) que atrai o macho reprodutor. A comunicação desta sensualidade capaz de manter o enlevo dos pares amorosos por toda a vida é um sistema subjetivo. Pode ser ajudado pelas palavras, por mensagens objetivas, mas se sustenta essencialmente pelo entrosamento abstrato do casal. Entretanto, não há abstração que agüente uma míngua comunicativa. O amadurecimento etário não implica obrigatoriamente uma linguagem evoluída para os casais. Muitos vão esquecendo-se de passar as mensagens eróticas e afetivas. Mesmo se amando, na sua intimidade, não trocam o “eu te amo”; continuam se desejando, mas não se dignam dizer: “desejo-te”. E pior se define a situação quando os pares forçam as aparências, chegando ao ridículo de expressar amor e desejo somente quando estão diante de terceiros. O velho sugerindo que faz muito sexo com a jovem namorada já sofre a concorrência da climatérica que se exibe para as amigas com o garoto musculoso. A equivalência de gêneros tem esse preço muito inconveniente.
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*Médico psiquiatra, psicoterapeuta e sexólogo.  Escritor, já publicou 07 livros, o mais recente em maio de 2007.  Participou também de coletâneas e outras publicações. Palestrante e congressista de vários eventos nacionais e internacionais.  Articulista, mantém há 07 anos a coluna Sexualidade do jornal Correio Popular.  Professor – convidado do curso de especialização em Sexualidade Humana da Unicamp e da UniAraras.  Coordenador do GEACamp (Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas)
Fonte: http://www.blove.med.br/artigo.php?id=2538
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