sábado, 27 de agosto de 2011

Reação judaica à JMJ: fala David Hatchwell


Entrevista ao vice-presidente da Comunidade Judaica de Madri

 “Êxito absoluto”, “gente saudável”, “energia positiva”, “retorno aos valores”: é com esta contundência que se expressa, nesta entrevista, David Hatchwell, vice-presidente da Comunidade Judaica de Madri (www.cjmadrid.org), ao falar sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2011.

ZENIT: Você deu seu apoio à JMJ antes de que ela fosse realizada. Por que esta aliança com um evento católico de envergadura?
Hatchwell: Quem pensa as mesmas coisas precisa estar junto. Os católicos, como outros grupos, têm direito de expressar-se, ainda que haja protestos contra isso. Têm direito a acreditar no que acreditam e, por este motivo, temos esta proximidade, porque nós, os judeus, sabemos bem o que significa ser menosprezados. Entendemos o que é ser deslegitimados e eu vivo isso constantemente.
Sou muito sensível e não me preocupam somente, mas me incomodam as tendências a deslegitimar as pessoas. Uma pessoa pode não concordar com alguém, mas não deve haver ataques a coletivos de maneira injustificada e fora de contexto. Neste sentido, nosso apoio a um ato como a JMJ é claro. Comemoro o fato de que esta JMJ tenha se realizado e daí vem a proximidade com o evento.

ZENIT: Percebi que você gostou do encontro.
Hatchwell: Sem dúvida, esta viagem do Papa foi um êxito absoluto. É o maior acontecimento das últimas décadas, eu não me lembro de ter visto algo assim. Ver Madri com todo tipo de gente jovem nas ruas, pessoas muito sudáveis, com energia positiva, foi incrível, uma delícia. A avaliação só pode ser positiva.
Todos os dias, na grande variedade de eventos que ocorreram, demonstrou-se que o que se queria era um momento espiritual muito potente, e isso aconteceu.

ZENIT: Houve críticas também.
Hatchwell: Foi só um incidente de poucas pessoas, quando do outro lado havia quase dois milhões. Infelizmente, alguns meios de comunicação descontextualizam e mostram o fenômeno marginal. Mas, para mim, foi um êxito absoluto.
Do que li, me consta que uma empresa internacional – a Price Waterhouse Coopers – faz uma auditoria, o que me parece muito sensato por parte da Igreja, essa transparência.
Além disso, as JMJ contribuíram muito para a cidade de Madri, e por isso não entendo essas tentativas de criticá-la. Muito além de informações de manchetes, o que está claro é que Madri esteve no mapa do mundo vários dias e isso foi muito positivo para a Espanha.

ZENIT: Que aspecto da mensagem do Papa mais chamou sua atenção?
Hatchwell: Sem dúvida, a mensagem foi muito importante, especialmente a reconexão com uma série de valores. Esse apelo transcende um credo específico, não somente mensagens cristãs, mas universais.
O Papa pediu aos jovens que sejam muito valentes com suas convicções. Estamos diante de um relativismo ético muito profundo, com uma tendência a tirar valor das coisas que muita gente tem como princípios básicos da sua educação.
Nisso, estamos totalmente de acordo com o Papa: em uma sociedade moderna, são necessários valores para enfrentar o relativismo e continuar acreditando nas convicções morais que as pessoas têm.
Outro aspecto chamativo da mensagem foi que não vivemos na tirania do indivíduo, não existe um “eu” absoluto, mas hoje há valores comuns coletivos espirituais e o serviço ao outro.

ZENIT: Esses valores são compartilhados entre judeus e cristãos?
Hatchwell: Absolutamente. Judeus e cristãos compartilham valores comuns troncais. Jesus era judeu e os primeiros cristãos também: daí os valores compartilhados que, sem dúvida alguma, continuam sendo os mesmos.

ZENIT: Desde o Concílio Vaticano II, as relações entre a Igreja Católica e o judaísmo melhoraram substancialmente.
Hatchwell: Sabemos que, durante séculos, a relação entre a Igreja e o judaísmo não era em absoluto o que temos agora; melhorou há 40 anos. Eu me sinto privilegiado por viver hoje em dia, em um momento no qual a Igreja percebe de maneira totalmente diferente os judeus.
"...e ficaria feliz se meus filhos o
seguissem assim como eu,
 meus pais e assim por diante.
Quero mostrar-lhes que não são responsáveis
somente pelo seu microcosmos,
que tenham uma vida feliz e plena, com êxito,
o que é bom, mas servindo os outros,
não somente a comunidade judaica,
mas que sejam boas pessoas,
altruístas."
ZENIT: Os jovens judeus têm encontros como a JMJ?
Hatchwell: Encontros sim, mas não tão grandes. Há reuniões de jovens do mundo inteiro, da Rússia, Etiópia, Estados Unidos, nas quais se reúnem e compartilham valores comuns. Refletem sobre a vida, sobre o serviço ao outro, assumem responsabilidades.
Os jovens são muito importantes na nossa tradição. Os idosos têm mais conhecimentos e experiência, mas o presente e o futuro é dos jovens: é preciso investir sempre neles para que conheçam a base da nossa tradição, vivam-na e possam transmiti-la, pois, se não fazemos esforços com as pessoas jovens, em 30 anos, os números podem mudar.
É preciso dar um elemento cultural básico aos jovens. No meu caso, tenho a sorte de viver em um país democrático, onde tenho direito de observar meu culto; e ficaria feliz se meus filhos o seguissem assim como eu, meus pais e assim por diante. Quero mostrar-lhes que não são responsáveis somente pelo seu microcosmos, que tenham uma vida feliz e plena, com êxito, o que é bom, mas servindo os outros, não somente a comunidade judaica, mas que sejam boas pessoas, altruístas.
Neste sentido, cristãos e judeus, novamente, compartilham valores. Pensemos que o judaísmo nasce como a primeira religião monoteísta, em um momento em que não havia o direito à vida para todos; se a pessoa era escrava, não tinha os mesmos direitos, havia muitos sacrifícios humanos... Os direitos humanos são parte do DNA do judaísmo e foram configurando a sociedade atual, como o cristianismo também.
(Miriam Díez i Bosch)

MAIS REPERCUSSÃO DA JMJ

Madri, capital midiática mundial durante a JMJ

Segundo um estudo da Universidade de Navarra

PAMPLONA, sexta-feira, 26 de agosto de 2011 (ZENIT.org) – Segundo um estudo elaborado pela Universidade de Navarra, a viagem pastoral de Bento XVI à Espanha gerou 54 mil notícias em todo o mundo, o que provocou que, durante uma semana, todos os olhares estivessem dirigidos a Madri, graças à realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Dessas notícias, 30 mil foram divulgadas pela mídia espanhola e 12.600 pela imprensa das demais partes da Europa. Da mesma forma, 6.200 notícias procederam da América Latina, 2 mil dos EUA e Canadá, 400 da Oceania e 200 de países da África.
No total, o informe identificou notícias sobre a JMJ em 108 países, algumas de lugares remotos como Fiyi (2 artigos) e Serra Leoa (2 artigos), bem como de países com obstáculos para a liberdade religiosa, como Sudão (1 artigo), Arábia Saudita (4 artigos) e Cuba (42 artigos).
O estudo destaca que o acompanhamento da JMJ pelos meios de comunicação foi massivo, em contraste com outros eventos recentes associados a Madri. Neste sentido, as notícias relacionadas à JMJ tiveram um impacto midiático cinco vezes superior ao último atentado da ETA no Campo de las Naciones e três vezes maior que a não seleção de Madri como organizadora dos Jogos Olímpicos.
Quando se compara a última estadia do Papa na Espanha com outros acontecimentos de caráter religioso, o impacto da JMJ foi 3,3 vezes superior à beatificação de João Paulo II.
JMJ, embaixadora das marcas Madri e Espanha
Os dados sobre a cobertura midiática do encontro do Papa com os jovens constituem um adiantamento do informe que está sendo elaborado pelo grupo de Medios, Reputación e Intangibles, da Universidade de Navarra, sobre o impacto das JMJ na imagem da marca de Madri.
Como aponta Francesc Pujol, principal autor do estudo, “A JMJ foi um excelente embaixador da marca Madri, já que reforçou sua credibilidade para poder albergar outros grandes eventos mundiais no futuro”. Uma recepção que afeta também a projeção internacional do país organizador. “A JMJ contribuiu para restabelecer parte da deteriorada imagem econômica da Espanha no exterior”, indica o professor da Faculdade de Ciências Econômicas e Empresariais.
Mais informação: http://www.unav.es/centro/intangibles/main-page
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Fonte: MADRI, sexta-feira, 26 de agosto de 2011 (ZENIT.org)
Imagens da Internet

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