sábado, 29 de outubro de 2011

O que Wall Street fará?

Economist
O mundo das finanças precisa de melhores justificativas
 para acalmar os manifestantes

“Desde que a multidão se reuniu ao sul de Manhattan, expressando o seu profundo descontentamento com o status quo, temos tomado nota destes protestos”, escreveu Lloyd Blankfein, chefe do Goldman Sachs, em uma carta recente aos investidores. “Precisamos nos perguntar: ‘como podemos ganhar dinheiro com eles?’ A resposta é o recém-lançado Fundo Goldman Sachs Global Rage”, que investirá em empresas capazes de se beneficiar com a agitação social, tais como oficinas para consertar janelas e fabricantes de cassetetes para a polícia. Como o Sr. Blankfein explicou: “aqui na Goldman, admitimos que o sistema capitalista que conhecíamos está indo pelo ralo, mas há abundância de dinheiro para se fazer no caminho para baixo”.
A carta é uma paródia, plantada pelo humorista Andy Borowitz. Goldman Sachs e seus pares estariam obviamente falhando se não buscassem oportunidades na atual turbulência global. Mas eles também devem estar pensando com atenção sobre como os protestos podem colocar em risco os seus negócios.
Os protestos contra as finanças ganharam popularidade global. Nos Estados Unidos, atraíram simpatia em altas esferas: Barack Obama parece bajular os manifestantes como forma de reativar suas esperanças de reeleição. Até mesmo alguns republicanos acreditam que podem ganhar votos declarando afinidades com eles. Uma pesquisa da CNN publicada no último 24 de outubro descobriu que o número de pessoas que aprovam a ocupação a Wall Street já supera aos que desaprovam, por 32% a 29%. E o que é pior para Blankfein e seus compadres: 54% dos americanos acreditam que Wall Street não sabe o que é melhor para o país, contra 30% nos anos 90. O mundo das finanças já enfrenta novas e pesadas regulações. Se o eleitorado continuar irritado, as medidas podem ficar ainda mais pesadas.
Tradicionalmente, Wall Street reage a ataques contra sua reputação isolando-se numa torre de marfim, com seu exército de advogados e lobistas. Desde o colapso financeiro de 2008, esta tendência ficou mais forte, e os advogados de Wall Street convenceram seus patrões de que acabariam presos se suas declarações públicas continuassem a limitar aos clichês de sempre.
Então, os grandes bancos se desculparam por ter bagunçado a economia mundial, mas as desculpas foram tidas como relutantes e tardias. Convocados para falar no Congresso, os patrões de Wall Street deram declarações prontas que os fizeram soar arrogantes, gananciosos e sem arrependimentos. Talvez um grande gesto, ou dois, como cortar os bônus ou doar uma tonelada de dinheiro, restaurasse a fé pública no setor. Mas nunca saberemos, porque tal gesto não aconteceu.
Pelo contrário. Wall Street parece ter atribuído a suas muitas mentes brilhantes uma soma de tarefas que enfureceu a população, como a introdução de taxas para uso de cartões de débito. Goldman Sachs mostrou-se intransigente ao retirar o patrocínio de um arrecadador de fundos para uma cooperativa de crédito, só porque ela planejava homenagear o Occupy Wall Street.
Houve, porém, pequenos passos na direção certa. Jamie Dimon, da JPMorgan Chase, desculpou-se por descuidar-se de empréstimos a famílias militares. Vikram Pandit, do Citigroup, comprometeu-se a operar com “responsabilidade financeira”, seja o que for. Mas nenhum deles conseguiu acalmar a opinião pública. Schumpeter não ficaria surpreso se no “dia de transferência bancária”, grande número de correntistas mudassem de grandes bancos para cooperativas de crédito.
Talvez tenha chegada a hora para moldar uma nova estratégia: envolver-se diretamente com os manifestantes. Mas isso seria legitimar um movimento representado por “pessoas que usam drogas e fazem sexo no parque”, argumenta um relações públicas de Wall Street. Outro argumenta que os manifestantes estão chateados mais pelo desemprego e a desigualdade do que pelas atividades de Wall Street. Talvez ele até esteja certo, mas bater nesta tecla não irá recuperar a imagem maltratada de Wall Street.
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Fontes: Economist - What should Wall Street do?
http://opiniaoenoticia.com.br/economia/o-que-wall-street-deve-fazer/

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