segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O difícil retorno do campo de batalha

Estados Unidos
Veteranos das forças armadas enfrentam dificuldades
no retorno à vida civil nos Estados Unidos
Veteranos norte-americanos dos
combates no Iraque e no Afeganistão
são recebidos por uma nação que luta
contra uma economia estagnada

Brett Quinzon serviu duas vezes no Iraque antes de abandonar o serviço militar em maio. Originalmente de Minnesota, Quinzon agora vive em Thomaston, uma pequena cidade a pouco mais de 100 quilômetros ao sul de Atlanta. Numa cinzenta manhã de dezembro ele estava preenchendo formulários no maior hospital para veteranos de Atlanta, buscando tratamento para depressão. Desde que retornou do Iraque, ele diz ter mais “problemas com a raiva” do que antes. Seu caso não é incomum: muitos soldados voltaram assim dos campos de batalha. Entre janeiro e maio, enquanto se preparava para deixar as forças armadas, Quinzon buscou centenas de empregos, mas como a maioria dos veteranos, ele se alistou logo depois de deixar o colégio, e, portanto, não tem um diploma universitário. Mas sua persistência se provou útil. Ele agora é um aprendiz numa empresa de aquecedores e ares-condicionados, e está recebendo treinamento para se tornar um operador de equipamentos pesados.

Nem todos os veteranos têm tanta sorte. Cerca de 800 mil deles estão sem emprego, 1,4 milhão deles vive abaixo da linha de pobreza, e um em cada três moradores de rua nos Estados Unidos é um veterano. Embora o índice de desemprego entre os 21 milhões de veteranos do país (7,4%) seja menor o índice nacional (8,6%), entre os veteranos das recentes guerras contra o Iraque e o Afeganistão, ele chega a 11,1%. E entre os veteranos entre 18 e 24 anos, ele chegou a 37,9%, em novembro, um aumento de 7,5% em relação ao mês anterior.
"Cerca de 800 mil deles estão sem emprego,
1,4 milhão deles vive abaixo da linha de pobreza,
e um em cada três moradores de rua nos
Estados Unidos é um veterano."
Uma enorme quantidade de programas governamentais falhou na missão de colocar os veteranos de volta no mercado de trabalho. Uma lei aprovada por George W. Bush em 2008 pelo menos ajudou os veteranos a voltar para a escola, financiando a educação e o treinamento de todos os veteranos que serviram mais de 90 dias nas forças armadas após o 11 de setembro. Barack Obama criou o Conselho de Empregos dos Veteranos em 2009, e o governo federal contratou mais de 70 mil veteranos. No dia 21 de novembro, Obama aprovou uma lei oferecendo isenções fiscais a empregadores que contratassem veteranos desempregados ou com deficiências físicas. Michelle Obama e Jill Biden, a esposa do vice-presidente e madrasta de um soldado, lançaram uma campanha de apoio às famílias de veteranos e militares. O Departamento do Trabalho oferece um serviço de empregos online, além de programas de aconselhamento para veteranos em 3 mil centros espalhados pelo país.

Ainda assim, não há muito que comissões, inciativas e incentivos podem fazer. A transição de uma vida militar regimentada para a falta de estrutura da vida civil é difícil. Susan Hampton, que ajuda veteranos em um centro de Corbin, Kentucky, diz que os soldados tem problemas em transformar suas habilidades militares em habilidades civis que possam ser aproveitadas pelo mercado. “Currículos assustam muita gente, em especial os soldados, acostumados a receber ordens, que agora não tem ninguém para dizer a eles o que fazer e aonde ir”, diz Glenn Campbell, um fuzileiro veterano do leste do Kentucky.

Mais de 2 milhões de soldados serviram no Iraque e no Afeganistão. Os números parecem grandes, mas representam menos de 1% dos norte-americanos. Por mais impopular que sejam as guerras atuais, pelo menos os soldados não tiveram uma recepção como a dada aos soldados que retornaram do Vietnã, recebidos sob um onda de fúria popular. “Veteranos são mais respeitados que qualquer um aqui”, diz Campbell. E essa receptividade não está restrita ao Kentucky. Por todo o país os veteranos que retornam da guerra são recebidos com gratidão. Mas gratidão não é o suficiente para pagar as contas.
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Fontes: The Economist - A hard homecoming

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