sábado, 21 de janeiro de 2012

Amor de perdição

Maria Regina Canhos Vicentin*

Precisamos aprender a amar com desprendimento, afeição, e não perdição. O outro não nos pertence, nunca será nosso. Ele surge em nossa vida para torná-la mais bonita e atraente. Ele nos faz rir e apaixonar. Traz dois olhos brilhantes para dentro do nosso coração e uma mão amiga diante dos desafios e dificuldades, mas nem sempre vem para ficar. Algumas pessoas passam horas conosco, outras passam dias e meses, há as que vivem ao nosso lado por anos e aquelas que, mesmo após a morte, sentimos tão próximas que parecem não ter nos deixado. Essa ligação depende muito de cada um e da sintonia que existe entre os dois. Algumas pessoas estão próximas e é como se estivessem distantes; outras estão separadas por quilômetros e é como se estivessem lado a lado. O amor nasce de uma cumplicidade de almas, e perdura enquanto é alimentado por interesses comuns, sinceridade, perdão, alegria e tolerância. Ele é livre e quem quiser aprisioná-lo com certeza irá perdê-lo.

Repito sempre que o amor é opcional e não obrigatório. Tem gente que pensa poder domesticá-lo impondo horários e obrigações, fazendo exigências ou uma série de cobranças que, quase sempre, acabam por sufocá-lo e, por que não dizer, matá-lo. Se o amor não for livre, não tem graça. Não há como ter certeza de que é amor. Muitos têm medo de perdê-lo, mas caso se vá, será que era amor mesmo? Quantos relacionamentos se mantêm pela dependência, pelo medo, pelo comodismo, pela conveniência... Que chato ter um amor assim! Pensamos ser amados, mas no fundo, apenas mascaramos a carência do outro e a nossa própria carência. Não há olhares brilhantes, não há sorrisos espontâneos, não há abraços reconfortantes nem beijos acalorados. O dia a dia se desenrola na mesmice e na chateação. Será que alguém é feliz assim?

Pare de “morrer” de ciúmes e infernizar a vida do outro. Ele não lhe pertence mesmo e, se desejar, tem todo o direito de “cair fora”. Ninguém é obrigado a ficar com alguém. Vê se acorda pra vida e deixa a possessividade de lado. Todos têm o direito de viver em liberdade, inclusive de sentimentos. Quem ama quer ficar perto; quer partilhar momentos e coisas. Quer também ficar em silêncio quando não está bem, e isso não quer dizer que esteja distante, apenas magoado, em dúvida ou deprimido. É nessas horas que, talvez, sua presença seja mais importante, para confirmar seu amor, renovar sua disponibilidade em ajudar ou simplesmente para dar força e esperança. Amar também é isso, aprender a servir e estar disponível para ajudar nos momentos difíceis.

Agora, se o seu amor não é assim, desprendido. Se ele é egoísta, opressor, maldoso, violento, colérico, imoral ou pegajoso; sinto muito, mas isso não é amor. Pode ser ciúme, dependência, desconfiança, defeito, vício, afetação, vaidade, mas não amor. Deixe isso ir embora. É verdade, deixe ir. Você não precisa disso em sua vida. Tais sentimentos apenas escravizam e aprisionam. Fazem sofrer profundamente e sem necessidade. Isso é amor de perdição. Liberte-se desses sentimentos, deixe-os ir, e você ficará bem mais leve e feliz.
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*Psicóloga Judiciária. Dedica-se ao Atendimento Clínico e Aconselhamento Psicológico em consultório particular, dentro da Abordagem Centrada na Pessoa. Possui os títulos de Profissional Especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Jurídica. É autora de diversos livros e colaboradora em vários jornais no território nacional, além de algumas revistas, como "O Mensageiro de Santo Antonio" e "Família Cristã".
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