quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Verão II

Ruy Carlos Ostermann*

 Diz-se da leitura que ela exige silêncio e recolhimento,
senão a frase escapa e o parágrafo
se extingue.
O que menos se deve fazer nas assim denominadas férias de verão é se pretender ficar fora do mundo e longe das pessoas. Ficam todos ao redor, nem é preciso prestar alguma atenção ou levantar os óculos escuros. Repete-se tudo, mas de outra forma, é verdade. É essa peculiaridade que sempre escapa ao controle e se mistura com outras informações dos olhos, dos ouvidos e da insensível cartilagem da pele.
Não se surpreenda com essa indiferença da pele: tostada ao sol, charqueada no mar e submetida a camadas sucessivas e renováveis de protetores solares. O que resta dela é mesmo uma área amorfa com informações desencontradas e sofrimentos noturnos entre lençóis pontiagudos.
Um livro pode ser uma alternativa. Diz-se da leitura que ela exige silêncio e recolhimento, senão a frase escapa e o parágrafo se extingue. Um livro de mais de 300 páginas, capa dura, parece mais do que perfeito: tem volume, exige cuidado e alguma exigência de atenção redobrada, porque a cada página se sucede outra, indispensável.
Mas nem o livro salva o refúgio da intromissão de uma cachorrinha de estimação que vem lambê-lo no pé, pressurosa, com a "mamãe" correndo atrás e esbarrando no guarda-sol, o que promove a volta do mundo por inteiro.
Não há o que fazer, seremos vencidos pela realidade que nos vigia.
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* Jornalista. Cronista. Colunista da ZH
Fonte: http://www.encontroscomoprofessor.com.br/16/02/2012
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