domingo, 15 de abril de 2012

"Brasil não tem economia de primeiro mundo", diz Álvaro Vargas Llosa

Fórum da Liberdade
"Brasil não tem economia de primeiro mundo", diz Álvaro Vargas Llosa divulgação/Fórum da Liberdade
Filho de Mario Vargas Llosa é uma das estrelas do evento 
Foto: divulgação / Fórum da Liberdade
Nilson Mariano
 
 Analista político disse que país assumiu 
liderança política na América Latina

Filho do Nobel de literatura Mario Vargas Llosa, o escritor e analista político Álvaro Vargas Llosa, 45 anos, é uma das estrelas do Fórum da Liberdade. Crítico de governos populistas e de ideias esquerdistas na América Latina, é membro sênior do Independent Institute e editor do Lições dos Pobres. 
Co-autor do livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano — best-seller dos que se alinham a princípios liberais —, Álvaro destaca que o Brasil assumiu a liderança política no continente, mas falta construir uma economia de primeiro mundo. Confira a entrevista que concedeu a ZH, por telefone, dos Estados Unidos, na terça-feira.

Zero Hora — Como o senhor analisa as semelhanças e as diferenças entre o Brasil com os demais países da América Latina? Seria possível projetar esse quadro para daqui 25 anos?
Álvaro Vargas Llosa — O Brasil tem se afirmado como potência política na região. Também vem despontando, talvez não com a mesma força, na parte econômica, o que lhe dá suporte a esse papel político. Em linhas gerais, isso representa semelhanças com o resto da América Latina. O contexto em que o Brasil desponta é o mesmo que possibilita a afirmação política e econômica de países como o Chile, o Peru, a Colômbia, o próprio México. Isso evidencia que o conjunto da região está se desenvolvendo. Essa é a semelhança principal. A diferença que existe tem a ver com o peso do Brasil, que passa a ser notado como uma liderança na região, e isso é uma novidade. No passado, o Brasil era considerado uma potência sul-americana, mas, na prática, não exercia a liderança. Hoje, sim, está exercendo pelos investimentos de suas empresas privadas ou pelos financiamentos a projetos de infraestrutura. Isso é uma diferença importante, porque os outros países latino-americanos não estão em condições, nem remotamente, de exercer uma liderança comparável à do Brasil. Para os próximos 25 anos, creio que o desafio principal do Brasil é que ainda não tem uma economia e uma sociedade de primeiro mundo. Embora aspire a ter uma liderança política de primeiro mundo, o Brasil não está à altura como economia, sociedade e no conjunto das instituições.

"A diferença que existe tem a ver com o peso do Brasil, que passa a ser notado como uma liderança na região, e isso é uma novidade. No passado, o Brasil era considerado uma potência sul-americana, mas, na prática, não exercia a liderança."

ZH — Em artigo recente, o senhor criticou o que chama de tentação protecionista na economia do Brasil. Por quê?
Álvaro Vargas Llosa — O Brasil tem um sistema econômico que não está tão aberto como outros, tipo Chile e Peru. Claro que são países menores. Mas, quantitativamente falando, o Brasil tem mercados muito superprotegidos. Em alguns casos, são obstáculos comerciais. Em outros, a presença grande do Estado, que afeta direta ou indiretamente as principais indústrias do país. Existem barreiras que limitam a capacidade de o mercado livre se desenvolver.

ZH — Qual a comparação que poderia ser feita entre Dilma Rousseff, Lula e Fernando Henrique Cardoso?
Álvaro Vargas Llosa — Fernando Henrique é quem iniciou as reformas, é um mérito histórico que ninguém pode discutir. Sempre se poderá discutir se ele fez todas as reformas necessárias, ou se fez as possíveis de serem feitas. Creio que poderia ter feito reformas mais audaciosas. Mas reconheço que fez boas reformas. No caso de Lula, haverá que se agradecer sempre a ele por ter abandonado a mentalidade excessivamente populista. A esquerda preservou as reformas que Fernando Henrique fez, o que deu ao sistema uma estabilidade e uma previsibilidade que facilitaram investimentos. No entanto, Lula teve dois problemas. O primeiro é que não fez reformas, contentou-se em expandir os programas sociais que herdou de Fernando Henrique. E teria legitimidade para fazê-las, devido à sua grande popularidade. Por outro lado, na política exterior, levou suas simpatias pelos adversários dos Estados Unidos demasiadamente longe, por Cuba, ou pior, pelo Irã. No caso de Dilma, há dois aspectos. Na política exterior, ela está tratando de moderar certos excessos de Lula. No lado interno, trata de fazer reformas, ainda tímidas. Isso demonstra que é lúcida quanto à necessidade de se fazer reformas. Tomara que as faça, que tenha respaldo político para fazê-las.

ZH — A sua obra sobre o "Idiota Latino-americano" (no entender dos três autores, aquele prega ideias marxistas e ultrapassadas) segue atual?
Álvaro Vargas Llosa — O livro teve uma atualização, há poucos anos, que se chamou o Regresso do Idiota. Lamentavelmente, necessita-se de mais atualização. Sou um otimista, creio que populismo como ideologia latino-americano está em decadência. No momento, o que me preocupa não é o populismo, como nos casos de Venezuela ou Argentina. O que me preocupa é que os liberais não terminam de fazer as reformas necessárias para se passar de uma vez por todas para o primeiro mundo. Para aqueles que se declaram liberais, corresponde pressionar, pressionar e pressionar os governos, para que façam a grande reforma do Estado. É a única maneira de se criar uma massa crítica na América Latina totalmente vacinada contra a tentação populista.
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Fonte: ZH on line, 15/04/2012

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