sábado, 14 de abril de 2012

Cérebros de ervilha

Juremir Machado da Silva*

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER



A minha ignorância sobre o mundo dos famosos é gigantesca. Eu nunca tinha ouvido falar, por exemplo, de Katy Perry. Para mim, no meu mundo isolado, ela não existia. Mas, no Sábado de Aleluia, fiquei sabendo que ela está cansada de ser famosa. Já? Ela foi mais longe e soltou esta maravilha: "A fama é, eu penso, apenas um subproduto nojento do que eu faço". Katy Perry, segundo pude apurar, é considerada uma popstar. Uau! Ela foi casada com um cara de quem eu também jamais ouvira falar, um tal de Russell Brand. O meu interesse por Katy, depois dessas declarações, não parou de crescer. Já sei que ela é cantora. Ouvi uma interpretação dela. Não me encantei.

Gostei mesmo foi desta outra observação antropológica feita por ela a respeito dos seus admiradores: "Eu ainda quero ser tão acessível quanto for possível - quando encontro os fãs e eles estão chorando, eu digo: ''Calma, não tem por que chorar. Eu não vou te morder, atacá-lo ou lhe conceder três desejos. Vamos apenas passear e ter um tempo gostoso''". Não é espetacular? Como pode alguém começar a chorar só por se aproximar do seu ídolo? A pessoa que faz isso só pode ter uma ervilha no lugar do cérebro, salvo se for um adolescente descontrolado ou com o cérebro atrofiado por excesso de MTV, games e culto a celebridades. Gostei tanto dessa entrevista da Katy Perry que, se encontrar com ela, começarei a chorar. Afinal, meu cérebro é do tamanho de uma ervilha. Não fosse assim, eu não me interessaria tanto por esses assuntos transcendentais.

Não consigo me conter. Leitores garantem que sou invejoso. Estão certos. Não posso aceitar que nenhum dos meus fãs se derreta em lágrimas ao meu ver. Nem desmaie. Eu me mantenho acessível, ando de ônibus e lotação, aceito o assédio com tranquilidade e educação, só não prometo momentos gostosos com os leitores ou leitoras para evitar problemas em casa. Katy é estrela teen. Eu, na aurora da terceira idade, perdi o contato com esse universo sensível e altamente inflamável. Em todo caso, passei a considerar, para usar uma linguagem antiga, essa Katy Perry uma boa influência para a galera. Mais saudável do que Harry Potter. Na saga do bruxinho insosso quem não detém poderes mágicos é chamado de "trouxa". Isso me parece uma tremenda discriminação aos diferentes e aos cérebros de ervilha menos lacrimejantes como eu.

O mundo da fama é deslumbrante. Britney Spears, que já foi musa teen, finalmente está virando adulta: vai entregar toda a sua fortuna, hoje sob tutela do pai, ao controle do noivo. A ervilha do cérebro da Britney consegue ser menor do que a minha. Só tem um jeito de ficar imune a esses assuntos altamente envolventes: não entrar mais na Internet. Ou, ao menos, evitar a página de abertura de qualquer portal. Agora sou fã da Katy. Estou com os olhos molhados só de pensar nos problemas que a fama lhe traz. Choro copiosamente imaginando todos esses adolescentes que perdem o controle ao vê-la. O futuro da humanidade tem tudo para caber numa lata de ervilhas.
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*Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Colunista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br 
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Fonte: Correio do Povo on line, 14/04/2012

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