quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nobel defende equilíbrio entre Estado e mercado

Amartya Sen avalia que desenvolvimento humano no Brasil pode avançar

O modelo de desenvolvimento que o Nobel de Economia Amartya Sen sugere como ideal pode desagradar tanto a defensores da participação do Estado quanto àqueles que pregam a livre atuação do mercado. Conferencista que inaugurou o ciclo 2012 de palestras do Fronteiras do Pensamento, ontem, em Porto Alegre, o economista indiano propõe que os dois sistemas trabalhem de forma complementar na busca do melhor para as nações.

Antes da palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Amartya Sen, 78 anos, concedeu entrevista. Brincou que, ao recomendar a convivência entre Estado e livre mercado, poderia ser hostilizado pela direita e pela esquerda. No entanto, garantiu que a harmonia entre ambos é desejável para impulsionar a economia de países em desenvolvimento.

Agraciado com o Nobel em 1998 por suas pesquisas sobre o subdesenvolvimento e a história dos países pobres, o economista observou que não tem um modelo pronto. O formato que citou prevê o chamado “duplo agenciamento”. O Estado cuidaria dos serviços básicos para a população, como a saúde, a educação, a segurança e o aprimoramento profissional, enquanto a iniciativa privada se encarregaria de abrir empresas, gerar empregos e inovar a tecnologia.

Um dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano, Sen ponderou que “não é especialista” em Brasil. Mas disse que a coexistência entre Estado e livre mercado tem prosperado no país. Lembrou que o Estado, como agente do bem-estar social, surgiu na década de 1940, com Getúlio Vargas. Deve cumprir sua missão, mas sem tirar o espaço do setor privado.

– Houve mudanças no Brasil nos últimos anos, em benefício do desenvolvimento humano, mas pode avançar mais – analisou.

Para uma plateia lotada no Salão de Atos da UFRGS, Sen apresentou o Brasil como um exemplo de como usar o crescimento econômico para reduzir a miséria e privação:

– O Brasil tem um papel importante no tema justiça global.

O economista criticou a adoção de medidas de austeridade como receita única para superar para a crise europeia. Isso representa fracasso “intelectual e democrático”, disse. Para Sen, é um erro achar que a mera redução de gastos públicos em um ambiente de privação reverterá os problemas.

O Nobel ironizou a política europeia, destacando que importa menos para os líderes europeus o que o povo grego ou espanhol diz do que o que as avaliações de analistas financeiros e agências de classificação:

– É triste pensar que no continente onde a democracia se estabeleceu, está se marginalizando a democracia.

A trajetória de Sen é de superação. Contou que, em 1943, quando era criança, viu como a falta de comida assolou a região de Bengala, na Índia:

– Naquele momento, achei que deveria estudar as causas da fome.
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Fonte: ZH on line, 26/04/2012

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