domingo, 27 de maio de 2012

A depressão através das eras

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Autor perambula pela história e cultura da depressão e mostra como as atitudes em relação à enfermidade se alteraram ao longo do tempo

O que é a depressão? Os gregos antigos acreditavam que a condição resultava de um desequilíbrio entre os quatro humores do corpo: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra; sendo que um excesso desta última resultava em um estado de espírito melancólico. A cristandade primitiva culpava o diabo e a ira divina pelo sofrimento dos homens, e a depressão era resultado dos esforços contra tentações mundanas e pecados da carne. Na Renascença, ela era vista como uma doença de estudiosos, como Robert Burton, autor de A Anatomia da Melancolia, que se dedicavam à especulação profunda e abstrata.
Neste bem pesquisado livro, Clark Lawlor, da Universidade Northumbria, perambula pela história e cultura da depressão e mostra como as atitudes em relação à enfermidade se alteraram ao longo do tempo. Ele traz à vida diferentes escolas de pensamento sobre a questão, e debate o papel do setor farmacêutico em categorizar e tratar doenças mentais.
A parte mais instigante do livro cobre a ascensão da “nova ciência”, quando o foco sobre a melancolia se deslocou mais uma vez. Muito disso pode ser atribuído a Emil Kraepelin, um psiquiatra alemão que co-descobriu o mal de Alzheimer, que postulava que patologias biológicas subjaziam a cada uma das principais desordens psiquiátricas. O trabalho de Kraepelin, contudo, foi rapidamente eclipsado pelo de Sigmund Freud, cuja conclusão de que as doenças mentais advinham de causas emocionais ao invés de físicas serviu de passe para a ascensão da tradição psicanalítica europeia e americana do século XX.

 "Organização Mundial de Saúde, que entrevistou 89.000 pessoas, revelou que mais de 120 milhões de pessoas por todo o mundo sofrem de depressão, que por sua vez é responsável por 850.000 suicídios todos os anos."

Essas duas visões ilustram boa parte do constante debate acerca da patologia e tratamento das doenças mentais. Para alguns, a doença é uma desequilíbrio na neuroquímica do cérebro passível de ser tratada com remédio – uma deficiência de serotonina – que pode ser remediada por inibidores seletivos de recaptação de serotonina como fluoxetina, mais conhecida como Prozac, que foi receitada para mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo desde seu lançamento em 1988. Para outros, a depressão emerge como uma resposta a danos psicológicos, sendo que a escola freudiana de psicoterapia em particular liga estes danos às condições de criação do paciente.
Hoje cerca de 15% das pessoas nos países desenvolvidos sofrem de depressão, e a doença não dá sinais de enfraquecimento. A recente pesquisa de saúde World Mental Health Survey Initiative da Organização Mundial de Saúde, que entrevistou 89.000 pessoas, revelou que mais de 120 milhões de pessoas por todo o mundo sofrem de depressão, que por sua vez é responsável por 850.000 suicídios todos os anos.
A prescrição de pílulas se tornou um tratamento popular, em parte porque é muito mais rápido que a duração de uma psicoterapia, que pode levar meses ou até anos. Mas pesquisas mostram que uma abordagem holística que trata tanto o corpo quanto a mente com uma combinação de medicação e terapia de fala oferece os maiores benefícios de longo prazo. O sucesso dessa abordagem sugere que tanto Kraepelin como Freud estavam corretos.
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 http://opiniaoenoticia.com.br/vida/saude/a-depressao-atraves-das-eras/27/05/2012

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