terça-feira, 29 de maio de 2012

Novo mico da Veja?

Juremir Machado da Silva*

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Se o ex-presidente Lula realmente tentou fazer um toma-lá-dá-cá com o ministro Gilmar Mendes, do STF, ele pisou feio na bola. Oferecer blindagem na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do mensalão é entrar de sola. Merece cartão vermelho. Claro que a população ficou interessada em saber mais sobre a tal viagem do pomposo togado a Berlim nas águas do Cachoeira. Mendes garante que foi com o seu próprio dinheiro e que Berlim é São Bernardo do Campo para ele. Não duvido. Num caso desses, Lula teria retrocedido ao velho "Lulla". O petismo revigorado anda apregoando que não houve mensalão e que tudo não passou de intriga do Cachoeira. É dose para rinoceronte. O Brasil poderia fazer um coro para Lulla: "Por que não te calas?". Cuida da tua garganta.

O mensalão existiu e precisa ser passado a limpo. É aconselhável que os mensaleiros sejam punidos. Todos os mensaleiros. Nessa guerra de mídia e de partidos, o interessante é ver como alguns assuntos incendeiam a mente de uns e deixam outros com cara de paisagem. Lula cumpriu um papel decisivo na política brasileira. Brilhou nos gramados da política nacional como um Pelé. Na seleção brasileira da política de todos os tempos, Lula e Getúlio Vargas vestem as camisas nove e dez. Não tem para ninguém. Só que chega a hora de pendurar as chuteiras. Lula não precisa sair do estádio. Pode palpitar, fazer comentários, ajudar com a sua experiência e sabedoria. Mas já não pode nem deve ser titular. O seu tempo passou, assim como no futebol já se foi a época do 4-3-3, dos ponteiros abertos, dos dribles quase sem marcação e do triunfo do jeitinho e da malandragem. Os tempos são outros. A bola está com Dilma Rousseff. A criatura vem superando o seu criador. É a jogadora certa para agora.

Lula fez a sua parte. Questão de estilo. O jogo agora é outro. Mais vertical. Menos sinuoso. No lance do Código Florestal, por exemplo, Dilma mostrou a sua maneira de atuar. Não deu um chocolate nem fez gol da placa. Jogou com o regulamento embaixo do braço. Chamou a atenção da mídia internacional. Lula teria embolado mais o jogo. Dilma emplacou a Comissão da Verdade que Lula deixou no banco de reservas. Dilma dispensou quase um time inteiro de ministros. Lula, como certos árbitros, deixava o jogo correr mais, indiferente a certos contatos mais chocantes. Essa malemolência foi útil para driblar resistências e marcações mais duras em certo momento. Agora, no entanto, o que se quer é aprofundar o estilo Dilma: toque rápido, posicionamento mais frontal, lançamentos longos. O PT precisa fazer o luto do passado, aceitar as punições cabíveis e botar a bola no chão.

Quem compreendeu a regra do jogo só falta exclamar: "Lula, deixa a bola com a Dilma, que ela resolve". Vai, Lula, é hora de entrar na Gaviões da Fiel. Tudo isso deveria ser dito assim não houvesse um mas: o ex-ministro Nelson Jobim, em cujo escritório teria acontecido o papo entre Lula e Gilmar Mendes, diz que não houve conversa alguma. Lula e Gilmar nem teriam ficado a sós. Sepúlveda Pertence, que seria encarregado por Lula de aumentar a pressão sobre o STF, também nega qualquer pedido. Quem está mentido? Gilmar? Jobim? Veja? De novo? Mais um mico.
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* Sociólogo. Escritor. Cronista do Correio do Povo. Tradutor. Prof. Universitário.
juremir@correiodopovo.com.br
 Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER 
Fonte: Correio do Povo online, 29/08/2012

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