quinta-feira, 24 de maio de 2012

Omar Kahayyán: como devemos viver a vida


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A vida não é um mar de rosas. A experiência nos mostra que pessoas honestas são perseguidas, que a hipocrisia e a mentira são normas e lei nas relações sociais, que os idiotas e ineptos são engrandecidos e adulados, que ter nascido não é uma graça divina, e que a vida é uma escravidão onde tudo é claustro, frívolo e precário.  Quem pensa assim é Omar Kahayyán, o maior filósofo pessimista da Pérsia, atual Irã.  Nasceu por volta do ano 1080 perto da cidade de Nishapur e veio morrer aos oitenta e cinco anos de idade.  Era filósofo, matemático e astrônomo preocupado em entender o sentido da vida e o enigma do universo. Apesar de enxergar friamente a vida, tal como ela é, encontrou na poesia, no vinho e nas mulheres a razão do seu viver.  O ocidente o conhece graças as suas poesias. Ele as escrevia despreocupadamente como uma forma de desabafo e de alívio de suas frustrações. Seus poemas foram denominados pela tradição de “Rubaiatas”, plural de Rubaía, cujo significado é quadra, estrofe de quatro versos. São três os motivos de seus rubaiatas: a tristeza de se viver neste mundo; a insensatez dos dogmas da religião; e os prazeres do vinho e da sensualidade.
             Para ele  a vida era sem sentido, sem rumo, sem finalidade. Negava o mundo e o concebia como um “cárcere asfixiante”.                 
Somos joguetes
Nas mãos do Destino
Simples brinquedos,
à nossa custa
diverte-se o universo
Joguetes
Que vivem redemoinhando
Ao sabor dos ventos
Não se trata de metáfora,
Nem exagero no que digo:
Esta é a realidade
No passado,
Ingenuamente brincávamos
No tablado da vida.
Seremos hoje
Uns após outros,
Carregados
no féretro do não-ser
            Em um de seus poemas Omar Khayyán dizia que se tivessem consultado sobre sua vinda a terra, ele teria dito não. Sentia-se triste por ter nascido, achava que a vida é um algoz que nos força a aceitar um destino que não escolhemos. Ele nunca aceitou o fato de viver nesse mundo.  Sentia-se perplexo e desajustado, também sentia angustia diante da morte, uma vez que ela nos leva a um aniquilamento final inexorável. 
        Omar Kahayyán  também criticou as crenças e valores de sua época. Achava impossível ao homem provar a realidade de Deus. Em seus poemas usava a ironia desvelando as contradições dos dogmas religiosos.                       
O Allah!
Semeaste de armadilhas
E eriçaste de pecados
As curvas do meu caminho!
 E depois advertiste:
- Ai de ti se caíres!
Sabemos
Que nem um só átomo se esconde
à Tua visão
Em todo o universo
Ora,
Se determinaste
Que assim se me desdobrasse
O percurso da existência
E se tão meticulosamente
Preparaste a minha queda,
Allah!
Por que me chamas
Pecador?
                 Apesar de seu extremo pessimismo Omár Khayyán cultivava um ideal hedonista de vida.  Incitava seus contemporâneos à renunciar a tudo neste mundo: poder, fama, cargos e dinheiro. Achava que esses desejos só traziam pertubação à alma, eram indícios inexoráveis de infelicidade.
Renuncia a tudo
Neste mundo
Fortuna, poder, honrarias.
 Desvia teus passos
De todo caminho
Que não te conduza à taberna
Nada peças, nem desejes,
Senão vinho, canções, música, amor!
Nobre e formoso mancebo,
Apanha o odre
E empunha a taça
Bebe
Mas, cuidado!
Não seja frívolo,
Não fales em vão 
              Para ele o afeto, o amor e a compreensão são os alicerces da vida. “A vida é amor e nada mais”.  O mais importante na existência era conquistar o quinhão de ventura no decorrer de cada dia e nos entregarmos a nossa amada com uma taça de vinho nas mãos.
           Também dizia que devemos ter poucas necessidades. Se diariamente um homem consegue um pedaço de pão e um pouco de água, por que deveria trabalhar para outro? Por que precisa se humilhar diante de um estranho?  Segundo ele, quanto mais necessidades temos,  mais dores e sofrimentos colhemos para o corpo e para a alma. Dizia que na vida devemos ser livres e tranquilos. 
           Ele asseverava que não devemos molestar, não odiar e não causar dano ou prejuízo a ninguém. Temos que idealizar uma vida serena, em quietude suportando risonhos as ofensas e todo horror das calúnias. Também não devemos culpar o destino pelo mal de que padecemos e  não devemos agradecer os céus pelos bens que desfrutamos. Toda fatalidade, alegria ou tristeza que temos surge à revelia. Tudo que ocorre no mundo é contingente.   
            Diante das tristezas e percalços da vida aconselhava-nos a beber vinho. O vinho é exaltado e enaltecido em quase a metade de suas poesias. Para ele,  o vinho nos abre as portas da percepção e não nos deixa alheios à vida, fazendo com que satisfaçamos nossos instintos mais primordiais. Assim  nos liberta da dor, do sofrimento e nos propicia alegria e prazer.
 Bebe vinho dourado
É repouso para o espírito
Bálsamo providencial
Para alma e coração ferido
Se fores assediado
Por um dilúvio de tristeza
Se te vires,
Por todos os lados,
Acometidos de pesares
Agarra-te, sem receio,
Ao delicioso vinho dourado
É o barco da salvação.
         Em toda sua vida Omar Khayyán só encontrou consolo na bebida e nas mulheres. Sentia-se perplexo diante da incógnita da existência, era uma alma torturada em busca da verdade. Não encontrou respostas as suas indagações, sentiu depressão, angústia, desespero e acabou por se resignar. O vinho não era uma fuga ou apenas um simples prazer dos sentidos, muito pelo contrário, era um instrumento de êxtase místico para se atingir a verdade. Uma verdade que ele nunca encontrou.   
Bibliografia
khayyán, Omar. Rubáiyiát. São paulo: Martin Claret, 2005
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Fonte: http://filosofonet.wordpress.com/2012/04/25/omar-kahayyan-como-devemos-viver-a-vida/

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