domingo, 17 de junho de 2012

Eentrevista com o diretor de "Prometheus", Ridley Scott

Confira entrevista com o diretor de "Prometheus", Ridley Scott fox/Divulgação
Em "Prometheus", Ridley Scott responde ao enigma de Alien e lança novas perguntas Foto: fox / Divulgação

 Após 33 anos do filme épico do diretor, "Alien – O Oitavo Passageiro", Ridley Scott volta às telas com "Prometheus"

Luiz Carlos Merten

Ridley Scott nunca gastou tanto dinheiro em sua carreira, mas estava sereno ao conversar com a reportagem, na capital inglesa, sobre Prometheus. Durante muito tempo se falou no retorno do diretor a seu filme mítico, Alien – O Oitavo Passageiro, de 1979. O próprio título, Scott reconhece, é simbólico. Prometeu, o herói mitológico, roubou o fogo de Zeus para dá-lo aos homens e foi punido pelo deus. Prometheus, o filme, parece que vai responder ao enigma de Alien e lança novas perguntas. O filme promete mais do que cumpre, mas impressiona, principalmente pelo visual. 

Pergunta – Por que voltar a Alien, 33 anos depois?
Ridley Scott – De todas as minhas criações, Alien foi a que mais se instalou no imaginário coletivo. Concebi-o como um personagem aterrador e, embora lisonjeado com a popularidade que alcançou, nunca me senti muito confortável com as sequências nem com os filmes da outra franquia, quando Alien enfrenta o Predador. Há algum tempo, comecei a conversar com a Fox, propondo uma retomada da série. A conversa era no rumo de uma sequência, mas, quando comecei a trabalhar no projeto, percebi que teria de tomar o caminho inverso. Saiu uma prequel.

Pergunta – Por que esse formato?
Scott – Porque o filme nasce da indagação. Se estava insatisfeito com os rumos de Alien, precisava voltar à origem. Quem é ele? Todas as culturas ancestrais manifestam o temor e a reverência perante o desconhecido. Na trama, Noomi Rapace (atriz que vive a protagonista, a arqueóloga Elizabeth Shaw) acredita que os signos que encontra em diferentes culturas apontam para um convite. O homem está sendo chamado para ir às estrelas. Ela organiza uma expedição em busca de repostas. Encontra o desconhecido.

Pergunta – Erik Von Däniken escreveu um monte de livros sobre os deuses astronautas. Foi uma influência?
Scott – Ninguém o levava a sério, do ponto de vista científico, mas muitas hipóteses que levantou permanecem sem respostas e não podem ser descartadas. Parte disso veio para o filme, sim.

Pergunta – O que você descobriu sobre Alien no retorno à origem?
Scott – Fortaleci ideias que já estavam no filme de 1979. Ele representa nossos medos mais profundos e, nesse sentido, tem de ser estressante. Insisto sempre nas cenas de nascimento do alienígena justamente por isso, para explicitar o horror.

Pergunta – No primeiro filme, ele nascia do ventre do homem. Aqui, do ventre do homem das estrelas. Por que a fixação?
Scott – É o aspecto mais intrigante e não vou lhe dar nenhuma resposta específica. Tem a ver com a construção dramática dos filmes como unidades de espaço e tempo. Mas digamos que, obviamente, há aí uma crítica ao machismo, num sentido amplo. O poder do falus, Tanatos, Marte, a guerra.

Pergunta – É por isso que você gosta tanto de heroínas feministas? Sigourney Weaver em Alien, Noomi Rapace em Prometheus...
Scott – Fiz diversos filmes com e sobre mulheres fortes e a explicação é simples. Meu pai era militar, vivia viajando. Meus irmãos e eu fomos criados por nossa mãe, e ela tem sido o protótipo feminino, não só do meu cinema, mas da minha vida. Era dominadora sem perder a ternura. Não precisava gritar nem bater. Bastava um olhar. Mas não creio que homem nenhum possa bater no peito e dizer – sou feminista. Carregamos a nostalgia de nossas funções ancestrais. O homem como provedor, a mulher como mantenedora da espécie. Mas, sim, em definitivo as mulheres fortes me atraem, em especial na ficção.

Pergunta – Por que Noomi Rapace?
Scott – Era uma atriz com quem queria trabalhar há tempos, mas não encontrava o papel certo. É frágil e forte, possui uma beleza particular. E eu precisava de uma atriz com olhar humano, para que o público acreditasse na honestidade de sua busca.

Pergunta – O filme tem muita ação, mas à maneira de Stanley Kubrick, em 2001, carrega indagações filosóficas sobre a existência. Como veio isso?
Scott – O roteiro foi concebido dessa maneira. Foi escrito em oito meses, o que me parece um prazo curto, considerando-se a amplitude do projeto. Mas não pensava: "Vou fazer o meu 2001". Seria muita presunção, mesmo que Alien e Blade Runner sejam consideradas duas das ficções científicas mais influentes.

Pergunta – O que o gênero tem de tão atraente?
Scott – É a possibilidade de projetar, como fantasia, questões que são relevantes sobre o nosso presente e futuro. Existem os autores que viajam na imaginação, os que se mantêm dentro das possibilidades reais da ciência e os que buscam extrapolar as indagações.

Pergunta – Em que ponto você se situa?
Scott – Sou visionário. Gosto de criar mundos, é a minha paixão.

Pergunta – A contribuição de H. R. Giger (artista gráfico suíço responsável pelo conceito visual do universo Alien) é fundamental. Você tem outra equipe técnica e artística, mas o conceito visual de Alien segue sendo dele. Por quê?
Scott – Tenho plena consciência de que o sucesso de Alien deve muito a Giger. Tive sorte ao encontrá-lo, mas foi difícil persuadir o estúdio (Fox) a aceitar seus desenhos. Eles os consideravam obscenos, e eram, mas isso agrega ao terror do humanoide. Quando vi o Necromicon de Giger senti uma vertigem, pensei: "É isso!". Na época, não tinha muito dinheiro, e fizemos várias tentativas. Filmamos um protótipo minúsculo em imagem reduzida, ampliamos para 35mm, gravamos em vídeo e jogamos na tela da TV. Mas aquilo foi só a base. Em cima joguei a direção de arte, a fotografia, os efeitos, como aqui. Para Prometheus retomamos desenhos originais de Giger. A atmosfera continua dele.

Pergunta – Você filmou na Islândia, construiu sets gigantescos. Noomi disse que achava que ia representar contra um fundo verde e estava tudo lá. Por quê?
Scott – É mais barato. A pós-produção encarece muito, mas não foi só por isso. Num filme de terror, é bom que os atores se sintam ameaçados para que o espectador acredite neles.
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Fonte: ZH on line, 17/06/2012

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