sábado, 28 de julho de 2012

‘Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge’, de Christopher Nolan

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Ficção e realidade se confundem na estética da barbárie

Assistir à pré-estréia de Batman depois dos do acontecido no Colorado é uma experiência de certo medo, onde qualquer movimento na platéia suscita apreensão; como se pudéssemos ser atingidos a todo momento pela violência implacável. O filme, uma obra totalitária, amparado na própria violência, se afina perfeitamente aos acontecimentos da vida real: Ficção e realidade se confundem através do terrorismo, com sangue, explosões, corpos dilacerados e gritos de terror.
A sensação é a de que voltamos outra vez a assistir o mesmo filme, totalmente decupado em planos minuciosos, que duram átimos de segundo, impedindo o espectador de pensar. O cérebro se contrai, um músculo tenso e entorpecido, vilipendiado pelas imagens que ferem como punhais – cada corte um pequeno eletrochoque, preparando aquele que assiste para viver a partir de um controle baseado na docilidade dos corpos. Ver para não agir? Ou seria o contrário?
As regras e códigos de conduta da dita civilização só precisam de um estímulo, o menor que seja, para serem perfuradas pela barbárie. Aquilo que é sublimado, permanece latente, até que explode em um rompante de violência. Benjamin estava certo quando apregoava a existência de uma estética da política e de uma politização da estética. O que vemos neste filme, que não acaba nunca, é a mistura da perspectiva dos senhores, os poderosos manipuladores das massas, vendedores de armas, traficantes de almas, com a burrice e idiotice da plebe, que necessita cada vez mais do mesmo: O famoso panis et circensis!
Quando mais uma escola for atacada, mais sangue dos inocentes for derramado, poderemos construir no lugar uma espécie de Shopping Center, um monumento moderno, povoado pelos fantasmas e gritos das criancinhas. Um lugar para ver e ser visto, controlado e vigiado; câmeras e – por que não? - um policial armado. Para onde ia mesmo aquele trem de Realengo?
Ao perceber que vida e “arte” se confundem no escurinho do cinema, penso que vivemos num umbral, uma espécie de semi-vida, onde a qualquer momento pode surgir o Cavaleiro das Trevas, aquele que virá nos levar. E vivemos na expectativa disto!
É como se a anarquia, um imaginário libertador que pregava a utopia de um homem livre da coerção do Estado, tivesse sido esmagada e enlatada pelas políticas e estéticas do próprio Estado. Esse ESTADO globalizado, empenhado e azeitado pela mediocrização das massas. Aqui o veneno e o antídoto se confundem, parecendo ecoar, como o Livro de Monelle, de M. Schwob, publicado em 1894:

Destrua, destrua, destrua, suplica Monelle.
Destrua em ti mesmo, destrua ao teu redor (…) Destrua todo o bem e todo o mal. Os escombros são semelhantes.
Destrua as antigas habitações dos homens e as antigas habitações das almas; as coisas mortas são os espelhos que deformam. (…)
E para imaginar uma nova arte, é preciso demolir a arte antiga. E desse modo a nova arte parece uma espécie de iconoclastia.
Pois toda construção é feita de cacos, e nada é novo neste mundo, a não ser as formas.
Mas é preciso destruir as formas.

 Veja o trailler: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aXI0fyTbzqY
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Reportagem por  Francisco Taunay
Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/27/07/21012

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