quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Albino Luciani nasceu há 100 anos e a 26 de agosto de 1978 tornou-se João Paulo I, o «papa do sorriso»

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Casamento
A presença de noivos comove de maneira 
especial, porque a família é coisa muito importante. 
Eu uma vez escrevi um artigo no jornal 
e atrevi-me a gracejar, citando 
Montaigne, escritor francês, que dizia: 
"O matrimónio é semelhante a uma gaiola: os que estão fora, tudo fazem para entrar; os que estão dentro, tudo fazem para sair". 
Não, não, não. Porém, alguns dias mais tarde,
 chegou-me a carta dum velho diretor de estudos, que escrevera livros e me censurou dizendo: 
"Excelência, fez mal citando Montaigne. Eu e minha mulher unimo-nos há 60 anos e cada dia é como o primeiro dia". E citou-me um poeta francês, em francês, mas eu digo em italiano: "Amo-te cada dia mais: hoje, muito mais que ontem, mas muito menos que amanhã". Faço votos por que a vós suceda a mesma coisa.
Primeira audiência geral, 6.9.1978


Nasceu há 100 anos (17.10.1912) o cardeal italiano Albino Luciani, que a 26 de agosto de 1978 escolheu o nome de João Paulo I para suceder a Paulo VI.
Nos escritos que redigiu após a ordenação sacerdotal encontram-se «pontos de ligação com a cultura do seu tempo», ao mesmo tempo que se deixou guiar pelas fontes da Igreja.
«A tudo dá um cunho próprio, graças a um estilo rápido e vivaz e a uma comunicação fácil  que se funda principalmente na alocução simples, sóbria e modesta, singela e essencial,  adquirida em família e enriquecida com episódios e imagens, com modos discretos e reconhecimento sincero dos limites humanos que marcam inclusive a sua pessoa», sublinha o arcebispo italiano Vincenzo Bertolone em artigo publicado no jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano.
No dia 1 de setembro enviou uma carta ao legado pontifício ao Congresso Mariano do Equador. A personalidade escolhida: cardeal Joseph Ratzinger, então arcebispo de Munique e hoje papa Bento XVI.
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Com o cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI)
«Nós vos escolhemos, nomeamos e proclamamos Nosso Enviado extraordinário, e vos confiamos a missão de presidir a essas celebrações em Nosso nome e com a Nossa autoridade. Vós recomendais-vos pelo grande conhecimento que possuís da doutrina sagrada e, como é sabido, cultivais amor ardente pela Mãe de Cristo Salvador e nossa Mãe. Portanto, sem qualquer dúvida, ireis desempenhar a função que vos foi confiada com inteligência, prudência e bom êxito», sublinhava João Paulo I.
O «papa do sorriso», «papa humilde», «papa catequista», «papa pároco do mundo», «sorriso de Deus», que até esse sábado era patriarca de Veneza, foi encntrado morto no seu quarto a 28 de setembro, 33 dias depois da eleição.
Recordamos alguns excertos do seu pontificado e, em texto separado (cf. “Artigos relacionados”), apresentamos passagens de três audiências gerais, onde falou sobre a fé, a esperança e a caridade.
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Surpresa da eleição
Ontem de manhã fui para a Sistina votar tranquilamente. Nunca poderia imaginar o que estava para acontecer. Apenas começou o perigo para mim, os dois Colegas que estavam ao meu lado sussurraram-me palavras de coragem. Um disse: "Coragem! Se o Senhor dá um peso, concede também a ajuda para levá-lo". E o outro Colega: "Não tenha receio, em todo o mundo há tanta gente que ora pelo Papa novo". Chegado o momento, aceitei. Depois tratou-se do nome, porque é perguntado também que nome se quer tomar, e eu pouco tinha pensado.
Fiz então este raciocínio: o Papa João quis consagrar-me com as suas mãos, aqui na Basílica de São Pedro; depois, se bem que indignamente, em Veneza, sucedi-lhe na Cátedra de São Marcos, naquela Veneza que ainda está inteiramente cheia do Papa João [XXIII]. Recordam-no os gondoleiros, as Irmãs, todos. Depois o Papa Paulo [VI] não só me fez Cardeal, mas alguns meses antes, numa das pontes então colocadas na Praça de São Marcos, fez que me pusesse todo vermelho diante de 20.000 pessoas, porque levantou a estola e ma lançou sobre os ombros! Nunca me tinha posto tão vermelho! Por outro lado, em 15 anos de pontificado, este Papa mostrou, não só a mim, mas a todo o mundo, como se ama, como se serve, como se trabalha e como se sofre pela Igreja de Cristo.
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Por isso, disse: "Chamar-me-ei João Paulo". Eu não tenho nem "a sabedoria de coração" do Papa João, nem a preparação e a cultura do Papa Paulo. Estou, porém, no lugar deles e devo procurar servir a Igreja. Espero que me ajudeis com as vossas orações.
Angelus, 27.8.2012

Papa de «ânimo tímido mas cheio de confiança»
Pomo-nos inteiramente, com todas as energias físicas e espirituais, ao serviço da missão universal da Igreja, que o mesmo é dizer, ao serviço do mundo, isto é, ao serviço da verdade, da justiça, da paz, da concórdia, da cooperação no interior das nações e entre os povos. Exortamos, antes de tudo, os filhos da Igreja a tomarem consciência sempre mais clara da sua responsabilidade: Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo (Mt., 5, 13 ss). Superando as tensões internas, que aqui e além se puderam criar, vencendo as tentações de identificação com os gostos e costumes do mundo, e bem assim as atrações de um fácil aplauso, unidos no único vínculo do amor que deve informar a vida íntima da Igreja como também as formas externas da sua disciplina, os fiéis devem estar prontos a dar testemunho da própria fé diante do mundo: Sempre prontos a responder, para vossa defesa, a todo aquele que vos pergunte a razão da vossa esperança (1 Ped., 3, 15). (...)
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O humilde Vigário de Cristo, que, de ânimo tímido mas cheio de confiança, inicia a sua missão, está inteiramente pronto a servir a Igreja e a sociedade civil, sem qualquer discriminação de raças ou de ideologias, com o objetivo de que para o mundo nasça um dia mais claro e mais suave. Só Cristo pode fazer que brilhe a luz sem ocaso, porque é o "sol da justiça" (Cfr. Mal., 4, 2. ). Reclama, porém, o esforço de todos, e o Nosso por certo não faltará.
Primeira radiomensagem, 27.8.1978

Mandamentos
Um sujeito foi uma vez comprar um automóvel a um agente. Este fez-lhe um discurso: "Olhe que o automóvel é muito bom, trate-o bem. Sabe: gasolina 'super' no depósito; e nas junturas óleo do fino". O comprador respondeu: "Oh, não, fique sabendo, eu nem o cheiro da gasolina posso aguentar, e o do óleo também não; no depósito deitarei vinho espumante, de que tanto gosto, e as junturas untá-las-ei com marmelada". "Faça como quiser, responde o vendedor; mas não venha lamentar-se, se vier a parar num precipício com o seu automóvel". O Senhor fez coisa semelhante connosco: deu-nos este corpo, animado por uma alma inteligente, uma vontade boa. Disse: "É boa, mas trata-a bem, esta máquina". Eis os mandamentos: honrar pai e mãe, não matar, não se irar, ser delicado, não dizer mentiras, não roubar... Se fôssemos capazes de observar os mandamentos, andaríamos melhor nós e andaria também melhor o mundo.
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Ternura
Eu, sendo Bispo de Veneza, ia algumas vezes ao asilo. Uma vez encontrei uma doente, uma velhinha. — "Como está, senhora?". — "Bem, de comer bem. Calor.., aquecimento...: bem". — "Então está contente, senhora?". — "Não" — e pôs-se quase a chorar. — "Mas porque chora?". — "A minha nora, o meu filho não vêm nunca ver-me. Queria ver os netinhos". Não basta o calor, a comida, há o coração; é necessário pensar também no coração dos nossos idosos. O Senhor disse que os pais devíamos respeitá-los, amá-los, mesmo quando velhos. (...)
São duas as virtudes que temos de observar: justiça e caridade. Mas a caridade é a alma da justiça. É necessário querer bem ao próximo, o Senhor tanto no-lo recomendou. Eu recomendo sempre, não só as grandes caridades, mas também as pequenas caridades. Li num livro, escrito por Carnegie, autor americano, intitulado "A arte de fazer amigos", este episodiozinho: Uma senhora tinha quatro homens em casa: o marido, um irmão, e dois filhos grandes. Ela sozinha fazia as compras, ela lavava e passava a roupa, ela cozinhava, ela fazia tudo. Um domingo, entram eles em casa. A mesa está preparada para o almoço, mas no prato há só um punhado de feno. "Oh!", protestam e dizem: "Que é isto? Feno!". "Não, está tudo preparado, replica a senhora. Deixai que vos diga: esforço-me, vario os pratos, tenho-vos limpos, faço todos os ofícios. Nunca, nem uma vez dissestes: 'preparaste-nos um bom almocinho'. Dizei alguma coisa! Não sou de pedra. Trabalha-se de melhor vontade, quando se encontra reconhecimento". São as pequenas caridades. Na nossa casa, todos temos alguém que espera um cumprimento. (...)
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Com João Paulo II

Casamento
A presença de noivos comove de maneira especial, porque a família é coisa muito importante. Eu uma vez escrevi um artigo no jornal e atrevi-me a gracejar, citando Montaigne, escritor francês, que dizia: "O matrimónio é semelhante a uma gaiola: os que estão fora, tudo fazem para entrar; os que estão dentro, tudo fazem para sair". Não, não, não. Porém, alguns dias mais tarde, chegou-me a carta dum velho diretor de estudos, que escrevera livros e me censurou dizendo: "Excelência, fez mal citando Montaigne. Eu e minha mulher unimo-nos há 60 anos e cada dia é como o primeiro dia". E citou-me um poeta francês, em francês, mas eu digo em italiano: "Amo-te cada dia mais: hoje, muito mais que ontem, mas muito menos que amanhã". Faço votos por que a vós suceda a mesma coisa.
Primeira audiência geral, 6.9.1978

No século passado, viveu em França Frederico Ozanam, grande professor; ensinava na Sorbona, era eloquente, ótima pessoa! Era seu amigo Lacordaire, que dizia: "É tão excelente, é tão bom, far-se-á sacerdote e este chegará a ser grande Bispo!". Não foi assim. Encontrou uma jovem cheia de qualidades e casaram-se. Lacordaire não ficou satisfeito e disse: "Pobre Ozanam! Também ele caiu na armadilha!". Dois anos mais tarde, Lacordaire veio a Roma e foi recebido por Pio IX. "Venha cá, Padre — disse-lhe — venha. Sempre ouvi dizer que Jesus instituiu sete sacramentos; agora vem o Padre e troca-me as voltas: diz-me que instituiu seis sacramentos... e uma armadilha! Não, Padre, o matrimónio não é armadilha, é um grande sacramento!"
13.9.1978
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Em Fátima
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João Paulo I
© SNPC | 26.08.12

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